Crescimento de brechós em Curitiba durante a pandemia evidencia nova forma de consumo

Lojas de roupas estão adaptando seus modos de venda e atendimento às plataformas online
Por Bruna Colmann e Rochelly Renosto | Foto: Brechó Mabila
A indústria da moda foi um dos setores da sociedade afetados pela pandemia do novo coronavírus. Alguns brechós e lojas de desapego de Curitiba, por exemplo, aderiram às plataformas virtuais para realizar seu trabalho, fazendo com que os consumidores repensem o modo fast fashion de produção. Empreendimentos que vendem roupas usadas fazem parte do conceito de moda sustentável, pois visam aumentar o tempo útil das peças, gerando assim formas conscientes de compra e venda de produtos.
A professora, coordenadora do Lab Fashion PUCPR e diretora executiva da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisa em Moda (ADPM), Taisa Vieria Sena, comenta que, em contraposição à diminuição do consumo devido à pandemia da Covid-19, houve um aumento na preocupação das pessoas em suas formas de consumir, que agora identificam quais são suas reais necessidades.
Taisa pensa que a relação entre moda sustentável e brechós vai além da ideia de desapego, visando alcançar o aumento do tempo útil de uma peça. “As pessoas passam a consumir por mais tempo as suas roupas. Elas customizam e vendem para brechós, plataformas entre outros ambientes.”
A professora acredita que as perspectivas do mundo da moda em 2021 compõem um cenário mais desenhado pela busca da moda sustentável, que já vem traçada como uma macrotendência. “Isso com o tempo vai ter um impacto na forma de consumir moda, por exemplo, buscando produtos mais rentáveis, produtos com um processo produtivo responsável, que não haja mão de obra escrava e etc.”
Brechós online de Curitiba
Gabriela Kachutski e Malu Mella, sócias do Brechó Mabila, começaram a realizar o desapego de roupas na internet durante a pandemia do novo coronavírus. Pela disponibilidade de tempo e após perceberem que não utilizavam todas as roupas que tinham, entenderam que precisavam dar um destino às peças. “Por voltarmos a nossa atenção para dentro da nossa casa durante esse período, conseguimos perceber que existem peças no nosso guarda-roupa que não usamos há anos, e se não fosse a pandemia não teríamos esse tempo para voltar a nossa atenção à isso”.
Elas acreditam que os brechós possuem grande importância e contribuição à moda sustentável, pelo consumo consciente, reutilização das peças, dentre outras coisas que proporcionam. “Esse tipo de comércio incentiva as pessoas a serem mais sustentáveis. Mesmo que o consumidor não se importe com esse ideal, ele deixa de comprar no fast fashion, o que de certa forma auxilia no processo da sustentabilidade.”
A estudante de Jornalismo e fundadora da SE Glamour (loja online que trabalha com desapego de roupas), Évelyn Rodrigues, sempre teve a vontade de criar um brechó para vender suas peças de vestuário. A pandemia do novo coronavírus oportunizou o tempo necessário para que ela colocasse a ideia em prática. Évelyn se surpreendeu com a grande procura de clientes pelo empreendimento, até mesmo outras pessoas propuseram parcerias para divulgarem suas próprias peças na página da SE glamour.
Ela acredita que atualmente muitas pessoas estão “embarcando” na moda sustentável e entendendo que moda e estilo não são sinônimos de preços altos. A estudante pensa também que a internet, de forma geral, oferece importantes ferramentas para que essa forma de consumo atinja ainda mais clientes. “Hoje em dia, vejo que as tecnologias favorecem muito a divulgação de brechós e o Instagram é o ambiente que tem mais potencial para essas lojas!”.
A recepcionista, cozinheira fit e cliente da SE Glamour, Lucilene de Lima começou a comprar roupas em lojas online de desapego a partir da metade de 2020, devido à pandemia da Covid-19. Ela acredita que esse tipo de comércio contribui para uma moda mais sustentável, “Só pelo fato de reduzir um pouco dos poluentes gerados pela produção de roupas, calçados, entre outras coisas, já é ótimo! Mesmo que seja em pequena escala, já não impacta tanto o meio ambiente.”
Lucilene pensa que as lojas de desapego de roupas são importantes tanto para os clientes quanto para os vendedores, principalmente no período em que estamos vivendo “Por não podermos gastar tanto e estarmos impedidos de frequentar alguns estabelecimentos, acredito que as lojas de desapegos ajudam ambas as partes: quem quer gastar pouco em uma peça de qualidade e quem quer ter uma renda extra com produtos que não serão mais utilizados.”
Tendências do mundo da moda
A professora de design e coordenadora do Lab Fashion PUCPR, Taisa Vieria Sena, acredita que a tendência do consumo compartilhado está sendo realizada de forma mais lenta durante a pandemia. Nesse modelo, os clientes realizam assinaturas mensais e podem utilizar um determinado número de peças da loja por mês. Finalizado o prazo, devem “passar para frente” as roupas, evitando assim o descarte das peças e o consumismo excessivo.
Como as roupas são reutilizadas e compartilhadas pelos assinantes, a tendência do consumo compartilhado reduziu durante a quarentena, visto que as pessoas ficam receosas em vestir peças já utilizadas antes. Por isso algumas empresas estão investindo nos processos de sanitização das vestimentas, para que as mesmas cheguem aos clientes com segurança.
Outra percepção da professora durante a pandemia foi a busca por linhas de roupa homewear. Como a maior parte das pessoas estão trabalhando e estudando de forma remota, foi necessária uma busca por vestimentas mais confortáveis. A moda fast fashion foi impactada, pois nesse momento os consumidores estão procurando outro tipo de roupa.
Taisa também comenta que a internet é um meio cada vez mais recorrente para o consumo da moda. Percebe-se que compras online em sites e aplicativos são ferramentas que fazem parte da vida do cliente atual. Ela destaca o e-commerce e o m-commerce como canais de compra e venda em constante ascensão.
Looks de natal e ano novo
Confira algumas dicas simples do Brechó Mabila e da SE Glamour para transformar looks de natal e ano novo sem sair de casa:
- Adapte calças jeans antigas fazendo rasgos, deixando a peça mais descolada
- Pegue uma camisa branca/preta de botões que está parada há tempos no guarda-roupas. Utilize a peça apenas com os botões do meio fechados. A parte de cima pode ter o estilo “ombro caído” e a parte de baixo pode ser amarrada
- Utilize tintas para tecido para mudar a coloração de peças antigas
- Coloque miçangas nas roupas para enfeitar
- Amarre as peças de formas diferentes
- Corte as roupas antigas e crie um novo look
- Transforme camisetas em croppeds
- Transforme calças jeans em shorts
- Adicione técnicas de bordado às suas roupas
- Procure peças que te deixem confortável e que você consiga expressar a sua personalidade por meio da exclusividade da sua roupa