Nu artístico provoca divergentes opiniões no Brasil

por Ex-alunos
Nu artístico provoca divergentes opiniões no Brasil

Exposições de nu artístico em São Paulo e Porto Alegre reforçam polêmica

Por Bernardo Gonzalez, Luana Fogaça e Thiliane Leitoles

A nudez em si e, principalmente, na arte é tratada como tabu, acabando por se tornar um assunto polêmico, que gera diversas opiniões. De acordo com parte da população, a nudez é uma forma de crítica aplicada na arte, justamente, para criar discussões sobre temas que são pouco falados na sociedade. Outra parte da sociedade encara o nu, exposto ao público, como uma afronta e forma abusiva de expressar a arte. Estas opiniões causaram grandes transtornos a respeito de algumas exposições que abordavam a nudez na arte.

Alguns artistas curitibanos, que aprenderam a superar o preconceito de outras pessoas com suas obras, acreditam que essa intolerância com a nudez na arte é, de certa forma, imposta pela sociedade. O produtor de teatro e participante da banda Denorex 80, Mauricyo Vogue, que aborda assuntos eróticos em seu trabalho, diz “chegou um momento que não me incomodou mais o que as pessoas comentavam e falavam, porque eu comecei a me ver como um artista, um artista que podia fazer tudo o que quisesse. ”

A fotógrafa Isabella Lanave, também curitibana, trabalha a nudez em suas fotografias e já teve algumas fotos censuradas pela internet. A artista firma a necessidade de se refletir sobre o motivo de determinados assuntos serem tratados como tabus. “A nudez é algo natural, entretanto, a sociedade nos induz a pensar que o tema não deve ser discutido ou expresso na arte”, segundo a estudante. “No começo do meu trabalho com a fotografia, ninguém entendia muito bem, e era algo que eu não mostrava para as pessoas. Mas hoje, eles entendem como arte, então, torna-se compreensível e aceitável ter esse corpo nu nas imagens. O que é totalmente irônico, pois a imagem do corpo só passa a ser aceita, a partir do momento que se tira ela da realidade e coloca num status de arte”. Isabella conclui dizendo que opiniões diferentes, muitas vezes, são encaradas como ofensas ou desrespeito, mas acredita ser inadmissível que não tenhamos liberdade de expressão em uma sociedade democrática.

A mostra “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, exposta no Santander Cultural de Porto Alegre por quase um mês, tratava de assuntos como orgias, pedofilia, zoofilia e vilipêndio a símbolos religiosos e não possuía classificação etária. A exposição foi encerrada no dia 10 de setembro de 2017, por conta da pressão imposta pelo grupo de direita Movimento Brasil Livre (MBL) e de outras manifestações contrárias às obras ocorridas em frente ao museu. A Santander Cultural emitiu nota oficial justificando o encerramento da mostra: “Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra. O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia (…). Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.”

A estudante de artes da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Camila Luiza Claudino, defende a exposição do nu na arte e afirma que ninguém tem direito de oprimir a obra de outra pessoa. Camila explica que o principal propósito das obras expostas não era concordar com a pedofilia e zoofilia, e sim combater estas ideias. Segundo Camila, a exposição foi mal interpretada “temos que ver as obras em seu contexto, cada exposição tem seu tema” disse a estudante.

A página do Facebook “Socialista de Iphone” critica a exposição, alegando obscenidade nas obras e falta de classificação etária. Por meio de publicações a página julga as formas e conceitos abordados na “Queermuseu“, afirmando que o caos foi culpa da falta de integridade das escolas que levaram os alunos à exposição, sem permissão e aviso do conteúdo aos pais.

Outro caso, semelhante ao da Queermuseu, ocorreu em São Paulo, na última terça-feira (26), onde a performance “La Bête”, que representava um homem nu que interagia com o público, teve a presença de crianças. A arte foi exposta no Museu de Arte Moderna (MAM) e apresentou o modelo nu, Wagner Schwartz, na estreia do 35º Panorama de arte Brasileira, exposição bienal que aborda a arte no país. A obra sofreu repúdio do MBL, grupo que definiu a apresentação como “repugnante”, “inaceitável”, “erotização infantil”, “afronta e “crime”. O museu diz que o evento era aberto a visitantes que estivessem no local e que havia sinalização sobre a nudez na sala onde a performance ocorria.