Brasileiros deixam de se vacinar por conta da desinformação

por Maria Cecília Marchalek Zarpelon
Brasileiros deixam de se vacinar por conta da desinformação

Desconhecimento e falta de rede de saúde efetiva influenciam na redução da taxa de imunização do país

Por Maria Cecília Zarpelon

A taxa de imunização do Brasil caiu para cerca de 80% no ano passado, de acordo com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que divulgou a informação oficialmente por meio do portal do Ministério da Saúde. Ainda segundo o ministro, a meta estabelecida pelo órgão é de imunizar 95% da população brasileira, mas por conta da falta de uma rede de atenção básica efetiva, as ações nacionais para promover a saúde pública e a prevenção de doenças se tornam pouco satisfatórias. 

Em março deste ano, o Brasil perdeu a certificação de país livre do sarampo, conforme a declaração do Ministério da Saúde por meio de sua conta oficial do twitter. Os surtos de sarampo que ocorreram no Amazonas, Roraima e Pará evidenciam uma baixa cobertura vacinal nessas regiões, explica a mestranda na área de comunicação e especialista em saúde Amanda Milleo. “Seja por conta do difícil acesso, da falta de profissionais de saúde ou por não ter unidades básicas de saúde suficientes para atender toda a população, ainda existe uma falha no sistema básico de saúde”, analisa.

Segundo a especialista, o Sistema Único de Saúde (SUS) é reconhecido internacionalmente por seu desempenho, mas para que a rede de imunização seja mais eficaz, é preciso conscientizar as pessoas por meio de campanhas. Para ela, as campanhas de vacinação reforçam a existência das doenças e a importância de preveni-las. “Existe um risco das pessoas acharem que a doença está erradicada e não tomarem a vacina para ela. Elas acreditam que não vendo a doença, elas não precisam se vacinar”, comenta. 

A vacinação é um bem individual, mas também coletivo, é o que entende o médico e diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Alcides Oliveira. Ele orienta que as pessoas busquem a vacinação e não achem que as doenças deixam de existir, pois elas continuam circulando. “É nosso papel demonstrar a importância das pessoas estarem vacinadas”, finaliza.

O assessor científico sênior da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e grande referência em vacinação no país, Akira Homma, acredita que as pessoas não se vacinam por questões ideológicas, religiosas e pela desinformação. “A questão anti-vacina está na indisponibilidade das pessoas se vacinarem, na falta de acesso público e de uma linguagem acessível”, comenta. Homma entende que as vacinas deveriam ser distribuídas em lugares populares como shoppings e pontos de ônibus, para que houvesse uma maior propagação da imunização.

Para a médica pediatra e vice-presidente da regional Paraná da Sociedade Brasileira de Imunizações, Heloisa Giamberardino, existe um cenário de carência em treinamento para os profissionais de saúde de todas as áreas, principalmente da área de enfermagem médica. Apesar disso, esses especialistas devem estar sempre bem atualizados e conscientes da importância de seu trabalho. “Quando você dá uma orientação de forma hesitante, o paciente não vai confiar na sua informação ou sentirá muitas dúvidas”, afirma. 

Na opinião da pediatra, a vacina tem um impacto enorme na redução da mortalidade porque elas servem como uma medida preventiva e corretiva, em grande escala. Para ela, as campanhas de vacinação servem como um chamado à sociedade, uma maneira de levar as vacinas até as pessoas caso elas não as busquem espontaneamente. A campanha é apenas uma medida de estratégia, a principal é conscientizar a população, ela reconhece: “a desinformação das pessoas faz com que elas não se vacinem. Não existe vacina contra a desinformação”. 

O Ministério da Saúde estabelece calendários de vacinação desde 2004, que regulamentam as vacinações para todas as faixas etárias. Além disso, segundo comunicado transmitido pelo portal oficial do Ministério, o órgão busca aprimorar o sistema de monitoramento e controle das doenças, além de ampliar as campanhas de multivacinação nos estados e municípios.

Movimento antivacina: uma ameaça no combate às doenças

Grupos contrários à vacinação geram polêmicas nas redes sociais

O movimento antivacina foi incluído no relatório dos 10 maiores desafios de saúde para 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Considerado uma ameaça para a saúde, o movimento causa discussões em torno dos aspectos prejudiciais da vacina.

É o caso de Helga de Sousa Castanheiro, mãe de três crianças que se diz contra vacinas porque acredita que elas possuem conservantes altamente tóxicos ao organismo. Ela entrou para o grupo “VACINAS: O maior CRIME da história” no Facebook, porque assim como outros membros, não quer ver seus filhos reféns de doenças autoimunes, degenerativas e síndromes resultantes da toxicidade elevada no organismo. “Quando fui mãe pela primeira vez, me vi com a responsabilidade de tomar a melhor decisão para meu filho”, comenta. Helga acredita que a vacinação resulta em lesões no cérebro, como síndromes do espectro Autista e défices de atenção. Nosso organismo está sendo envenenado”, afirma. 

Outro participante do grupo, Solano Salomon, acredita que a vacinação não deve ser coletivizada e que os indivíduos deveriam escolher se querem ou não se vacinar. Para ele, as vacinas são prejudiciais porque nem todo corpo e sistema imunológico tem a mesma reação ao receber a injeção. “Perdi uma irmã muito novo por conta de vacinação obrigatória. Aplicaram a vacina contra o HPV sem o consentimento de minha mãe”, recorda. Salomon entende que as informações sobre a fórmula e fabricação das vacinas deveriam ser totalmente acessíveis à população.

O debate está em crescimento nas redes sociais, segundo a mestranda na área de comunicação e especialista em saúde Amanda Milleo. “Às vezes as pessoas vêem na TV os efeitos colaterais. O HPV, por exemplo, tem o maior número de pessoas contrárias justamente por esses casos. Elas associam a vacina a algo negativo”, afirma. 

A partir de sua pesquisa com grupos do Facebook, ela percebeu que existe um conjunto de motivos para as pessoas serem contrárias à vacinação: achar que as vacinas fazem mal, associá-las com o desenvolvimento do autismo, acreditar que existem metais pesados nos componentes da vacina, achar que pode causar câncer e que a vacinação seria uma tentativa de controlar a população. Amanda entende que as pessoas permanecerão em um ciclo caso não haja a vacinação: a vacina protege, a doença desaparece, logo, as pessoas param de se vacinar, a doença volta e o ciclo começa novamente. 

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