Uma nova Mira no ar

por Julius Nunes
Uma nova Mira no ar

Por muitos anos, Mira Graçano dedicou sua vida às bancadas de telejornais. Agora, vive mais um entre tantos desafios que já enfrentou: ser ela mesma diante das câmeras em seu novo programa na televisão paranaense

Por Amanda Bedide, Guilherme Liça e Hellen Ribaski

DSC_0012 (Editada)A porta de um dos camarins da RICTV – afiliada da Rede Record no Paraná – se abre e lá encontramos Mira Graçano sendo maquiada para a gravação de mais um programa. Com um sorriso simpático, ela pergunta se não há problemas em conversarmos enquanto Ari, o maquiador, a prepara. O celular está em suas mãos, e a jornalista explica que aproveita o momento para elaborar e fechar as pautas do Vida Leve, seu mais novo programa que estreou há duas semanas.

Há 25 anos trabalhando em televisão, Mira nunca esteve à frente de um projeto tão ousado. Ela deixa a seriedade e a imparcialidade que o jornalismo diário impõe para comandar um programa de entretenimento, no qual ela participa e interage com os assuntos abordados. Porém, as novidades não param por aí. Voltar a fazer rádio e estudar fora do Brasil estão entre os seus planos para o futuro.

Quando você percebeu que a comunicação era o caminho que desejaria seguir?
Eu sou de Barroso, uma cidade bem pequena do interior de Minas Gerais. Eu tinha um tio que foi como um pai, ele era comunicador e professor universitário. Ele percebeu a facilidade que eu tinha em falar em público e sempre me colocava para participar das apresentações e dos eventos da cidade. Existe até um paradoxo porque embora eu seja tímida, sempre fui boa comunicadora. Diante do público, do palco, é como se eu me tornasse uma pessoa que eu não sou, me transformasse. Tenho facilidade pra falar, é um dom que Deus me deu.

Como você decidiu vir para Curitiba? Recebeu algum convite?
Vim sozinha, na cara e coragem. Tinha um colega da minha turma que o tio dele era repórter da Globo, ele me ajudou, me deu nomes de secretários de redação e chefes de reportagem de vários veículos. Depois disso, fui batendo de porta em porta. Fui aos jornais impressos e consegui meu primeiro trabalho no Jornal do Estado. Após três meses lá, surgiu à oportunidade na rede OM.

Você trabalhou em rádio também. Como foi?
Em 1995, lançaram a rádio CBN aqui em Curitiba. E como era a primeira radio de notícias, todo mundo queria trabalhar lá. Eu fui pedir emprego, mas tinham acabado de montar a equipe, até chorei porque queria muito (risos). Um mês depois surgiu uma vaga na equipe de reportagem.

Como surgiu a oportunidade de se tornar apresentadora?
Teve um dia que eu estava na redação fazendo um texto e o José Wille precisou sair. Logo depois, ligou na chefia de redação e disse que tinha surgido um imprevisto e que precisava de um substituto. Só tinha eu como repórter, e disseram “vai você”.  Justamente nesse dia, ele tinha marcado uma entrevista ao vivo no estúdio com o humorista Juca Chaves. Eu deitei e rolei  de tanto rir com o Juca, foi muito legal, era meu dia de glória (risos). Depois dessa entrevista, eu virei âncora no Noticia da Tarde e foi o divisor de águas na minha carreira.

DSC_0022 (Editado)E quando começou a apresentar na televisão?
Após dois anos como âncora no rádio, a RPC TV me convidou para fazer a ancoragem do Bom Dia Paraná. Eles estavam há algum tempo sem âncora definitivo e me convidaram para assumir o posto. Fui a primeira ancora fixa, foi um grande desafio na minha carreira, apesar de já ter uma boa experiência, porque no rádio você ganha o improviso, pode se posicionar e mostrar mais o trabalho como jornalista.

E pensa em voltar para o rádio?
Amo! (risos). Penso e creio que isso vai acontecer. Tenho esse desejo e, no ano passado, cheguei a montar um programa para a rádio Educativa. Eu gosto muito de rádio.

Por muito tempo você foi âncora do Paraná TV, principal telejornal local, mas se desligou da emissora recentemente. Por quê?
Depois de 17 anos, me desliguei da RPC TV. Eles fizeram um corte de gastos intenso e abriram mão de profissionais que tinham mais tempo de casa e, consequentemente, que tinham um custo mais elevado. Acho normal renovar a equipe, a empresa teve um papel muito importante na minha carreira, nunca posso negar isso. Foi bom também ter saído. Quando você está em um lugar só pensa que o mercado está limitado a ele, e depois começa a perceber que você pode fazer outras coisas, desbravar outros espaços. O susto inicial, graças a Deus, foi recompensado. Tempo depois eu criei o projeto do Gente.com, na É Paraná.

E como foi esse projeto?
O projeto permitia entrevistas com grandes nomes do Paraná. Eu queria um “pézinho” no entretenimento para mostrar nossos artistas, nossas pessoas comuns, que fazem coisas diferentes, crianças e pessoas com historias bacanas.  Nós fizemos umas 160 entrevistas que eu amei, adorei o projeto! Até que me convidaram pra vir pra cá. Gosto muito de desafios e de mudanças.

Certamente, está sendo um desafio migrar totalmente para o entretenimento. Como tem sido isto?
No jornalismo é preciso primar pela imparcialidade. Jornalista tem essa missão, o público não precisa saber do que você gosta, do que você acha e, no entretenimento, as pessoas querem a “Mira, Mira”, não a jornalista. É o que você é, a sua vida. No entretenimento eu posso me identificar, eu participo. Estamos no começo ainda, tentando ajustar, é um processo de construção, mas a gente vai chegar lá!

Recentemente, vimos isso acontecer em um âmbito nacional com a Fátima Bernardes. Você se identifica?
Eu me identifico porque nós temos idades compatíveis, temos o mesmo histórico na TV, eu me identifico no aspecto da responsabilidade, me identifico porque quando me convidaram foi tentando unir a credibilidade e a simpatia. A Fátima sempre foi muito simpática estando no jornal fechado, dava pra ver quem era ela. Eu tenho um desafio a mais que a Fátima, que é fazer esse perfil em um horário de hard news. É bastante ousado. A nossa intenção é que o público acorde com essa proposta de qualidade de vida.

Você nunca pensou em tentar a carreira em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro para ter uma visibilidade nacional?
Não. Eu sonhei muito tempo em voltar para Belo Horizonte, ficar perto da minha família, não rolou. Eu não sou uma pessoa muito ambiciosa, gosto de qualidade de vida.  Meu lazer é estar no mato, passo todo final de semana na chácara.

E se te chamarem para voltar para a bancada de um telejornal?
Voltar pra bancada não é mais minha vontade. Diferente do rádio, do hard news, mas nunca digo “dessa água não beberei”, o que precisar fazer eu vou fazer.

O que planeja para o futuro?
Hoje é só eu e meu filho. Futuramente, quero viajar para a Espanha, fazer algum curso na área de cinema, de comunicação. Mas isso quando meu filho for fazer intercâmbio.