Aramis Chain, dono de livraria histórica e premiada é um dos últimos livreiros curitibanos

por Ingrid Poltl
Aramis Chain, dono de livraria histórica e premiada é um dos últimos livreiros curitibanos

Aramis Chain posa ao lado de seu livro favorito de seu acervo, O Homem Medíocre de José Ingenieros | Foto: Breno Zottis Gallina

O livreiro conta sobre a educação e os valores do Brasil atualmente e a importância da leitura para o desenvolvimento do homem e de sua nação.

Por Breno Zottis Gallina, Ingrid Poltl e Laura Kaiser

Há mais de 60 anos, em frente à reitoria da Universidade Federal do Paraná, Aramis Chain conta com um grande acervo de títulos acadêmicos e literários em sua livraria, que permanece no mesmo local desde sua abertura. Com mais de 80 anos e graduado em História, Enfermagem e Administração pela UFPR, Chain se tornou uma figura muito conhecida entre alunos e professores, além de moradores da região, por seu caráter amigável e confiança em seus clientes. 

O nome inicial da livraria era “Uma Nova Ordem” mas logo foi alterado para “Livraria do Chain”, já que seus clientes indicavam o local desta forma, pela popularidade do dono. Além da grande popularidade, Chain relata que baseia seu comércio no famoso acordo “fio de bigode”, no qual uma pessoa dá sua palavra de que irá voltar para pagar o que deve. Para ele, a confiança e a honra da palavra, apesar de quase extintas no Brasil, devem prevalecer entre seus clientes, a quem ele chama carinhosamente de “amigos”. 

A inspiração para a abertura de sua livraria, que se tornou tradicional e uma das únicas restantes em Curitiba, veio de sua juventude durante seus anos de graduação. Ele conta que, muitas vezes, os livros pedidos pelos professores ainda não se encontravam disponíveis no Brasil ou não eram traduzidos, assim, surgiu a ideia de iniciar uma livraria que contava com os mais diversos títulos que ainda não estavam disponíveis no mercado brasileiro. Na época, ele foi pioneiro na importação de livros universitários e escolares da Europa, principalmente de Portugal e Espanha.  

Chain, atualmente, mora em sua própria livraria. Em momentos de insônia, possui a companhia de seus livros. Afinal, ao atravessar uma portinha nos fundos do segundo andar, ele pode escolher qual livro quer ler, relata ele. O amor pela literatura e por sua livraria também é demonstrado pelo grande conhecimento das obras presentes em sua loja. “Sempre que me perguntam quantos livros já li, respondo: já li e reli todos os livros daqui”. 

Ao longo dos anos, a livraria recebeu duas homenagens de diferentes jornais, Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo. Apesar de não ter transferido sua assinatura para o formato digital do jornal, Aramis deixa exposto suas conquistas na livraria em jornais impressos.

Homenagem da Gazeta do Povo em 1993

Apesar do grande reconhecimento nacional, Chain conta que o fato de as pessoas terem se acomodado a comprar livros online fez com que diversos comércios sumissem da capital, inclusive as livrarias. O grande problema é ” a mediocridade, não só no país como no mundo todo, cresceu e a através da internet, de celulares e outros aparelhos o livro foi deixando de lado”. Isso resume um grande problema para seu negócio nos dias de hoje. Ele acrescenta: “hoje tem muitas pessoas que trabalham com o produto vendo apenas como dinheiro, como grana, mas o livro é diferente de todas as áreas”. 

Eduardo Tirapelle é um dos clientes da livraria e a frequentava há muitos anos, principalmente enquanto estudava na faculdade. Ele conta como a alma e o coração do negócio giravam em torno do Chain e que ela deve continuar a mesma por isso, apesar das grandes mudanças no comércio. “A relação do  dono com os clientes era muito prestativa, atenciosa e pessoal”. Apesar de ter se mudado de Curitiba após sua graduação, voltou para a capital alguns anos depois e ainda recorda com carinho seus momentos na livraria.   

Além disso, Chain comenta na visão das pessoas sobre os livros, atualmente, “você não usa o livro, você lê o livro”. Para ele, a ideia de que os livros se tornam algo usado, não reflete a eternidade dos livros e faz com que as pessoas os descartem em sebos ou em outros lugares. Para ele, os livros são mais do que simples papeis e literatura. Eles podem emocionar. 

O dono e a livraria contam com diversas histórias, uma das mais marcantes para Aramis foi na qual um homem chegou e pediu um livro para deixar de recordação para seu filho, já que ele iria se mudar para o Oriente Médio. Por acaso, tinha o livro “Adivinhe o Quanto eu Te Amo”, que faz uma analogia de amor entre pai e filho através de coelhos, onde os personagens fazem jogos até o filho descobrir o quanto é amado. “Os livros são assim, eles transbordam valores”, afirma. 

Os livros e a livraria se encontram em um cenário onde o brasileiro se acostumou com a comodidade. De acordo com a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2024, houve uma queda de 8% na comercialização de exemplares no mercado literário em 2023, em comparação com 2022. Já a venda de livros digitais teve aumento de 14%. A internet fez com que as pessoas não precisassem sair de casa para realizar as suas compras, fazendo com que muitos estabelecimentos menores ou mais antigos estejam fechando. Para Chain, que afirma que existem pessoas que ainda amam livros, ele mesmo sendo uma delas, a compra e a ida à livraria ainda se torna uma experiência diferente e única. Para os que ainda compram fisicamente, “a livraria contribui para que vem até ela”, já para as outras pessoas, a livraria já não pode contribuir com mais nada.

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