Anvisa e governo divergem sobre liberação de emagrecedores

por Ex-alunos
Anvisa e governo divergem sobre liberação de emagrecedores

Medicine is pill and capsule on wood spoon with copy space on wood table. top view.

Mais da metade da população No Brasil possui sobrepeso

Por Bruno Talevi e Gabrielly Zem 

A Presidência da República sancionou uma lei em junho de 2017,  liberando a prescrição, manipulação e venda dos remédios emagrecedores no Brasil. No continente Europeu, nos Estados Unidos e em vários outros países a comercialização desses medicamentos continua proibida.

Em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização de anfepramona, femproporex e mazindol alegando que os medicamentos trazem grandes riscos à saúde podendo prejudicar os sistemas cardiovascular e neurológico. A Anvisa também alertou sobre a possibilidade de dependência e afirmou que os benefícios são limitados.

No Brasil, mais da metade da população possui sobrepeso, e a obesidade já atinge 20% dos adultos. Este cenário faz com que cada vez mais pessoas busquem por métodos de emagrecimento que mostrem resultados em um curto período de tempo.

Organizações de saúde divergem

Para a Anvisa a liberação dos remédios é um equivoco, pois cabe somente à ela a regulação e análise técnica sobre a qualidade, segurança e eficácia de cada produto. O congresso não teria capacidade de fazer essa pesquisa por si próprio, nem requerimentos técnicos para autorizar a comercialização de um medicamento.

Segundo informação da subdivisão local da Anvisa, a anfepramona já está sendo distribuída pelos fornecedores para todo Brasil. O farmacêutico Marcio Paul é responsável por uma farmácia de manipulação, e conta que a sede em que trabalha já recebeu esta matéria-prima, mas está lacrada, sem previsão de venda ou comercialização, esperando a permissão da Vigilância Sanitária. Paul explica que a sibutramina já está liberada e o femproporex, ainda não tem previsão de chegada no Brasil.

Em nota emitida antes da liberação, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foram contra a decisão e apoiavam que o presidente Temer vetasse a venda por acreditarem que a sibutramina, a anfepramona, o femproporex e mazindol poderiam trazer riscos cardiovasculares sem comprovação para o controle da obesidade e peso corporal. “Esses derivados das anfetaminas são substâncias psicoativas que prejudicam o sono. Medicamentos têm papel complementar no tratamento do sobrepeso, que deve ser baseado no apoio nutricional, pedagógico e psicológico para que o paciente possa alterar os hábitos”. As organizações também defendem a autonomia da Anvisa contra “interesses e lobbies governamentais, empresas, corporações e poderes econômicos das empresas farmacêuticas e prescritores que lucram com a produção”.

Já a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que era a favor dos medicamentos desde a proibição original pela Anvisa, defende o uso dos medicamentos. Para o grupo, as mais prejudicadas são as pessoas obesas de baixa renda, que, por não poderem comprar opções caras, têm de recorrer a tratamentos alternativos ao perda de peso, como remédios sem prescrição e controle e o uso do contrabando. O presidente da Sociedade e médico, Ricardo Meirelles, afirma que o uso é justificável e útil em casos que os benefícios superem os riscos. “A SBEM é contra o uso indiscriminado, mas banir esses medicamentos deixaria uma parcela de pacientes obesos desassistidos”.

Outro aspecto tocado pela Sociedade foram os argumentos considerados para a proibição da Anvisa. Segundo diretriz produzida e enviada no período de análise dos medicamentos pela agência, a sibutramina seria contraindicada para pacientes cardíacos, conforme consta na bula. O médico completa: “Extrapolar esses resultados para grupos sem problemas cardiovasculares não tem respaldo científico”. Ele finaliza afirmando que o grupo de endocrinologia deveria ser mais ouvido nesse tipo de decisões pela Anvisa e reuniões de regulamentação.

Bruna TotiOs efeitos colaterais afetam áreas específicas do cérebro. Os efeitos colaterais afetam áreas específicas do cérebro.

Os anorexígenos inibem o apetite agindo no sistema nervoso central, em outras palavras, essa substância química manda uma mensagem de saciação ao cérebro. Esses medicamentos podem causar efeitos colaterais variando de acordo com o tempo de uso e do organismo de cada pessoa. Entre os sintomas que eles podem causar encontram-se:  humor instável, dor de cabeça, depressão nervosa, irritabilidade, dentre outros prejuízos mais graves à saúde.

Bruna Toti

Os principais anorexígenos causam efeitos colaterais além dos benefícios de perda de peso.

Os principais anorexígenos causam efeitos colaterais, além dos benefícios de perda de peso.

Para a nutricionista Michelly Bohnen, o único caminho para o emagrecimento é a reeducação alimentar, ‘’todo caminho que for mais rápido e curto acarretará em efeitos colaterais’’. Segundo ela, medicamentos são drogas e mesmo que tragam vantagens a curto prazo os riscos de recuperar o peso ao interromper o uso são grandes.

Valorizar a importância do farmacêutico

Pós graduada em manipulação magistral, Tânia Silva explica que a venda de emagrecedores é baseada em receita médica, ou profissional habilitado, conforme a legislação específica, podendo este ser o próprio farmacêutico, de acordo com a Resolução 586/2013 do Conselho de Farmácia. Para ela é preciso que todos os pacientes sejam bem atendido pelo prescritor pois ‘’cada medicamento é único, manipulado conforme as necessidades específicas de cada faixa etária e principalmente com a existência de problemas de saúde específicos, como pressão alta, diabetes, insuficiências de diversos graus de fígado e rim.’’

Tânia comenta que ao prescrever medicamentos emagrecedores é preciso seguir uma série de  normas e orientações, tais como: o paciente já ter falhado muito na perda de peso de forma natural, possuir índice de IMC definido ou problemas de saúde.  A indicação também deve ser feita especificando um tempo de uso, sem abusos. No entanto, muitos nutracêuticos são de venda livre, ou seja, não precisam de prescrição, tais como colágeno, gelatina e spirulina.

Uma carta na manga

Outra substância que tem como função auxiliar no emagrecimento é a sibutramina. Liberada no Brasil há mais de seis anos, os remédios a base da substância é utilizado, principalmente, para o tratamento da obesidade. Porém, com cinco quilos acima do que considerava ideal, a psicóloga Maria* tomou o primeiro remédio à base de sibutramina 12 anos atrás. O uso começou a ser feito após uma consulta com um endocrinologista, que a fez perder os cinco quilos em um mês e sem efeitos colaterais relevantes.

Além do remédio, uma reeducação alimentar foi inserida na rotina da psicóloga e sua filha também passou a fazer uso do medicamento. Na segunda vez que Maria recorreu à sibutramina, teve problemas com insônia e intestino preso. “A gente entende que a sibutramina, para nós, é como se fosse uma carta na manga. Se a gente passou muito do peso, sabemos que tem essa carta na manga”. Mesmo sendo usuária do medicamento, Ana não indica o uso do remédio pois só recorre à ele em situações específicas.

Descubra se você tem os sintomas de transtornos alimentares

A escolha de emagrecer pode estar atrelada a pressão de se encaixar no padrão de magreza imposto pela sociedade, bem como melhorar a saúde. É importante buscar o profissional correto para cada situação, tratando do corpo e da mente, para que nenhum dos dois seja prejudicado no processo de emagrecimento. Os transtornos alimentares mais comuns são a anorexia e a bulimia, ambos causam emagrecimento severo, altamente prejudicial à saúde. Faça o teste abaixo e descubra se você tem indícios de transtornos alimentares, mas lembre-se de procurar um médico.