Impactante, “Preto” mexe com o público

Peça da mostra principal aborda tema delicado e necessário de forma surpreendente
Por: Ana Clara Braga e Matheus Pferl
A chuva não afastou o público que ansiava ver Renata Sorrah, Grâce Passô e elenco atuando em “Preto”. Com casa lotada, o espetáculo chocou, emocionou e propôs reflexões atemporais sobre racismo, desigualdade e o afeto na sociedade brasileira. Durante 1h40min os atores se movimentaram por toda a extensão do auditório, dançaram, interagiram com o público e cantaram em uma atmosfera envolvente e algumas vezes até sufocante.
O espetáculo faz parte da Companhia Brasileira de Teatro e é uma ramificação da pesquisa iniciada em 2015 com o “Projeto Brasil”, outra peça do grupo. “Preto” é fruto de duas grandes referências: Joaquim Nabuco, um político, intelectual e abolicionista brasileiro e a obra do sul africano, Achille Mbembe “A Crítica da Razão Negra”.
Para o produtor, Fábio Zambroni abordar o racismo é necessário. “Nós nunca sabemos onde está a dor do outro” comentou. Ele considera peça um produto crítico que permite uma reflexão rica do assunto e como artista também afirmou: “ É a forma que a gente tem de fazer a diferença e de transformar, através da arte e do pensamento”.
O ator, Anderson Fregolente já é familiarizado com o trabalho do diretor de “Preto” e considera esse seu trabalho mais provocador. “A linha dele é mais desconstruída, mas hoje lidamos com coisas mais sérias, ainda estou processando tudo”.
A atriz, Bruna Spinola se encontrou sem palavras para descrever a peça. “A gente é provocado o tempo inteiro. Eu fiquei muito mexida mesmo, são coisas que a gente não se dá conta porque não estamos no lugar do outro”.
Para a escritora e roteirista, Claudia Souto peças como essa são importantes em um momento sensível, porém libertador que o país está passando. “Durante muito tempo o Brasil ficou anestesiado, como se essas dores não existissem, como se a discriminação não fosse real, e agora a gente tá tocando, falando disso”. Claudia acredita que a dor também é transformadora e momentos como esse nos fazem ir para frente.