Novo coronavírus chega a todas as regiões de Curitiba

por Leticia Fortes Molina Morelli
Novo coronavírus chega a todas as regiões de Curitiba

O vírus espalhou-se rapidamente da região central para os demais bairros, afirma a Secretaria Municipal de Saúde

Por Letícia Fortes | Foto: Fernando Zhiminaicela – Pixabay

A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba informou que o novo coronavírus chegou a todos os 75 bairros da cidade nesta quarta-feira (13). A distribuição dos casos por mostra que as regionais Matriz e Santa Felicidade têm maior incidência de pessoas contaminadas, com 189 e 100 casos confirmados, respectivamente. Tatuquara é a regional com o menor número de notificações, com 9 casos confirmados.

As demais regionais com o maior número de casos confirmados são Portão (87), Boa Vista (85), Boqueirão (67), Cajuru (54), Cidade Industrial de Curitiba (45) Bairro Novo e Pinheirinho (29 cada). A Secretaria informa que 80 casos confirmados permanecem em investigação do local de residência.

 

Incidência por região e número de leitos

A Secretaria Municipal de Saúde também leva em conta a taxa de incidência da Covid-19 a cada 100 mil habitantes, um indicador importante para monitorar as regiões nas quais a capacidade dos hospitais pode ser mais pressionada em virtude do aumento no número de casos.

A regional Matriz, com 189 infectados confirmados, tem o equivalente a 105,6 casos por 100 mil moradores. Já Santa Felicidade, com 100 confirmados, tem o equivalente a 64,3 casos para cada 100 mil moradores. No ranking da taxa de incidência, estão as regiões Portão (49,4/100 mil hab), Boa Vista (33,7/100 mil hab), Boqueirão (33,1/100 mil hab), Cidade Industrial de Curitiba (24,4/100 mil hab), Cajuru (24, 3/100 mil hab), Bairro Novo (20,6/100 mil hab), Pinheirinho (19,2/100 mil hab) e Tatuquara (10,5/100 mil hab).

De acordo com o boletim epidemiológico de quinta (14), 72 pacientes confirmados com Covid-19 estão internados em hospitais públicos e privados da capital, sendo 35 deles em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), e 8 pacientes precisando do auxílio de ventilação mecânica (respirador).

A taxa de ocupação das UTIs SUS exclusivas para Covid-19 em Curitiba – divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde na sexta-feira (8) – revelou que as 169 unidades disponíveis trabalham com 49% de lotação (83 leitos). Na terça-feira (12), foi informado que 90 leitos estão ocupados e 209 estão ativos. No total, são 468 vagas e 301 ocupadas, o que representa uma ocupação de 64% dos leitos de UTI SUS exclusivos para Covid-19. A Secretaria também anunciou a ativação de 40 leitos extras na ocasião. Sem essas novas vagas, o percentual de ocupação estaria em 70%.

Segundo relatório mais recente do Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgado em 2018, Curitiba tinha 766 leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), com uma proporção de 40 leitos a cada 100 mil habitantes, tanto no SUS quanto na rede privada. A partir do dia 27 de março, a Secretaria Municipal de Saúde aumentou em 31% a capacidade dos hospitais, adicionando 237 novos leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) nas redes pública e privada.

Dados devem ser usados no combate à doença, dizem especialistas

Com mais de 40 anos de experiência médica e clinicando atualmente via teleconsulta, a médica Sueli Stabile avalia positivamente o levantamento realizado, desde que os dados sejam utilizados para ajudar a população dos bairros mais vulneráveis. “Esse zoneamento por bairros é muito interessante, porque permite que o sistema de saúde veja as vulnerabilidades de cada bairro e atenda primeiro as regiões mais críticas. É hora de dar mais recursos de higiene e orientação para as pessoas que necessitam, para reduzir essas desigualdades e manter todos protegidos”, afirma.

A médica infectologista Susanne Edinger Pereira também o distanciamento social, pois se baseia nos cálculos matemáticos dos impactos dessa medida na transmissão do vírus. “Apesar da Medicina não ser uma ciência exata, a Matemática anda lado a lado com ela, porque mas quando vemos os números de casos, podemos estabelecer se estamos acertando ou errando nas medidas de isolamento com um atraso de algumas semanas, já que as atitudes que adotamos hoje têm impacto em 14 dias”.

Embora as projeções matemáticas auxiliem os profissionais de saúde e gestores públicos a tomarem decisões e a adotar políticas públicas no combate ao vírus, Susanne alerta que o comportamento da doença ainda é desconhecido. “Apesar do crescimento dos casos seguir um padrão matemático, não se pode determinar com antecedência qual será o número de doentes ou de pacientes graves em uma região, porque essa doença tem variada apresentação clínica, inclusive dentro do mesmo grupo etário”.

Para que o zoneamento dos casos de coronavírus em Curitiba tenha o efeito esperado e mantenha o maior número de pessoas em casa, a médica Sueli explica que o esforço deve ser coletivo. “É muito difícil, em uma sociedade individualista como a nossa, incutir o respeito ao próximo, ainda durante a vigência da pandemia. Isso é uma medida preventiva. Respeitar as medidas de higiene, usar máscara, é um respeito para com você e para com o seu próximo. O exemplo tem que ser dado por todos e tem que vir de cima, coisa que não se vê no governo atual”, afirma.

Curitiba confirma mais duas mortes

Divulgado nesta quarta-feira (13), o boletim da Secretaria Municipal de Saúde registrou mais duas mortes pelo novo coronavírus em Curitiba, totalizando 31 óbitos. Não foram registrados novos óbitos de quarta (13) para quinta-feira (14).

Uma das vítimas foi uma criança de 5 anos, o primeiro óbito de uma criança moradora da capital pelo novo coronavírus. De acordo com uma nota de pesar divulgada pelo Hospital Pequeno Príncipe, a criança tinha um histórico de doenças neurológicas graves. Ela estava internada desde o dia 22 de abril em virtude de uma crise convulsiva, mas morreu pelo agravamento de sua condição pré-existente causado pela Covid-19.

A segunda vítima foi um idoso de 80 anos, portador de doença cardiovascular, internado há uma semana. Além dos óbitos confirmados até agora, a secretaria já investigou 198 mortes por suspeita de Covid-19, sendo 191 descartadas e 7 em investigação.

Importância da prevenção

Respeitando o distanciamento social desde o início da pandemia, a enfermeira Dircéia Pereira dos Santos Martins tornou-se uma defensora ainda mais convicta da medida depois de contrair o vírus. “É perigoso sair nesse momento. Quem pode tem que ficar em casa. Tem gente que não pode e tem que trabalhar, fazem parte dos serviços essenciais, mas quem pode tem que ficar em casa sim, usar máscara e fazer o distanciamento”, afirma Dircéia.

A infectologista Susanne Edinger nota que, embora a curva de contágio da doença esteja aparentemente estável em Curitiba, isso não permite o afrouxamento das medidas de isolamento. “Talvez Curitiba tenha medidas de resposta mais precisas por ter um modelo de saúde pública mais bem estruturado, mas se todos adoecerem ao mesmo tempo, as dificuldade de prestar um bom atendimento vão aumentar, assim como o número de mortos, infelizmente”, alerta Susanne.

De acordo com a médica Sueli Stabile, “a população precisa não só de orientação, mas de bons exemplos e de condições para se proteger”. Ela alerta que as políticas públicas de combate ao novo coronavírus devem incluir medidas para erradicar as desigualdades no acesso aos recursos básicos de higiene. “O grande problema no Brasil é a diferença de condições aos quais cada classe social tem acesso para se proteger. O acesso à água para lavar as mãos ainda é muito restrito em alguns bairros”, afirma. Essa situação fica ainda mais grave neste ano, no qual o Paraná deve adotar o uso racional de água para enfrentar a pior estiagem desde 1997.

 

[box] Um vírus democrático

Depois de superar a Covid-19, a enfermeira Dircéia Pereira dos Santos Martins reforça que não somente os profissionais de saúde, mas toda a população está exposta ao vírus. “Qualquer um pode pegar. Se você tiver algum problema de saúde, mais fácil ainda. O vírus não escolhe bairro, classe social, aparência, idade, nada disso. No hospital, nós tivemos casos tanto de enfermeiros e médicos que estão na linha de frente, quanto de pessoas mais simples, empresários e políticos”, afirma.

Dircéia conta que teve sintomas leves, como dores no corpo e nas articulações e tosse seca, e que não precisou ser internada. Durante a quarentena, ela se hospedou em um flat, longe de casa e da família, com medo de transmitir o vírus para o marido, que é diabético e faz parte do grupo de risco. “Essa doença é muito difícil. É triste ver uma pessoa com coronavírus, sabe? Lidar com os sintomas sozinho não é fácil. Isso que o meu caso ainda foi leve, fiquei longe da família por pouco tempo, e por precaução. Mas para quem está com o caso grave, lutando entre a vida e a morte nos hospitais, deve ser mais triste ainda.”[/box]

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