Biblioteca Pública celebra Dia Mundial da Arte com exposição inclusiva

por Isadora Abreu
Biblioteca Pública celebra Dia Mundial da Arte com exposição inclusiva

Acesso de pessoas com deficiência à arte é um direito assegurado por lei; Conheça projetos que promovem inclusã0 no espaço cultural

Por Isadora Gomes de Abreu | Foto: Sandra Marchi

A Biblioteca Pública do Paraná celebra o Dia Mundial da Arte, comemorado em 15 de abril, com uma exposição feita por pessoas com deficiência visual. A data também é marcada pelo alerta de artistas e educadores sobre a necessidade de inclusão no universo cultural. 

Exposições, museus e diversos espaços artísticos, da forma que são projetados atualmente, podem acabar excluindo diversos grupos sociais. Esse problema não se estende somente aos visitantes e apreciadores, mas também aos artistas, que acabam encontrando mais obstáculos para ocuparem esses espaços e receberem reconhecimento pelo seu trabalho, ganhando visibilidade além da deficiência. 

Ana Clara ao lado de suas obras na exposição See Color: Arte para todos, ela está de pé usando uma camiseta preta e tem cabelo castanho. (Foto: Suely Teixeira)

Ana Clara dos Santos tem 13 anos e está participando de sua primeira exposição, See Color: Arte para todos, que está acontecendo na Biblioteca Pública do Paraná, até o dia 22 de abril. Ana começou a colorir seus desenhos com a ajuda de lápis com braille e hoje usa o sistema See Color para expressar sua criatividade. A jovem artista despertou seu interesse nas aulas de arte da escola e começou a procurar outras alternativas de cursos também fora do horário escolar.

Ana, que sonha em seguir no caminho das artes como estilista de moda, diz que se sente muito feliz em participar da exposição e receber o reconhecimento por seu talento. A estudante relembra uma visita ao Museu Oscar Niemeyer, onde pôde sentir as esculturas através do tato, e ressalta a importância das adaptações para acessibilidade de pessoas com deficiência visual. 

Dois desenhos da exposição, a direita um coqueiro a frente de um mar azul com um barco amarelo e a esquerda um pássaro azul. (Foto: Sandra Marchi)

A participação de pessoas com deficiência nas diversas etapas do processo artístico está prevista na Lei Brasileira de Inclusão (n° 13.146, de 6 de julho de 2015), estabelecendo o direito de acesso à cultura de forma igual a todas as outras pessoas e a necessidade de formatação de bens culturais e artísticos de forma acessível.

Em 2010 o IBGE registrou cerca de 46 milhões de pessoas com alguma deficiência, sendo a visual a mais alta entre elas. Incluir essas pessoas no mundo artístico é trazer acessibilidade, responsabilidade social e qualidade de vida.

 

Ações de arte inclusiva em Curitiba:

See Color

O projeto See Color foi desenvolvido pela artista visual Sandra Marchi, doutora em mecânica, para atender a pessoas com deficiência visual. O método permite a identificação das cores por meio do sentido do tato, utilizando formas e texturas. Durante o doutorado em engenharia mecânica na UFPR, Sandra teve a oportunidade de participar do desenvolvimento tecnologias assistivas – desenvolvidas para pessoas com alguma deficiência – e, assim, resolveu se aprofundar mais nas tecnologias desenvolvidas para pessoas com deficiência visual.

“A pessoa com deficiência visual tem uma vida quase completamente independente. Eles fazem quase tudo sozinhos, são quase independentes, exceto por um item, que aí eles são dependentes, que é a cor” diz Sandra. Motivado por trazer a cor para o dia-a-dia dessas pessoas, o projeto See Color deu asas à criatividade de alunos de escolas da região através de kits pedagógicos e orientação das educadoras artísticas. Sandra diz que é impressionante ver o quanto os alunos se dedicam e gostam de trabalhar com arte. 

Estudante de direito, Ricardo Belini foi diagnosticado com ceratocone e Distrofia de cones e bastones. Ele conheceu o sistema See Color através de uma colega e, desde então, vem lutando para divulgação da linguagem tátil e projetos de leis para incluí-la em escolas e universidades “Empatia é só uma palavra, se não está acompanhada de ações”, defende o estudante. Ele acredita que lutar pela autonomia e divulgar informação são maneiras de dar visibilidade às pessoas com deficiência.

Ricardo também destaca a importância das tecnologias de audiodescrição e projeção de imagem para a visitação de exposições e museus. “Com as ferramentas de acessibilidade, tenho independência para fazer quase tudo que uma pessoa que enxerga normalmente faz”, diz Ricardo.

 

OSC Inclusive nas Artes

A OSC Inclusive nas Artes, de Curitiba, começou com peças teatrais com pessoas com Síndrome de Down. A organização hoje oferece um espaço para que pessoas com diversas deficiências possam praticar artes cênicas, visuais e também na música. Para a educadora artística e diretora do Inclusive nas Artes, Adriana Villar, incluir a arte no dia-a-dia de pessoas com algum tipo de deficiência promove um impacto no autoconhecimento e na conexão intrapessoal, promovendo um momento de alegria e descoberta. Adriana também relata que esses momentos permitem que os beneficiados carreguem com eles uma sensação de bem estar em toda a sua rotina. 

Adriana concorda que o principal caminho para a inclusão de pessoas com deficiência começa com a empatia e o conhecimento. A educadora artística acredita que mais empresas podem abraças a arte e a cultura além do incentivo fiscal, reconhecendo o quanto a diversidade pode ser benéfica aos espaços. E, falando sobre a visitação a espaços artísticos como admiradores da arte, a diretora do projeto acredita que é importante que se quebrem barreiras na sociedade muito maiores do que as barreiras físicas ou arquitetônicas: as barreiras de atitude e preconceito.