Bicicletas, canaletas e ciclistas: Fernando Rosenbaum conversa sobre a situação dos ciclistas na cidade

por João Alexandre de Brzezinski
Bicicletas, canaletas e ciclistas: Fernando Rosenbaum conversa sobre a situação dos ciclistas na cidade

Fernando Rosenbaum é sócio da “Bicicletaria Cultural” em Curitiba faz 11 anos. O espaço tem o objetivo de incentivar a mobilidade sustentável na cidade e ser uma rede de apoio aos ciclistas urbanos da cidade. Desde 2003, Fernando realiza com um coletivo de artistas um movimento de ocupação urbana de incentivo e valorização da bicicleta. 

 

Fernando Rosenbaum – Foto: Divulgação/Fernando

 

Você considera sua atuação em prol das bicicletas como um “cicloativismo”?

 

  • Eu me considero um lobista, um cicloativista com essa causa da bicicleta. Um lobista no caso como um elemento da sociedade civil que faz uma costura entre os desejos da sociedade e o poder público. Fui coordenador da Associação Dos Ciclistas do Alto Iguaçu por duas gestões, atualmente atuo como conselheiro. Através da associação criamos uma interface de diálogo com o poder público, possibilitando o desenvolvimento de políticas públicas em prol da bicicleta. 

 

 

Na sua visão, qual o motivo para que muitos ciclistas optem pela circulação pelas canaletas destinadas aos ônibus bi-articulados na cidade?

 

  • Eu vejo que os ciclistas já estavam nas ruas e nas vias onde hoje são as canaletas muito antes dos ônibus bi-articulados ocuparem elas. As canaletas datam da década de 70. Nesta época os ciclistas já optavam por circular em áreas mais calmas e com aclive ou declive mais ameno, onde se sentem seguros. Com a criação das canaletas, sendo estes eixos que cortam a cidade de leste a oeste e de norte a sul, os ciclistas encontraram ali um lugar mais seguro do que dividir a rua com carros, ônibus e motos a todo momento. Porém a canaleta pode ser um lugar perigoso, devido a velocidade que os ônibus bi-articulados, que detém uma grande massa, circulam. Portanto é necessário conhecimento e cuidado ao circular nestas vias. 

 

 

Quais são as possibilidades para uma circulação segura dos ciclistas na cidade? 

 

  • Em 2014 a primeira via-calma foi feita. As vias-calmas são faixas nas laterais das canaletas destinadas ao trânsito seguro dos ciclistas. Essa experiência da via-calma seria uma falsa ciclorrota, pois não possui divisão com tartarugas e os carros podem estacionar ao longo das faixas. Após a inovação, houve a implementação em outras áreas da cidade. Uma das mais recentes é na Avenida República Argentina, onde de fato se transformou em um ciclorrota, havendo pictogramas de bicicletas ao longo destas. Esta via é destinada à circulação em conjunto dos veículos com bicicletas. Acredito que as vias-calmas são a grande solução para migrar os ciclistas para um ambiente mais seguro. Porém se faz necessário a fiscalização e educação dos motoristas e ciclistas para um convívio mais harmonioso no trânsito da cidade. 

 

 

A bicicleta que por muito tempo era considerada uma prática de lazer, se transformou em meio de transporte para muitos. Você enxerga que o poder público acompanhou essa transformação?

 

  • Parece que o ciclista apesar de estar nas ruas antes do automóveis, ainda “pedala” contra a maré. A cidade não é preparada para os ciclistas. Quando acontece um acidente com alguém de bicicleta, não se sabe nem como socorrer, a quem recorrer e nem chamar. Neste momento que os seres humanos estão se dando conta do aquecimento global e de seus impactos, pouco se informa que a bicicleta é uma possibilidade para reduzir a sua pegada diária de carbono. Se fala em carros elétricos e mobilidade elétrica. A bicicleta entra muitas vezes na fala publicitária da cidade, dizendo que tem ciclovias e incentivo, porém na realidade isso não existe. Não existe diálogo entre os ciclistas e a prefeitura, e por isso há a importância de associações que façam a intermediação. 

 

 

Quais outras possibilidades ajudariam no dia-a-dia dos ciclistas?

 

  • Existem diversas ações, como a integração modal, que possibilita o transporte das bicicletas nos ônibus ou bicicletários nos terminais; treinamento para os socorristas quando ocorrem acidentes com os ciclistas; implementação de benefícios por parte das empresas para os funcionários que optem por se locomover de bicicleta, pois hoje em dia, se você diz para o seu patrão que veio de bike, a primeira coisa que é feita é cortarem o seu vale transporte. O que é ridículo, pois é comprovado que o funcionário que vai de bicicleta é mais produtivo e tem um melhor relacionamento com o trabalho. A gente vê que hoje em dia o ciclista circula pelas frestas, cantos e brechas. Não se considerando um elemento do trânsito e trafegando por onde é mais seguro para ele. Muitas vezes é obrigado a circular na contramão, calçada e na canaleta. Por algum motivo eles circulam nessas áreas, ninguém quer correr o risco de um acidente. 

 

 

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