Agora esportes olímpicos, beisebol e softbol têm pouca estrutura em Curitiba

por Ex-alunos
Agora esportes olímpicos, beisebol e softbol têm pouca estrutura em Curitiba

Jogadores e técnicos do esporte relatam dificuldades

Por Débora Dutra e Leticia Garib

Recém-incluídos no rol de modalidades olímpicas, beisebol e softbol, esportes populares nos Estados Unidos, Cuba e Japão, não são muito conhecidos e enfrentam dificuldades no Brasil. Até há confederação, ligas, campeonatos e torneios para todas as idades – em Curitiba, por exemplo, existem três agremiações profissionais das modalidades: Nikkei Clube de Curitiba, Paraná Clube e Central Glória. No entanto, a falta de investimento e visibilidade dificulta a sobrevivência de times, técnicos e jogadores.

Os esportes foram reinseridos na lista de modalidades olímpicas para as Olimpíadas de 2020, em Tóquio. Eles foram competidos olimpicamente até 2008 e retirados nas Olimpíadas de 2012, em Londres; e de 2016, no Rio de Janeiro.

O técnico da Seleção Brasileira de Softbol, Milton Fatoshi Konno, conhecido como Barão, é também treinador do time de softbol do Nikkei Clube de Curitiba. Ele afirma que, em 2008, quando beisebol e softbol ainda eram esportes olímpicos, não houve aumento na procura pelos times em Curitiba, mas diz estar na torcida para que isso aconteça nos próximos anos.

Para o técnico a situação poderia ser melhor se os professores de Educação Física ensinassem os esportes nas escolas. Ele relatou que é difícil conseguir patrocínio e os times são apoiados pelos pais dos atletas financeiramente e com trabalho voluntário. “Como técnico recebo apenas uma ajuda de custo para pagar o combustível do carro”.

Konno conta ainda que, apesar de o beisebol ser mais conhecido popularmente em Curitiba, o softbol brasileiro tem mais visibilidade no meio esportivo. Para conseguir novos jogadores, os times investem em categorias de base e busca nas escolas. Ele acredita que o ideal seria que os atletas iniciassem a carreira com sete anos de idade e competissem em torneios nacionais até chegar a liga profissional.

Barão conta que ganhou o apelido quando ainda era jogador de beisebol, na época a moeda utilizada no Brasil era o Cruzeiro. Em sua luva estava gravado o nome Milton que, com o tempo, apagou e ficou apenas Mil. Como a nota de 1000 cruzeiros era ilustrada com a figura do Barão do Café, os colegas de equipe começaram a chamá-lo de barão e hoje ele é conhecido internacionalmente por este apelido.

Mapa: veja onde praticar os esportes em Curitiba

Falta de investimento prejudica times e atletas

A jogadora da Seleção Brasileira de Softbol e do time Central Glória de Curitiba Bárbara Woll, relata como é difícil ser jogadora profissional do esporte em Curitiba. “A maior dificuldade é ter que considerar o esporte que crescemos praticando, aquilo que mais amamos fazer, apenas como um hobbie”, afirma.

A jogadora começou a trilhar a carreira dentro do softbol com 11 anos, e, após tantos anos competindo pelo Brasil, acha triste que a modalidade esteja desaparecendo por falta de espaço e investimento do governo. Barbara relata que as atletas treinam apenas aos finais de semana porque estudam e trabalham nos outros dias. O seu time, Central Glória, utiliza um estádio público no Complexo do Iguaçu, no bairro Uberaba, em Curitiba, conhecido como Peladeiro, no qual as reformas necessárias são bancadas pelas próprias jogadoras.

“Na Seleção, a maioria das meninas mora em São Paulo; então, precisamos treinar lá para ficar mais fácil. Existe o ‘CT YAKULT’, que deveria ser para os treinamentos das seleções de Beisebol e Softbol, mas, por algum motivo que não sabemos, nunca tem campo para treinarmos. Então, contamos com a colaboração de outros clubes para que possamos treinar no campo deles”, diz Barbara. “Fora as despesas para as meninas que se deslocam de outras cidades para treinar em São Paulo. Saem sempre do bolso das próprias atletas”, acrscenta.

A atleta acredita que o esporte, em geral, ajuda muitas pessoas a mudarem a  realidade e, por isso, sonha em fazer com que o softbol se torne visível no Brasil. A situação de muitas atletas, assim como a de Barbara, é não ter dinheiro para financiar as viagens para os jogos e, por isso, a maioria delas acaba sendo substituída se não puderem custear a locomoção.

Apesar das dificuldades, Barbara conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade nos Estados Unidos e, hoje, reside no país para estudar e continuar jogando. “Aquele sonho de um dia ser reconhecido pelo esporte em que mais ama jogar, infelizmente falta muito pra isso acontecer no Brasil, que só se tem olhos para o futebol”.

Conheça a Liga Curitibana de Beisebol

O diretor de beisebol e softbol da Liga Curitibana de Beisebol, Charles Trevisan, afirma que, justamente pelas dificuldades, a liga foi criada para incentivar a prática dos esportes em Curitiba, resgatar atletas aposentados e fomentar as categorias de base. A liga organiza jogos para atletas de 16 a 60 anos.

Trevisan relata que a Federação Paranaense de Beisebol e Softbol (FPrBS) recebe uma pequena verba para custear os gastos dos times com os campeonatos nacionais, mas o incentivo ainda é muito pequeno e os esportes são praticados no Paraná majoritariamente como parte de projetos sociais. O diretor acredita que a maior visibilidade é alcançada através dos canais de TV fechada, que exibem campeonatos internacionais, como o World Classic, uma copa mundial de beisebol.

A Liga Curitibana monta o calendário de partidas com base nos outros campeonatos, para que os jogos não aconteçam nas mesmas datas. Para arrecadar fundos, a Liga organiza almoços de domingo, após os jogos, para custear técnicos, equipamentos e viagens para os times.

Porém, quem busca por informações sobre os times de Beisebol e Softbal no Paraná, não pode contar com o site da Prefeitura de Curitiba. Na editoria de Esporte, Lazer e Juventude há uma página reservada ao beisebol sem nenhum dado disponível.

Beisebol e Softbol já têm mais de 80 anos de história no Paraná*

  • 1933 – Em Cornélio Procópio (colônia central) e Londrina, foram registrados os primeiros times de beisebol fundados no estado. O esporte trazido por imigrantes japoneses que, no início, se estabeleceram em cidades no norte do estado: Guapirama, Assai, Maringá, Curitiba e Londrina, para depois se espalharem para outros municípios do estado.
  • 1948 – Fundação a Liga Desportiva Norte Paranaense e no sul do estado era fundada a Associação Esportiva Nipo-Brasileira, que mais tarde passou a se chamar Associação Curitibana de Beisebol e Softbol (ACBS).
  • 1954 – Realização o primeiro campeonato oficial de Curitiba.
  • 1955 – Fundação da Federação Paranaense de Beisebol e Softbol (FPrBS).
  • 1978 –  Inauguração do Estádio Municipal de Beisebol, em Curitiba. Na época, a Prefeitura teve uma iniciativa para promover a inclusão social para meninos e meninas carentes através do esporte na capital paranaense.

* Fonte: Atlas do Esporte