Isolamento aumenta vulnerabilidade social de pessoas com deficiência

por Vanessa Caroline Guimarães
Isolamento aumenta vulnerabilidade social de pessoas com deficiência

Instituições assistenciais passam a atuar de forma remota e dificuldades financeiras se agravam

Por Eduardo Veiga, Julia Mello e Vanessa Guimarães | Foto: Pixabay

A pandemia do Covid-19 aumentou a vulnerabilidade social de pessoas com deficiência. As medidas de isolamento têm comprometido a atuação de instituições que fazem acompanhamento assistencial, bem como favorecem casos de violência contra deficientes. Além disso, beneficiários do auxílio mensal à PCDs de baixa renda têm sofrido dificuldades pela falta de outras fontes de renda.

Dados do IBGE mostram que, no Paraná, 21,4% da população possui algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora e/ou intelectual. Em Curitiba, a taxa é de 20%.

Na sede paranaense da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade (Apabb), os atendimentos durante a pandemia estão sendo feitos de forma remota, por meio de ligações de voz e vídeo. Os projetos migraram para as plataformas digitais em forma de lives. A preocupação é com a saúde mental dos alunos da Associação, pois será um grupo que terá a retomada lenta das atividades. “A gente trabalha a vida toda para tirar eles de casa, para vir a pandemia e fazer totalmente o inverso do que queríamos”, diz a gerente regional da Apabb, Mariana da Costa Dolny.

A Escola Especial São Francisco de Assis paralisou completamente suas atividades coletivas. A instituição, que trabalha exclusivamente com pessoas com deficiência intelectual severa, atende 225 alunos. O Paraná é o único estado do Brasil que possui escolas de educação especial regulamentadas.

Para a diretora geral da São Francisco Maíra de Oliveira, o completo isolamento causa um retrocesso no desenvolvimento dos alunos. “Há maior desorganização do comportamento, algumas estereotipias acabam aparecendo mais, a incidência de agressividade deles aumenta. Eles acabam perdendo algumas habilidades que são treinadas durante a dinâmica escolar”, afirma Maíra. Ela ainda enfatiza que para evitar um aumento da intolerância no ambiente familiar, “cuidadores e familiares acabam tendo que lidar com mais paciência nesse momento”.

O relatório de 2019 feito pelo Disque Direitos Humanos aponta que 69% das denúncias de casos de violência contra pessoas com deficiência ocorreram na casa da vítima. Os principais agressores são os próprios familiares, com irmão (29% das denúncias) em primeiro lugar, seguido por filho (17%), mãe (11%) e pai (7%). O principal tipo de violência é negligência, compondo 41% dos registros.

“O isolamento em casa favorece casos de violência. A pessoa com deficiência acaba permanecendo com a comunicação restrita” comenta a psicóloga da Psicóloga da Rede de Atendimento Integrado às Pessoas com Deficiência em Situação de Risco, Fernanda Primo. Fernanda reforça a importância de associações e escolas especiais, “pois são os principais meios de denúncia de violações sofridas”.

Problemas financeiros

O isolamento também agravou dificuldades financeiras. De acordo com a assistente social da Associação de Deficientes Físicos do Paraná, Priscila Souza, a maioria dos 320 associados à instituição têm sofrido com a falta de recursos. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em 2017, apenas 1% dos brasileiros com alguma deficiência estavam inseridos no mercado de trabalho.

Segundo Priscila, o benefício mensal de um salário mínimo concedido à pessoas com deficiência de baixa renda sempre foi insuficiente para suprir necessidades básicas. Com a pandemia, esse quadro se agravou. “Pessoas com deficiência acabam tendo mais gastos. Cadeirantes, por exemplo, precisam gastar com fraldas, medicamentos, transporte entre outros”, afirma.

Apesar de existirem políticas públicas voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência, Mariana Dolny ressalta que elas não são realizadas de forma eficiente. “O problema é que temos várias políticas e as pessoas não dão segmento. Novas (políticas) seriam importantes somente para preencher lacunas, pois sempre temos demandas diferentes, mas temos que fazer valer as que já existem”, diz.

“Sempre tivemos problemas com alimentação e financeiro com essas pessoas, mas eram problemas pontuais. Com a pandemia, como são pessoas em situação de vulnerabilidade, tivemos essa demanda tudo de uma vez. A APABB nunca foi assistencialista, e a associação está fazendo cestas básicas para auxiliar essas pessoas,” acrescenta Mariana.

Qualquer pessoa pode se voluntariar, e o trabalho voluntário é sempre necessário. Neste período, o trabalho é feito de forma remota para evitar aglomeração.

[box] A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi adotada em 2006, na Sede da Nações Unidas em Nova York, com o objetivo de mudar as abordagens para essas pessoas. A Convenção é um tratado internacional com o intuito de inclusão e reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência, capazes de reivindicar esses direitos e tomar decisões por suas vidas.[/box]

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