Curitiba já tem 72 espaços de economia colaborativa

por Ex-alunos
Curitiba já tem 72 espaços de economia colaborativa

Cidade é sede de ideias e negócios que fogem do senso comum; conheça algumas


Por Bruna Kurth

Curitiba tem 72 espaços e movimentos colaborativos inspirados na Economia Criativa, tendência de mercado que visa o consumo e a produção consciente. A cidade é a segunda do Brasil que mais atrai e retém talentos nesse campo, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O economista Luciano Garcia afirma que os jovens da Geração Y-Millenium (nascidos depois da década de 1990) não se contentam com modelos de produção tradicionais e buscam espaços que oferecem mais liberdade de horários num ambiente mais plural. Estes profissionais buscam um espaço de trabalho dinâmico, onde seja possível juntar o financeiro com o solidário, o social com o político, o cultural com o global e a tecnologia com o meio ambiente.

É neste panorama que as casas colaborativas e os coworkings ganham espaço e visibilidade. A jornalista e fundadora do site Uhbzurv (portal que pesquisa que mapeia e conecta iniciativas de Economia Colaborativa na cidade), Caroline Bond, explica que casas colaborativas podem abrigar espaços de coworking,  mas que nem todos os coworkings são, de fato, colaborativos. “Muitos projetos imobiliários pegaram a onda da colaboração e estão alugando ou vendendo empreendimentos de escritórios e anunciando como coworking. A colaboração vai mais além, demanda um trabalho em rede onde cada envolvido participa ativamente de todo o processo”.

Estes espaços são oportunos para quem busca desenvolver produtos e serviços, trocar ideias e experiências, ou formar parcerias com outros colaboradores e coworkers. A maneira de conduzir os negócios é mais descontraída, os empreendedores criativos prezam por harmonia e sinceridade.

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Fundadoras do espaço Das Nuvens. Da esquerda para a direita, Karla Keiko, Anni Hirami e Bruna Fronza de Camargo. | Foto: Mariana Alves

A criativa e produtora cultural, Karla Keiko – uma das idealizadoras do espaço Das Nuvens, que cataliza potências criativas em Curitiba –  conta que, no momento de receber um novo residente, o que vale é a energia transmitida. “Sempre deixamos uma coisa bem clara: nossa regra é a sinceridade acima de tudo, mantemos um diálogo muito aberto com todos, dizendo o que tem que ser dito na hora certa e com carinho, e esperamos a mesma atitude dos residentes”.

É necessário ressaltar, no entanto, que tais critérios de aceitação podem variar de uma casa para a outra. Na Casa Solimões 541, a “dinâmica da ocupação é bem simples, a casa é literalmente aberta, qualquer pessoa pode entrar e usufruir desses espaços”, explica o fundador Filipe Küster.

Uma Economia inovadora e sustentável

A Economia Criativa tem como diferencial não apenas a forma de consumo ou estratégias inteligentes e criativas de negócios, mas também princípios que visam a sustentabilidade, que vão desde os modos de convivência e organização até projetos que reaproveitam materiais para novas criações, utilizando técnicas que evitam o desperdício e diminuem a agressão contra o planeta.

Para o estilista Henrique Cabral, fundador da Casa Base , um espaço para experimentação e prototipação de novos negócios, “hoje em dia é crescente o número de consumidores que buscam consumir não apenas bons produtos ou serviços, mas também de empresas cuja responsabilidade seja mais ampla, integrando sociedade e meio ambiente”.

No dia a dia do espaço colaborativo Das Nuvens, Karla conta que, por gerarem um projeto independente em arte e cultura, a sustentabilidade não pode ser ignorada. “Já a abraçamos como um desafio presente em todas as partes da nossa vida. Compramos bens de produtores locais e de preferência orgânicos, ressignificamos muita matéria antes considerada lixo, temos uma biblioteca de coisas (onde você pode usar máquinas de costura, de escrever e de fotografar), propomos eventos e feiras de consumo consciente e recriamos a realidade de quem passa por aqui, mostrando que é possível viver mais e melhor”.

A artista plástica Sarah Bauer conta que o espaço colaborativo atendeu às suas necessidades profissionais, pois “proporciona o desenvolvimento do diálogo, do respeito e de saber lidar com pessoas completamente diferentes de você”. Sarah ainda reforçou que o modelo é ideal para este momento econômico em que as pessoas não se adaptam mais ao formato de trabalho de oito horas diárias durante 25 anos na mesma empresa e rotina.

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Objeto de decoração criado a partir do reaproveitamento de materiais. | Foto: Mariana Alves

Organização financeira e criativa

Dentro deste sistema colaborativo, a administração financeira de gastos e consumos foge um pouco do sistema capitalista regular. Na Casa Base, Cabral explica que os colaboradores adotam princípios baseados na circulação de valores de diferentes origens (monetária e não monetária). “Tudo é avaliado de acordo com os interesses do ecossistema, da Casa, ou de seus parceiros”.

A dinâmica financeira desses espaços nem sempre equivalem a moeda real de troca ou, literalmente falando, ao dinheiro vivo. No espaço Das Nuvens, existem pacotes com valores distintos para o uso da casa, que vão de R$ 35 a diária até R$ 330 por mês. “Mas o melhor é ver esse povo unido, inventando juntos, cocriando histórias, produzindo e colaborando. Quando precisamos de alguma ajuda, algum aparelho (projetor, máquina de café expresso, caminhonete, etc), uma mãozinha pra derrubar uma parede ou carregar algumas toneladas, o mesmo se dá na outra via, quando auxiliamos amigos e projetos nos quais acreditamos e queremos ver crescer”, conta a produtora.

Economia Criativa: o modelo do futuro?

Segundo a consultora especialista em Economia Criativa do Paraná em Rede (Redec), Patrizia Bittencourt Pereira, a Economia Criativa é fundamentada sobre fazer coisas que já eram feitas, com a diferença de que “agora, mais conectados, a criatividade, o conhecimento, a cultura e os ativos intangíveis agregam valor, se sobressaem e diferenciam nossas maneiras de produzir, distribuir e consumir”. Dessa forma, reforça a importância de pensar nessas estratégias criativas como um novo motor – feito de valores e não apenas de motivações financeiras – na sociedade. Assim, a inovação promete uma nova economia pós digital em rede, inteligente e humana.

Para Karla esse é modelo do presente, pois já estamos vivenciando-o. “O melhor dessa nossa geração é: somos por essência proponentes, fazedores de coisas. A ação está ao nosso alcance em todas as áreas imagináveis. Além disso, podemos gerar conteúdo, podemos ser a mídia, e ainda estamos engatinhando. No futuro estaremos voando”.

Mas, e quantos as oportunidades e desafios da Economia Criativa em Curitiba? Para Patrizia, a cidade se mostra um berço importante na cena nacional e internacional. “Uma nova gama de empreendimentos culturais e criativos autênticos despontam desponta na cidade, em vários setores. Oportunidades são também geradas quando há um novo um novo olhar sobre as coisas, quando buscamos autenticidade e originalidade do que fazemos, quando nós nos abrimos a novas possibilidades, as oportunidades aparecem para todos”.