Movimento antivacina cresce no Brasil

por Marina Darie
Movimento antivacina cresce no Brasil

Pioneira na Europa, a falta de vacinação leva à surto de doenças que estavam erradicadas, como o sarampo

Por Ana Clara Braga, Maria Fernanda Gusso e Marina Darie

O movimento contrário à vacinação busca burlar o sistema compulsório de vacinas, disponível em vários países, pois acredita que os efeitos colaterais da imunização são mais perigosos do que os benefícios da mesma. Esta ideologia se difunde principalmente entre mães de primeira viagem, que leem artigos na internet e ficam receosas de expor os filhos a algum tipo de ameaça.

Dados que comprovam a queda de usuários de vacinas no Brasil podem ser analisados pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973. Ele disponibiliza 27 tipos de vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por meio do SUS, de forma gratuita. Em 2017, a renda destinada para este projeto não foi alterada pela crise econômica enfrentada no país e resulta em R$3,9 bilhões. Apesar disso, o número de pessoas atendidas pelo PNI diminuiu.

A taxa de vacinação nacional recomendada pela OMS é de 95%. No ano passado, contudo, o Brasil apresentou apenas 84% de adesão no caso da imunização contra o pólio, de acordo com o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização. As vacinas de caxumba, rubéola e sarampo tiveram os mesmos problemas, gerando surtos das doenças pela primeira vez desde 2000, nos estados do Ceará e Pernambuco.

Em nota a prefeitura de Curitiba confirmou a diminuição no número de vacinações na cidade. “Campanhas organizadas de grupos anti-vacina, acabam prejudicando a cobertura vacinal. É necessário manter a informação do benefício da vacinação e que os falsos rumores negativos sejam combatidos com mais informação geral”. Em busca da conscientização sobre a importância da vacinação, a prefeitura acredita na realização de campanhas sobre erradicação de doenças e os benefícios de estar imune.

Um grupo destinado para mães na rede social Facebook apresenta grandes discussões sobre a vacinação de crianças. Pollyana Ramos, por exemplo, não irá levar seu filho para tomar a dose contra o vírus HPV. “Optamos por não vacinar devido a um acontecimento com a filha de uma conhecida nossa. A filha dela tomou a vacina, coincidência ou não, a menina ficou doente e até hoje está no hospital”.

O empresário Gerson Guerra, comenta que vacinou suas filhas, mas apenas pela falta de informações sobre a possibilidade de não imunização.

 

Cresce a preocupação entre pessoas que apoiam a vacinação        

A administradora Daniele Biondo Crocetti, discorda veemente do movimento antivacina. “Vacinação é vida. É um cuidado que se estende ao próximo e é uma questão de cidadania. Não pode ser negligenciada pois afeta a todos”. Daniele se diz assustada com essa questão. Segundo ela, grande parte dos aderidos possuem alto poder aquisitivo e, por isso, podem viajar para fora do país e trazer novamente doenças que foram erradicadas aqui.

Para a médica Lorena Brzezinsk, especializada em vacinação em uma clínica privada, não existem efeitos colaterais específicos das vacinas. “Em torno de 90% dos casos é vermelhidão, dor no local e febre”. Segundo ela, algumas imunizações podem causar uma versão mais leve da doença e em casos muito raros e específicos podem causar convulsões.  A médica alerta que não tomar vacinas é um grande risco à saúde, porque patologias que estão adormecidas podem voltar.“Quando a gente consegue vacinar a população como um todo, conseguimos erradicar a doença”, afirma. Lorena também lamenta a decisão de pais que se recusam a vacinar os filhos, o que pode gerar uma problema de saúde pública.

SBIm se manifesta sobre o assunto

 A Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) defende que os movimentos contra as vacinas não possuem fundamentação teórica e são viralizados pela internet, gerando fortes ameaças para a população mundial. Em nota, a SBIm reitera: “A vacinação é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a segunda maior conquista da humanidade em termos de saúde vacina1pública, atrás apenas da oferta de água potável. A imunização permitiu erradicar a varíola, praticamente erradicar a poliomielite — apenas Nigéria, Afeganistão e Paquistão ainda têm casos — e eliminar das Américas o sarampo, a rubéola, a rubéola congênita e o tétano materno e neonatal. As vacinas salvam milhões de vidas todos os anos.”

Em complemento, o órgão defende que criou projetos para reafirmar a ideia da imunização.  Entre eles estão as campanhas “Vacina é proteção para todos”, “Onda contra câncer” e “Quem é Sênior Vacina”.

Como surgiu o movimento antivacina

O movimento antivacina começou encabeçado por religiosos extremistas e conspiracionistas que se opunham a indústria farmacêutica. Tudo mudou no ano de 1982, com o lançamento do documentário “DPT: Vaccine Roulette” que associava a vacina tríplice bacteriana a danos no cérebro. O filme foi um estopim para uma grande desconfiança sobre o poder da vacinação.

No ano de 1998 o médico britânico, Andrew Wakefield, publicou um artigo chocante na respeitada revista “The Lancet”. Wakefield teria promovido estudos que comprovavam a relação da vacina tríplice viral com o autismo. Oito das doze crianças analisadas que portavam autismo teriam apresentado sintomas duas semanas após  tomarem a vacina.

Depois de muitas investigações foi comprovado que os estudos do médico eram falsos e muitas das crianças mostradas nos estudos foram indicadas por um escritório de advocacia, que tinha como objetivo processar a indústria farmacêutica. Mesmo com dados falsos sendo desmascarados muitos ainda acreditam na nocividade das vacinas.