Obra atrasada há 18 anos impede entrada de 50 novos moradores na CEU

por Beatriz Agustini Carpes
Obra atrasada há 18 anos impede entrada de 50 novos moradores na CEU

Estudantes e moradores da Casa dos Estudantes Universitários do Paraná (CEU) lutam contra a Prefeitura para a conclusão das reformas.

Por Beatriz Agustini Carpes | Foto: Beatriz Agustini Carpes

Em 2007, a Casa do Estudante Universitário (CEU) negociou o seu potencial construtivo para a Prefeitura realizar uma série de reformas e reparos no prédio, que não era renovado desde 1948, ano de sua construção. Dentre essas renovações, estava a recuperação de uma ala que apresentava problemas de infiltração, esquadrias quebradas, piso sem revestimento, instalações hidráulicas e elétricas aparentes, e estava sem condições de moradia.

Vender o potencial construtivo de um local significa negociar e comercializar a capacidade que um terreno ou imóvel tem para construção, conforme as regras de urbanismo e zoneamento da região. No caso da CEU, o prédio faz parte de um projeto arquitetônico de prédios modernos dos anos 50, junto com o Colégio Estadual do Paraná e a Reitoria da UFPR. Por conta disso, a fachada e a estrutura tem que ser preservadas. Então, como não pode-se construir novos andares ou novos blocos, foi negociado o potencial construtivo para realizar múltiplos reparos. 

A Prefeitura licitou a empresa Projeto Urbano para realizar a reforma. Durante as obras, a empresa apresentou uma série de atrasos na realização dos serviços, entrou em processo de falência e acabou abandonando as obras. Em 2011, a Prefeitura abriu um novo processo de licitação para retomar as obras. A empresa F. Bertoncelo foi escolhida, porém também abandonou as obras sem finalizá-las.

Desde então, os moradores da casa aguardam a conclusão dos reparos prometidos pela Secretaria de Obras. De acordo com a 1ª vice-presidente da CEU, Camila Calaudiano, “a Prefeitura afirma que a obra foi finalizada. O que não é verdade, a ala está ali para provar”.

Em julho de 2020, o Tribunal de Justiça do Paraná determinou que a Prefeitura deveria liberar os recursos para a finalização das reformas na CEU. Porém, isso nunca aconteceu. A Procuradoria Geral do Município afirmou que não foi notificada da decisão, por isso os recursos não foram liberados.

Nossa reportagem tentou contato com a Prefeitura Municipal de Curitiba e a Procuradoria Geral do município para saber qual o motivo de não concluírem a reforma ou liberarem os recursos. Até o fechamento desta edição não obtivemos resposta.

A ala que está interditada esperando reformas possui 25 quartos, que dariam moradia para 50 novos moradores em situação de vulnerabilidade econômica. O 2° vice-presidente da CEU, Yago Vargas,  afirma que a demanda por novas vagas vem aumentando nos últimos anos, por conta do crescimento do número de estudantes no ensino superior em Curitiba. Ele destaca o aumento na demanda de vagas femininas e diz que “a ala que está desativada poderia estar sendo utilizada como uma nova ala feminina da CEU”

Os representantes afirmam que as moradias são um símbolo de resistência estudantil e representam uma chance para jovens que enfrentam uma situação vulnerável financeiramente e não têm condições para  morar fora das suas cidades de nascença. Essas casas, além de serem extremamente importantes na formação profissional, também são importantes na vida pessoal dos estudantes, devido à convivência com pessoas de diferentes cursos e culturas. 

A CEU é a maior casa estudantil autogerida da América Latina, ou seja, ela não recebe verba do governo ou de universidades. Os moradores têm acesso a café da manhã, cozinha colaborativa, sala de jogos, sala de TV, laboratório de informática, quadra esportiva, churrasqueira, lavanderia e acesso à Internet.

Como ingressar na CEU

Para ingressarem na CEU, os estudantes devem passar por um processo seletivo, que acontece semestralmente e consiste em três etapas: inscrição e avaliação de documentos; entrevista individual e integração de calouros.

Os estudantes têm que seguir alguns requisitos para serem aceitos, como: residir fora de Curitiba, não ter recursos próprios ou de terceiros para comprar ou alugar uma residência em Curitiba, estar matriculado em um curso superior ou pré-vestibular ou de pós-graduação na modalidade presencial e estar em fragilidade socioeconômica. Estudantes de todas as universidades podem realizar o processo seletivo.

Estar em situação de fragilidade socioeconômica significa enfrentar dificuldades para suprir necessidades básicas, como moradia, alimentação, saúde e educação, devido à falta de recursos financeiros.

A taxa mensal da casa é feita por meio de rateio e varia entre R$300 E R$400.

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