Longe de casa

por Equipe Festival de Teatro
Longe de casa

Por Aline Bellino e Marcus Campos

Em média, 2,9 milhões de brasileiros ingressaram na universidade no último ano

 

O inverno chegou e com ele o tão aguardado vestibular surge como uma possibilidade de traçar um novo caminho estudantil, já que em muitas universidades do país este é o período de seleção e formação de novas turmas para iniciar o ano letivo. Isso significa que as cidades onde se concentram os importantes polos acadêmicos começam a receber alunos de várias localidades. Segundo dados levantados pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) (como vocês obtiveram essas informações?), estimasse-se que quase metade dos estudantes matriculados nos últimos períodos na instituição sejam do interior do estado ou de outras regiões externas ao Paraná.

Uma nova história se inicia, é o prenuncio de uma longa temporada fora de casa, e muitas vezes, o significado de uma partida sem volta, como afirma a estudante de publicidade e propaganda Amanda Lemos. “Há dois anos vim para a capital para estudar, hoje não pretendo retornar para Francisco Beltrão, cidade onde moram meus país. Vou a cada dois meses visitá-los, mas não me vejo mais morando no interior”.

Emprego, crescimento financeiro e oportunidades, essas são algumas das principais buscas feitas pelos jovens que se aventuram fora de suas cidades natais. “Hoje, Curitiba, assim como Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro e muitos outros municípios, acabam funcionando como oásis para a juventude que sonha com uma mudança de vida. Muitas vezes, são pessoas que se dedicam imensamente no intuito de construir uma carreira sólida, buscando a independência financeira e sentimental”, explica a psicóloga e coach de carreiras Polianny Achre.

Curitiba recebe também muitos alunos do norte e nordeste do Brasil, essa migração recorrente é comum pelas dificuldades constantes e pobreza que domina essas regiões mais acima no globo(?). “Um país de dimensões continentais e significantes como o nosso, e principalmente, mediante ao penhasco econômico que existe entre a região norte e nordeste, contra o sul e sudeste, cria enorme desejo no nordestino em encontrar um futuro melhor e mais digno nas capitais ao sul”, comenta o antropólogo e cientista político Luíz Zanon.

Um sonho delicado e um tanto arriscado, pois, segundo estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), hoje no país, 93,3% dos moradores de rua se concentram nas grandes cidades. A saída não planejada de pessoas das cidades do interior para as metrópoles, como revela a apuração, também colabora para o aumento desse número expressivo.

“Vim de Caruarú, no Pernambuco, para estudar enfermagem na capital paranaense, mas passei anos pensando em como viabilizar essa ideia. Antes de me mudar definitivamente, vim passar alguns dias em Curitiba para conhecer melhor e encontrar algum local para ficar, e desde janeiro deste ano essa tem sido a minha cidade”, afirma Rayslan Feitosa.

Adaptações são necessárias, afinal, desbravar as fronteiras dos portões de casa, cruzar cidades e estados para tentar alcançar os objetivos profissionais é uma tarefa que exige preparo. “A jornada é exaustiva, pois além de estarem iniciando uma vida acadêmica, que já é algo por si só complexo, esses estudantes não possuem o apoio da família por perto, acarretando muitas vezes um alto nível de estresse por conta dos problemas diários em junção com a nova rotina universitária”, complementa Polianny. (Não fiquem indo e voltando nas fontes)

Desafios esses que interferem diretamente no desempenho dos estudantes, escolhas que podem mudar vidas, mas que para concluir é preciso voltar ao foco, ter paciência e viver cada dia como se fossem únicos. (frase sem sentido)

 

Adversidades de morar longe de casa

O momento onde (no qual) as coisas mais simples tomam dimensões planetárias: cuidar da própria roupa, preparar o que comer, arrumar a casa e ainda administrar o tempo dos estudos e trabalhar para garantir o salário do final do mês. Essas são algumas das preocupações que circundam a mente de milhares de estudantes diariamente. No Paraná, de acordo com estatísticas do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe PR), o Estado conta com mais de 72 mil estudantes universitários, em instituições públicas e privadas.

“Você chega cansado em casa de noite, só pensa em dormir, mas encontra muitas coisas a fazer, a casa desarrumada, ou precisa ainda terminar algum trabalho acadêmico para o dia seguinte, ou o que é pior: a mistura de tudo isso, chega a causar palpitações só de pensar”, conclui o estudante de enfermagem Rayslan.

O futuro enfermeiro não é o único a pensar dessa forma, mas a psicóloga Polianny relembra que é importantíssimo traçar uma rotina de organização disciplinada para que os afazeres não acabem se tornando um verdadeiro problema. “Eu oriento aos meus pacientes a fazerem uma planilha tradicional, com um projeto semanal, dividindo as atividades de acordo com as necessidades e prazos. No início é complicado, e parece que é inútil, mas se usar de forma correta, é possível conquistar melhor rendimento, tanto nos trabalhos domésticos, quanto nas atividades da faculdade”.

Cuidar da alimentação e zelar da saúde é algo que acaba sendo deixado de lado, o turbilhão que invade os dias dos universitários acaba incentivando o maior consumo de fast food e congelados, aumentando assim os riscos de doenças cardiovasculares, elevando o nível de colesterol e diabetes, e contribuindo com a obesidade como alerta a nutricionista Doutora Elisjane Francisco de Faria. “Chocolates, gorduras em geral e uma infinidade de frituras e massas fazem parte do dia a dia dos jovens, além de consumir descontroladamente essas bombas calóricas, a grande maioria não pratica nenhum tipo de atividade física, e ao menos fazem acompanhamentos regulares para identificar possíveis problemas de saúde. Vemos frequentemente casos de pessoas entre 25 e 32 anos tendo sérios problemas, difundidos desse descaso com a própria vida, que somado ao estresse podem causar inclusive os temíveis maus súbitos”.

Em todo o planeta, aproximadamente 18 milhões de pessoas morrem por problemas cardiovasculares por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), e no Brasil o mal atinge uma pessoa a cada 40 segundos, como informa a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por isso as medidas preventivas e cuidado com a alimentação são essenciais para melhorar o desempenho diário. “Além de melhorar a disposição, a organização e cuidado com a saúde e alimentação possibilitam uma vida sem sustos, diminuindo inclusive os níveis de estresse”, afirma a psicóloga e coach profissional.

Trabalho, estudo e profissão são importantes a todos que querem se estabilizar na sociedade e, mais do que isso, construírem uma carreira, mas antes de qualquer coisa é preciso cuidar da saúde física e mental.

Armadilhas emocionais

Os meses passam e o primeiro ano acaba, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística afirma (Instituto não afirma e sim informa) por meio de pesquisas que em 2017, a cada 10 alunos matriculados, três desistiram do curso antes do término do segundo semestre. Há os que precisam parar por problemas econômicos, os que trancam por inadaptação com o curso escolhido, mas também é relevante o número de abandono acadêmico por não conseguir conduzir a vida longe da família.

“Muitos alunos e alunas me procuram claramente abalados, a saudade toma conta do raciocínio, a ligação no final do dia para os familiares começa a não surtir mais efeito, e devido muitas vezes à imaturidade que ainda é predominante. Já houve casos de desenvolverem profundos casos de depressão, e aí não adianta insistir: é preciso dar uma pausa, voltarem para próximo de suas raízes, para só então quando estiverem realmente preparados retomar os estudos”, afirma Polianny.

O caminho é mais tranquilo para quem tem os pais morando em cidades vizinhas, ou localidades próximas, pois mesmo enfrentando problemas comuns aos demais, a maior quantidade de visitas ao antigo lar possibilita recarregar as forças para enfrentar o cotidiano com mais tranquilidade. “Passo a semana em Curitiba, e quase todos os finais de semana vou para Joinville, onde moram meus parentes. Concluí a faculdade de jornalismo no final do ano passado, hoje estou trabalhando efetiva na capital e não consigo mais me ver morando em Santa Catarina”, afirma Daniela Borsuk.

Lágrimas que valem o futuro, assim define a estudante de arquitetura e urbanismo Carol Ambrósio, que há dois anos mora no Lar da Acadêmica de Curitiba, uma instituição que acolhe meninas em período universitário na capital. Com preços mais acessíveis, as jovens conseguem alugar e dividir quartos com outras pessoas e ali criam laços de amizade durante os anos de moradia. “Quando cheguei não passava um dia sem me debruçar sobre o travesseiro e virar as noites chorando, hoje ainda as lágrimas escorrem quando falo com meus pais pela internet ou pelo celular, mas mantenho o foco no meu futuro, até para poder um dia retribuir todo o bem que minha família me concedeu até hoje. Faz oito meses que não vou até Naviraí (MS), onde eles moram, e o que me mantem firme é saber que esse esforço vai valer a pena”.

Nos corredores universitários as histórias se cruzam, as amizades surgem e as novas famílias começam a ser formadas pelos próprios alunos, no convívio diário. “Aqui conheci meus melhores amigos, hoje eles fazem parte da minha história porque escreveram e estão ainda escrevendo essa narrativa ao meu lado. São pessoas que vou levar comigo para sempre, porque dividimos muitos momentos felizes, muitas angustias, muitas emoções, criando laços verdadeiros”, conclui Daniela. (Não fiquem indo e voltando nas fontes)

Muitas adversidades, medos e dúvidas surgem nesta que é uma das etapas mais importantes do indivíduo em seu desenvolvimento pessoal. Disciplina, responsabilidade e autocontrole precisam ser exercitados todos os dias para que os prodígios sejam mais fortes que as fraquezas, e então, ao final de cada curso, profissionais altamente gabaritados sejam formados não apenas para sua área específica, mas sim, para estarem prontos para lidar com a  nobre e inabalável arte que é viver.

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