Artista curitibana sonha em criar ateliê especializado em arte de vidro em Curitiba

por Lara Wilsek
Artista curitibana sonha em criar ateliê especializado em arte de vidro em Curitiba

Désirée Sessegolo é um destaque internacional e tem esperanças que a arte em vidro expanda no Brasil 

Por: Lara Wilsek | Foto: Lara Wilsek

Désirée Sessegolo é uma designer e artista visual curitibana que ganhou reconhecimento mundialmente com suas obras feitas de vidro. Ela participou de cinco edições do principal festival internacional de arte de vidro, o The Venice Glass Week, com suas criações sempre estando na exposição principal. Além disso, teve seu trabalho exposto na Bulgária e Costa Rica, e ganhou prêmios no Reino Unido, Argentina e Colômbia. Em 2022, realizou o primeiro salão de arte em vidro do Brasil, no Museu Municipal de Arte, em Curitiba, onde juntou 80 artistas de 9 estados do país.

Nascida em Curitiba, Désirée é descendente de italianos e graduada em Design pela Universidade Federal do Paraná. Ela trabalhou por 30 anos nas áreas de design e marketing comercial, antes de perceber em 2008 que isso não a saciava mais. Então, procurou as artes visuais para extravasar seu potencial artístico, fez dois anos de cerâmica antes de encontrar sua paixão: o vidro.

A artista se interessou pelo vidro por ser um material que pode ser infinitamente transformado, sem perda de qualidade e podendo sempre ser reciclável. Trabalhando sempre pensando na sustentabilidade, Désirée acredita que a reciclagem é importante pois reduz a quantidade de matéria extraída na natureza e evita que material desperdiçado fique entulhado nos oceanos e outros lugares. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro, apenas um quarto do vidro produzido no Brasil é reciclado a cada ano, outro motivo da artista trabalhar sua arte com viés sustentável.

Suas obras são conhecidas pelas cores intensas e por terem furos. Désirée usa a técnica ‘vidro celular’ que foi a própria que desenvolveu, pois as técnicas tradicionais não a agradavam e ela queria ser diferente. “Sou meio teimosa. Eu cheguei em uma técnica minha porque eu fui fazer diferente, não aceitava o que os livros de vidro mandavam fazer, eu fui experimentar os limites, fui além.” Então, ela começou a experimentar diversas formas e acabou percebendo que os erros, quando o vidro ficava com uns furos, a interessavam e começou a explorar isso. “Algumas coisas deram errado, mas eu consegui dar um passo à frente. Não segui todas as leis e normas. Fui experimentar algo novo. Esse é o meu processo criativo”, conta. Assim, ela criou sua técnica, que hoje em dia é a característica e linguagem da sua arte em vidro.

Uma das dificuldades que Désirée enfrenta é a falta de um espaço próprio aqui no Brasil. Segundo a artista, ela usa a sua casa para fazer as obras, mas gostaria de ter um ateliê. “Eu tenho tentado com a Prefeitura, Fundação Cultural e o governo do Estado, um espaço adequado, onde eu pudesse inclusive compartilhar as técnicas de vidro para gerar mão de obra, inclusão social e utilização de vidro reciclável. Ensinar como reutilizar o vidro em descarte e geração de renda”, ela comenta. Na cidade de Vicenza, na Itália, ela conseguiu seu ateliê após uma única conversa com o prefeito. Ela lamenta a dificuldade de se conseguir isso em Curitiba, devido a burocracia e demora do processo.

Segundo Désirée, a arte de vidro tem muito para ser desenvolvida no Brasil, pois considerando o tamanho do país, são poucos os artistas que trabalham com o vidro. Principalmente porque não há escolas, materiais adequados e nem equipamentos. Então, quem trabalha com vidro hoje são pessoas que aprenderam a técnica com outros artistas, lendo ou assistindo cursos pela internet. “Um artista ensina para o outro, fazendo workshop. Não existe escola profissionalizante.” Desde que ela realizou o evento de artes de vidro no MuMa, no bairro Portão, em 2022, ela busca sempre trazer artistas internacionais para palestrar e ensinar a arte e até fornecedores de materiais mais baratos. Outro ponto que ela levanta é sobre como essa arte gira a economia criativa na Itália, até mesmo sustentando a cidade de Murano. Países como Estados Unidos, Japão e alguns na Europa, possuem uma economia criativa forte, o que não é o caso do Brasil. Désirée acredita que é um mercado muito grande a ser explorado aqui.

A sua grande esperança é conseguir implantar um centro especializado nessa arte, chamado ‘O Centro das Artes e Fogo’, pela Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura Municipal de Curitiba. Assim, conseguindo incentivar e ajudar artistas, e para que as pessoas tenham a consciência da importância da destinação correta do vidro. Caso não consiga como governo, ela tentará outras formas. “Ver uma Universidade que tenha interesse em abraçar essa causa, porque dá para trabalhar muito na área de design e arquitetura”, comentou. Désirée pretende continuar tentando expandir a arte em vidro no Brasil a todo o custo.