O lado que ninguém vê

por Ex-alunos
O lado que ninguém vê

O aumento no número de moradores de rua em Curitiba gera indiferença crescente entre a população

Letícia Joly

Com o passar dos anos, houve um aumento visível na quantidade de moradores de rua de Curitiba, principalmente na região central. Em 2008 havia 2.776 pessoas na rua segundo o IBGE. A Fundação de Ação Social (FAS) atendeu 3.450 pessoas no ano passado, aumento de quase 25% na comparação com os dados fornecidos pelo IBGE, e em 2013 a FAS estima mais de quatro mil pessoas nas ruas, quase o dobro de 2008. Em consequência disso, os moradores acabaram se tornando parte do “cenário” da cidade, sendo esquecidos e tratados com indiferença na maioria das vezes. Fomos às ruas em busca de obter mais informações sobre eles e a forma como vivem.

Carlos e Jane na Praça onde residem, na região central de Curitiba.  Foto por Letícia Joly

Carlos e Jane na Praça onde residem, na região central de Curitiba
Foto por Letícia Joly

Entrevistamos e conhecemos mais sobre a vida de Carlos e Jane, um casal de moradores de rua que mora na praça Rui Barbosa. O casal reside na praça há mais de 10 anos, ambos trabalham em seu carrinho de recolher papelão, que é onde passam a noite também. Por dia, o casal consegue arrecadar entre 50 e 60 reais, que gastam com comida e com banho. Eles tomam banho em hotéis da região, por um preço médio de R$7,50. Grande parte dos seus bens pessoais como roupas, sapatos, e objetos são dados por moradores da região, que já conhecem o casal e sempre os ajudam.

Carlos e Jane se conheceram na rua, onde estão por opção por problemas com a família, e estão juntos há nove meses. Todos os dias, eles comem no Restaurante Popular, um restaurante da prefeitura localizado na Praça Rui Barbosa, que cobra R$1 real pelo almoço. O casal não faz uso de drogas e álcool, e Carlos nos contou que eles não tem nenhuma relação com os outros moradores de rua, pois se eles ficarem em grupos, chamam mais atenção da polícia. Em relação à polícia, o casal conta que nesses dez anos morando na praça, não tiveram quase nenhum problema sobre o assunto.

“O importante de quando vamos pedir, é que Deus sempre coloca alguém na nossa frente, ele prepara tudo, nada é por acaso”, diz Carlos sobre sua rotina de pedir dinheiro nas ruas.

Nos dias de hoje, os moradores de rua que deveriam receber mais atenção por causa de sua baixa qualidade de vida, hoje são tratados como “vultos”, como se a sociedade não os visse mais. A forma como ela “engloba” os fatos faz com que as coisas que deveriam impressionar tornem-se comuns, fazendo com que a população não perceba que os moradores de rua estão ali, e são seres humanos.