Projeto propõe jardins de chuva para reduzir enchentes em Curitiba

por Geórgia Cintra
Projeto propõe jardins de chuva para reduzir enchentes em Curitiba

Cerca de 32% dos pontos de alagamento em Curitiba tem solo totalmente impermeável

Por Geórgia Cintra | Foto: Geórgia Cintra

Um novo projeto de lei busca criar um novo sistema de drenagem para Curitiba, com os jardins de chuva. A proposta foi apresentada em janeiro pela vereadora Laís Leão e aposta em uma solução urbana para escoar a água da chuva, evitando alagamentos e enchentes como as que atingiram a cidade em janeiro. 

O projeto, que está em análise na Câmara Municipal de Curitiba, define como jardim de chuva infraestruturas verdes projetadas para captar, infiltrar, tratar e reduzir o escoamento superficial das águas pluviais, integrando técnicas de manejo sustentável de águas urbanas. “A implantação de jardins de chuva deverá priorizar o uso de espécies vegetais adaptadas às condições locais, contribuindo para o controle de enchentes, a recarga dos lençóis freáticos, a filtragem de poluentes e a melhoria da paisagem urbana”, diz um trecho da proposta. 

Segundo dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), 32% dos pontos críticos de alagamentos em Curitiba, estão em áreas com solo altamente impermeabilizado. Os jardins de chuva nesse caso teriam alto impacto, já que preservariam a água temporariamente, liberando-a gradualmente para o sistema. 

Os dispositivos, ao ampliar a vegetação urbana, ajudam a combater os efeitos de ilhas de calor, aumentam a biodiversidade local e tornam os ambientes mais atrativos e acolhedores, além de serem soluções de fácil instalação, sem demandar obras enormes. Apesar de ainda não ser realidade em Curitiba, a solução urbana já é adotada em algumas cidades como: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Nova York e Washington.

Para o urbanista Bruno Ruchinski de Souza, a flexibilidade do projeto é positiva. O urbanista explicou que os jardins de chuva podem ser implantados em praticamente qualquer lugar, já que a escolha do local depende do contexto. 

Esses espaços podem ser usados tanto no paisagismo de parques quanto nas laterais de calçadas em vias públicas. Souza destaca que esses jardins devem ser vistos como elementos urbanos a serem implementados pela cidade, como canteiros de flores, bancos de praça e lixeiras. 

Dados divulgados pela Prefeitura reforçam a necessidade de soluções. Em fevereiro de 2025, a precipitação acumulada já superou em 88% a média histórica. Em janeiro, Curitiba havia registrado um volume de chuvas 62% superior à média histórica do mês. O excesso de água expôs novamente as vulnerabilidades da cidade, com alagamentos em regiões como: Bacacheri, Boqueirão e Santa Cândida a combinação do solo cada vez mais impermeável, com as chuvas intensas, sobrecarrega a infraestrutura da cidade, que não consegue escoar grandes quantidades de água em pouco tempo.

 A autora do projeto Laís Leão conta que o maior desafio é compreender que as questões de drenagem e demandas das enchentes e alagamentos serão resolvidas pela associação de várias estratégias, e não apenas por uma única solução. Logo, é preciso reconhecer que a proposta é mais um recurso para garantir o escoamento das águas e buscar diminuir os efeitos das grandes cheias. “O projeto impacta na vida dos moradores de áreas mais afetadas porque estamos criando novas formas de fluxos de água”. A ideia é que seja possível criar um espaço de infiltração para que um volume menor de água chegue nas áreas em que normalmente ocorrem as inundações. 

Em relação ao custo do projeto, Laís explica que ainda não há uma estimativa concreta, pois a intenção do projeto é ter a possibilidade de que se instale um novo mecanismo de drenagem. A proposta é que a execução seja do Poder Público, com parcerias público privadas, ou pela própria iniciativa privada, caso alguém queira construir um jardim de chuva em frente a sua casa. Mas é preciso que o executivo municipal crie regras para regulamentar esse processo. A intenção do projeto é garantir que a legislação âncora permita que isso seja realizado. ‘’O projeto não estabelece onde os jardins de chuva seriam implementados, mas garante que isso seja uma possibilidade’’. 

Para o urbanista Bruno Ruchinski de Souza, a proposta vai além do paisagismo. “Jardins de chuva só cumprem sua função, se possuírem sistemas de drenagem eficientes”. O projeto em debate estabelece esses critérios na prática, transformando áreas verdes em mecanismos efetivos de gestão hídrica urbana. 

 

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