Ensino superior sofre com queda no número de alunos

por Ex-alunos
Ensino superior sofre com queda no número de alunos

Setores como transportes e alimentação influenciam decisão por evitar a universidade

Por Gabrielly Zem

O Ensino Superior sofreu uma redução no número de alunos nos últimos anos. Mais de um milhão de estudantes deixaram de frequentar universidades por todo o Brasil em 2016, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em comparação com 2013, esse dado representa um aumento de 25% de matrículas trancadas.

A Hoper Educação divulgou um cálculo realizado com base em informações coletadas pelo Ministério da Educação (MEC) que as faculdades particulares terão 500 mil calouros a menos em dois anos.

Números do Inep também mostram que essa crise no Ensino Superior não afetou apenas as universidades privadas. A pesquisa indica que apenas 50,1% das vagas das faculdades municipais estão preenchidas, as estaduais chegam a ocupar 84% de suas vagas e as federais 90,1%. Os altos custos das universidades privadas fazem com que elas caiam nesse ranking, possuindo apenas 37,8% de suas vagas preenchidas.

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O economista Adriano Severo explica como a crise que se instaurou no país em 2014 está influenciando na queda do número de estudantes no Ensino Superior. ‘‘A renda das pessoas está centrada em despesas básicas, como alimentação, transporte e quitação de dívidas. Os preços dos produtos se elevaram muito nos últimos anos — e essa queda é um reflexo de que as pessoas não tem condições de pagar’’.

Segundo Severo, é preciso levar em conta não apenas o valor da mensalidade, pois gastos com transporte, alimentação, materiais de estudo e livros não podem ser excluídos.

Para o economista, a questão central é que os altos custos das universidades as deixam fora da realidade financeira de parte da população, fazendo com que o ensino superior acabe sendo fortemente afetado. “A qualidade no Ensino Básico está direcionada somente a quem tem dinheiro. Isso acaba refletindo nas pessoas que estão aptas a ingressarem nas universidades”.

Severo também cita a precarização do transporte público e a falta de segurança pública como fatores que influenciam na diminuição de alunos nas faculdades. “Ninguém quer ficar horas esperando o transporte, mais um tempo longo no trajeto e ainda correr o risco de ser assaltado”, aponta.

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Evasão também é alta

O Censo da Educação Superior, realizado pelo Inep em 2015, estima que 49% dos alunos que ingressam em universidades não permanecem no curso inicialmente escolhido, e apenas 29,7% concluem os estudos.

Nathália de Barros, 18 anos, frequentava uma universidade privada e desistiu da sua primeira opção de curso. No caso dela, diversos fatores influenciaram a decisão, mas os principais foram a falta de identificação com a área escolhida e os altos custos da faculdade. Além da troca de curso, Nathália decidiu procurar um cursinho e fazer o vestibular novamente, agora ela busca uma vaga em uma universidade pública.

Acompanhando o ritmo da crise e o seguimento da queda da busca por universidades, tem crescido a procura por programas como Jovem Aprendiz, que visam a empregabilidade da juventude. Dados do Espro (Ensino Social Profissionalizante), que atua com programas de inserção do jovem, apresentam um aumento de 21% na admissão de adolescentes no período 2014-2015. A inscrição no programa compreende duas fases: a formação técnico-profissional (ou seja, a frequência ou conclusão do ensino médio) e a ingressão no mercado de trabalho com registro em carteira. Segundo a Lei do Aprendiz, empresas de médio e grande portes devem contratar de 5 a 15% do seu quadro efetivo de funcionários na modalidade de Aprendizes.

 

Quanto custa a aprovação?

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Com a crise política e financeira que se alastra pelo país, alguns gastos são colocados em segundo plano. Os alunos tentam contornar os valores altos que envolvem o período do pré-vestibular, tais como a mensalidade do cursinho pré-vestibular, transporte e alimentação.

Os números de 2017 mostram um aumento nas taxas de inscrição de processos seletivos, como o Enem, que passou de R$ 68, em 2016, para R$ 82 este ano. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o reajuste levou em consideração a variação de preços do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), como reavaliou alguns itens que foram deixados de lado em edições passadas da prova.

A média do valor da inscrição dos vestibulares é de R$ 140, segundo o Inep, mas algumas provas do curso de Medicina podem custar R$ 300. A aluna de Medicina Júlia Kreutz critica o valor da inscrição e ressalta a desigualdade que ela causa.”Eu acho um absurdo a quantia que paguei para fazer as provas, além da diferença de preço entre medicina e os outros cursos, principalmente medicina que já é considerado “elitista”, isso tira a chance das pessoas continuarem tentando o vestibular”, afirma Júlia, que chegou a gastar mais de R$ 1,5 mil em inscrições de vestibular em um ano.

Alguns alunos têm evitado gastar com inscrições de vestibulares de instituições em que não se tem a intenção de cursar, como é o caso do estudante Bruno Lopes, que deixou de fazer os vestibulares de inverno devido ao custo da taxa de inscrição.

O educador financeiro Adriano Severo ressalta a importância de um planejamento financeiro nessa época. “Calcular quanto irá precisar gastar tanto na mensalidade quanto no que envolve os estudos, como transporte, alimentação e livros. Com o cenário não muito otimista o ideal é evitar financiamentos e pagar somente o que cabe o orçamento”, aconselha Severo.

Estudo não está preso no colégio

Para fugir do gasto com a mensalidade do cursinho pré-vestibular, uma opção é estudar em casa. Por motivos financeiros, o estudante de Medicina Thiago Picussa optou por estudar em casa ao invés de fazer mais um ano de cursinho. Essa decisão, ao contrário do que muitos pensariam, levou à aprovação do estudante no vestibular. Para ele, os anos de cursinho foram importantes para aprender a base, mas os aprendizados que ele teve ao estudar em casa foram importantes para seu amadurecimento.

Para quem pensa em trocar o cursinho pelos estudos caseiros, Thiago alerta sobre a necessidade de se ter responsabilidade. “Primeiro deve-se ter consciência que você irá fazer seus horários e você deverá cumpri-los. Isso não é um tarefa muito simples e demanda bastante responsabilidade, pois é muito mais fácil você procrastinar estando em casa”.

Thiago ainda dá algumas dicas para os vestibulandos, “valorize seu tempo de estudo e mantenha sua saúde física e mental sempre em boas condições. Não adianta ter todo o conhecimento do mundo e não conseguir se concentrar efetivamente na hora da prova.” O estudante conclui dizendo que estudar em cursinho ou em casa, fazendo várias provas ou não, é importante prezar pelo equilíbrio do corpo, da mente e do bolso.

Cursinho Solidário é opção

Outra saída é o Cursinho Solidário, ótima opção para quem não tem condições financeiras de arcar com a mensalidade, já que não há taxa mensal para as aulas. Para ingressar no Cursinho Solidário é necessário que o aluno tenha renda de até um salário mínimo por pessoa na família, esteja cursando ou já tenha concluído o ensino médio em colégio público ou particular com bolsa integral, além de passar por um processo seletivo. As sedes do Cursinho Solidário ficam no Positivo (Av. Sete de Setembro, 4228) e na UTFPR (Av. Sete de Setembro, 3165).