Fazenda aproveita dejetos dos animais para produzir biogás, no Paraná

por Gisele Passos
Fazenda aproveita dejetos dos animais para produzir biogás, no Paraná

A Granja São Pedro Colombari é pioneira no abastecimento de energia no Brasil

Por Natalia Filippin

A Granja São Pedro, localizada em São Miguel do Iguaçu, Oeste do Paraná, é pioneira no abastecimento de energia no Brasil, por meio do biogás no sistema de geração distribuída. A propriedade é diversificada, contando com quatro atividades: suinocultura (terminação); pecuária (engorda), agricultura e geração de energia elétrica. José Carlos Colombari é suinocultor e idealizador de todo esse trabalho. No início desse processo ele não sabia o que fazer com os dejetos dos animais, que eram um grande problema de odor e espaço em sua fazenda.

A fazenda possui 250 hectares de área, contando a agricultura, sendo 25 hectares de pastagem. São cinco mil suínos no sistema de terminação, realizando três ciclos e venda de aproximadamente 16 mil animais por ano, com peso médio de 125 a 130 quilos.

Foco na sustentabilidade

Fernanda S. Colombari de Almeida, Tecnóloga em Alimentos, com mestrado em Tecnologia em Alimentos, é filha de José Carlos. Para ela, a granja uniu o útil que é produzir, com o agradável que é o meio ambiente. “A gente consegue dar um destino correto ao efluente produzido pelos animais. O retorno com o uso do biogás e do biofertilizante é gratificante, e o maior beneficio não é o reconhecimento, mas sim o bem estar! Focamos muito na sustentabilidade, toda produção de grãos é utilizada na alimentação dos suínos e bovinos.”

Com o biodigestor, o odor dos dejetos e a quantidade de moscas sumiram em mais de 90%, fator que além de evitar o incômodo também impede problemas sanitários.

A granja São Pedro é uma propriedade familiar, composta por José Carlos, o pai dele, a esposa, os dois filhos e a nora e o genro. Além da família, conta também com mais nove funcionários. “A geração de energia elétrica através do biogás, embora não gere uma renda fixa, nos garante um retorno que é a compensação da conta de luz. Nós conseguimos zerar o gasto da nossa conta mensal de energia”, relata Fernanda.

Suínos

Os animais chegam à granja com no máximo 25 quilos, permanecem por cerca de 110 dias, e saem da granja para o abate com aproximadamente 130 quilos.

Natalia 3

O aumento de biogás no verão se deve ao aumento da temperatura, fazendo com que as bactérias responsáveis pela biodigestão produzam mais gases.

Bovinos

Os animais são comprados de parceiros da região, vão para o pasto engordar até cerca de 450 quilos e aí vão para o confinamento, onde engordam de 550 a 600 quilos. Estes animais permanecem na propriedade por no máximo dois anos, aí seguem para o abate visando atender o mercado de carnes da região.

Natalia 4

O que é Biomassa?

A biomassa, principal fonte para o biogás, é considerada um resíduo sólido, sendo encontrada de diversas formas, como: restos de alimentos, resíduos de madeira, palha do arroz, bagaço da cana de açúcar e esterco de animais. Na geração de energia do biogás, ocorre a conversão da energia química do gás em energia mecânica por meio de um processo controlado de combustão; essa energia mecânica ativa um gerador que produz energia elétrica.

Como tudo começou:

1997 – A Granja São Pedro iniciou a atividade de suinocultura (terminação) com rebanho de 600 animais. Ao passar dos anos, houve um aumento no plantel de suínos, e com isso a necessidade de ter um tratamento adequado dos dejetos. Foi aí que a grande mudança aconteceu na fazenda, com a implantação de um biodigestor, em um sistema de comodato com a empresa Agcert, na qual exploraria os créditos de carbono.

2005 – Por conta disso, a granja teve que ampliar a atividade para três mil animais. E o aumento do plantel de suínos, gerou modificações na propriedade, desde a estrutura, até mão de obra para atender a nova quantidade de animais.

Todas essas adaptações realizadas acabaram por gerar uma maior demanda de energia elétrica e foi então que surgiu a ideia de utilizar o biogás, produzido no tratamento dos dejetos, para movimentar um motor que geraria energia para tocar a fábrica de ração e reduziria assim a conta de luz.

2006 – Houve o interesse da Itaipu Binacional de firmar uma parceria com a Granja São Pedro para o desenvolvimento de uma nova fonte para geração de energia elétrica, o Biogás.

2008 – Após um longo período de testes, aconteceu a primeira sincronização da geração de energia utilizando como fonte o biogás, com a rede de distribuição da Copel. A parceria foi firmada e após diversos testes, aconteceu a primeira sincronização da geração de energia produzida pelo biogás com a rede de distribuição da Companhia Paranaense de Energia (Copel).

No mesmo ano, foi criada a Resolução nº 1.482, de 29/07/2008 da ANEEL, que tornou possível a inscrição da propriedade como unidade geradora de energia elétrica.

2009 – A resolução da ANELL possibilitou que fosse assinado o contrato de venda de energia para a concessionária de energia elétrica do Paraná, a Copel. Os dejetos tratados são utilizados como biofertilizante para o pasto, que serve de alimento para os bovinos consumirem até atingir o peso ideal para o confinamento, aonde vão para adquirir melhor acabamento de carcaça e engordarem até o peso ideal de abate.

Com o uso dos resíduos da cadeia de suínos para a geração de energia elétrica, a granja São Pedro tornou-se reconhecida como uma propriedade sustentável, o que abriu portas para novas oportunidades de negócios e investimentos, que culminaram com a ampliação do plantel para cinco mil animais e na construção de um segundo biodigestor, aumentando a geração de energia elétrica.

2017 – Hoje, a produção de biogás é de 750 m³/dia. “É uma conquista. Não foi uma coisa do dia para a noite, mas sim de muito estudo, muita análise e pesquisa. Já havia lugares onde se fazia a geração do biogás, porém fomos os primeiros a gerar energia elétrica através do biogás sincronizado a rede”, relata o suinocultor.