Projetos gratuitos impulsionam o Hip Hop para jovens em Curitiba

Grupo Mova-se, DANCEP e Teatro da Vila oferecem oficinas gratuitas de dança, rap e grafite aos jovens fortalecendo o movimento na cidade
Por Lorena Loiola, Maria Eduarda Honorio, Nicole Duarte e Vitoria Santin | Foto: Lorena Loiola
Nos últimos anos, Curitiba tem se consolidado como centro de referência do Hip Hop no Paraná e no Brasil. Iniciativas como o Grupo Mova-se Hip Hop, o Teatro da Vila e o Grupo de Dança Contemporânea do Colégio Estadual do Paraná (DANCEP) se destacam ao promover oficinas de danças urbanas para crianças e jovens. Os projetos gratuitos impulsionam o movimento cultural pela capital, levando músicas, danças, artes visuais e plásticas para as novas gerações.
O estilo tem uma forte ligação com as periferias, funcionando como forma de resistência e expressão para jovens que enfrentam realidades marcadas pela pobreza, pelo racismo e pela violência. A atividade ainda estimula percepções sensoriais – como a tátil, auditiva, visual e até a fala – respeitando o tempo e o ritmo de aprendizagem de cada aluno. A iniciativa de levar esse e outros movimentos culturais aos jovens e, principalmente, ao ambiente escolar, incentiva o surgimento de novos artistas no cenário regional. “Faz com que eles acreditem nos sonhos, não desistam de estar na escola e se sintam pertencentes a algo”, afirma Osvaldo Serra, artista e criador do grupo Mova-se.
Projetos
Criado em 2010, o Mova-se Hip Hop é uma iniciativa socioeducativa que promove a cultura por meio do movimento social. O grupo visita escolas públicas e privadas de todo estado com oficinas de dança, batalhas de rima e grafite. O projeto teve início a partir da ideia de um Trabalho de Conclusão de Curso realizado por Osvaldo Serra, formado em Artes pela FAP, que ficou conhecido pelo apelido “Nike” dentro do projeto. O principal objetivo do programa é utilizar elementos do Hip Hop para engajar os estudantes em atividades artísticas e pedagógicas, auxiliando na construção do desenvolvimento pessoal e social dos jovens.
As primeiras apresentações começaram em Fazenda Rio Grande e só depois vieram para Curitiba. Hoje, o Mova-se Hip Hop já visitou 38 municípios do estado, 2,5 mil escolas e cerca de 800 mil alunos já assistiram suas exibições. Para Osvaldo, o projeto tem a importância moral de unir o pedagógico ao cultural. “Os alunos entendem que têm uma responsabilidade enquanto indivíduos, e poder de melhorar a própria sociedade onde estão inseridos. E essa é nossa principal transformação.”
Compartilhando do mesmo propósito, outras instituições como o Teatro da Vila, na Cidade Industrial de Curitiba, oferecem aulas de danças urbanas semanalmente, de forma gratuita, para crianças e jovens de 7 a 14 anos. A oficina explora as técnicas e linguagens das danças urbanas (Breaking, Popping, Locking, House, Up Rocking), com base na proposta filosófica do Hip Hop, englobando a cultura de resistência e o ativismo cultural. O curso é realizado por intermédio da Fundação Cultural de Curitiba, às quartas-feiras.
O artista Rapha Fernandes, responsável por ministrar as aulas no Teatro da Vila, está inserido no movimento desde os seus 16 anos. Para o educador, a dança é uma forma de diálogo entre o corpo, a arte, a ciência e o movimento. “A dança urbana fortalece a socialização, criando um ambiente de troca, convivência e pertencimento.” Além disso, o artista acredita que as danças urbanas favorecem o desenvolvimento de consciência crítica sobre a sociedade, e seu modo de expressão. “Não escolhi o Hip Hop, mas foi através de seus ensinamentos que consegui expressar o que sinto da maneira mais sincera”, afirma o arte educador.
O objetivo de utilizar a dança como ferramenta de transformação social também está presente no trabalho realizado pelo Grupo de Dança Contemporânea do Colégio Estadual do Paraná (DANCEP). O grupo é um dos projetos de contraturno da Escolinha de Arte do CEP, que oferece gratuitamente aulas de dança contemporânea e diversas modalidades, para estudantes do colégio e da comunidade. Os alunos são envolvidos em todas as etapas das apresentações – desde a responsabilidade ao criarem seus próprios figurinos até o agendamento dos espetáculos – para que além da dança adquiram conhecimentos gerais que estão relacionados com a arte.
O grupo já participou de oficinas com profissionais renomados internacionalmente, no 16ª Festival Norte Dança Viana, o mais antigo e tradicional do país, o que elevou o nível técnico e artístico do grupo. Com nove espetáculos e mais de 70 apresentações, o projeto ganhou 12 prêmios e aprovações. O Dancep conta com o apoio do Teatro Guaíra, UNESPAR, Núcleos Regionais de Educação e Casa Hoffmann.
A estudante Mariana Vieira, conheceu o DANCEP durante o ensino médio no Colégio Estadual do Paraná. Interessada por arte, se encantou pelas aulas de danças e integrou o grupo de apresentações. “As coreografias abordam temas como depressão e preconceito. A dança virou refúgio e forma de transformação pessoal”. A dançarina destaca o crescimento pessoal e as oportunidades proporcionadas pelo grupo: disciplina, responsabilidade, experiências como as viagens para as apresentações e contato com a arte profissional.
Destaque Nacional
A trajetória do Hip Hop na capital se iniciou nos anos 80, quando jovens se reuniam para praticar o breaking nas calçadas em frente ao Shopping Itália, localizado entre a Avenida Marechal Deodoro e a Rua João Negrão. O espaço é marcado como berço do Hip Hop na cidade e é considerado um dos pontos mais antigos de sua prática no país.
Desde então, Curitiba é palco de eventos relacionados ao movimento, como o Mad in Brazza (festival de Rap e Trap), a Oficina de Música de Curitiba e o Festival de Hip Hop no Teatro da Vila. Em julho, pela primeira vez, será sede da 21ª edição do Festival Internacional de Hip Hop (FIH2), o maior evento de danças urbanas da América Latina. O evento acontecerá entre os dias 5 a 7, no Teatro Positivo, e irá promover o encontro de artistas e pesquisadores do Brasil e do exterior.
Confira como trechos da apresentação do grupo Mova-se: