Universitários estão entre os grupos mais interessados em jogos de aposta online

Cerca de 20% das pessoas que apostam no Brasil possuem ensino superior incompleto ou mais, segundo pesquisa do DataSenado
Por Laís Arzua, Juliane Damas e Danielle Honda | Foto: Danielle Honda
Consolidada como um hábito entre jovens brasileiros, a aposta em jogos online coloca a sociedade diante de um impasse entre o que pode ser considerado um uso recreativo desses aplicativos e aquilo que se caracteriza como vício. De um lado, os profissionais de saúde ainda avaliam os riscos para jogadores dessas modalidades de entretenimento um tanto recentes, enquanto do outro os próprios apostadores testam os seus limites. Os universitários são um dos grupos mais interessado em apostas online.
A maioria das pessoas que costumam acessar aplicativos de apostas tem de 16 a 29 anos, de acordo com uma pesquisa do DataSenado divulgada em setembro de 2024. O estudo indica que 20% das pessoas entrevistadas que ingressaram no ensino superior gastaram com apostas em jogos online no mês de junho daquele mesmo ano. Esse dado revela uma tendência crescente desse hábito entre jovens adultos, especialmente os que estão em fase de formação acadêmica. Relacionado a isso, houve um aumento de 153% do número de empresas de aposta no ano de 2021, segundo a empresa de datatech BigDataCorp.
Um universitário de 18 anos que preferiu não ser identificado por razões pessoais conta que começou a jogar online com 16 anos de idade por curiosidade e influência de amigos, de anúncios, personalidades da internet e redes sociais. “Achei que fosse divertido assistir esportes e fazer dinheiro com isso”, diz. “No início, os jogos afetaram a minha vida acadêmica, entretanto, aprendi a controlar os meus impulsos e isso não me atrapalha mais nos estudos.”
O psiquiatra Thiago Roza, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) especializado em casos de vício em apostas, explica que o ato de apostar consiste em colocar algo de valor em risco com a perspectiva de ganhar algo de maior valor. Esse comportamento, segundo o professor, pode ser considerado problemático, mesmo que ainda não represente uma dependência (transtorno do jogo). “É difícil dizer que existe um limite, porém algumas pessoas se controlam mais que as outras, de uma maneira menos problemática”, afirma Roza.
Um estudo conduzido pelo pesquisador Ahmed Sameer El Khatib, professor de Finanças da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), analisa os fatores comportamentais relacionados ao hábito de apostar. A pesquisa estabelece, por exemplo, a diferença entre apostadores recreativos e problemáticos. O apostador recreativo joga somente por diversão e prazer individual. Por outro lado, o considerado problemático aposta com o intuito de se afastar dos aborrecimentos e problemas diários, além de ganhar renda adicional e consumir os aspectos emocionantes e divertidos do jogo, tendo a possibilidade de se apegar tanto economicamente quanto psicologicamente aos jogos de aposta, se tornando então um vício.
Para apostadores compulsivos e aqueles preocupados com o crescente desejo de apostar, existem plataformas de apoio gratuitas e online como o “Jogadores Anônimos”, que possui iniciativa de ajuda psicológica por meio de reuniões presenciais e online e passos de recuperação. Além disso, o governo federal também incentiva a prática saudável de apostas por meio da Secretaria de Prêmios e Apostas.
Para acessar esses serviços, confira mais informações em Jogadores Anônimos e Jogo Responsável.