Bloco Azul vira símbolo da memória preservada por ex-alunos

por Vitoria de Oliveira Santin
Bloco Azul vira símbolo da memória preservada por ex-alunos

Antigos estudantes, referências no mercado profissional, relembram memórias vividas dentro do prédio 

Por Lorena Loiola, Maria Eduarda Honorio, Nicole Duarte e Vitoria Santin |Foto: Acervo Ricardo Cassiano Nabhen

A agitação nas salas e corredores marcava diariamente a rotina e a memória dos estudantes no Bloco Azul antes do incêndio. Há 49 anos, o espaço revelava grandes personalidades da universidade para o mundo, profissionais que contribuem com excelência e originalidade para suas profissões em Curitiba e internacionalmente, carregando com orgulho o título de serem filhos da PUCPR. 

O arquiteto Flávio Appel Schiavon ingressou na universidade em 1976, ano de conclusão da construção do bloco. Participou da primeira turma de arquitetura da universidade, considerada o primeiro grupo prodígio de talentos de Curitiba, e acompanhou de perto a construção do prédio. Anos mais tarde voltou à PUCPR como professor, cargo que ocupou durante dez anos. Para ele, o bloco não era restrito apenas à vida acadêmica, mas marcou sua vivência para além do aprendizado. “É um exercício de relacionamentos e por isso mesmo uma experiência completa. No bloco azul conheci a mulher da minha vida, com quem estou casado há 35 anos”.

Atualmente, o arquiteto é sócio-fundador da Baggio Schiavon Arquitetura, escritório referência no cenário da arquitetura nacional, com projetos que implementam tecnologias avançadas e práticas sustentáveis, com soluções que reduzem o impacto ambiental para a cidade. 

Quase 25 anos depois, Juliana Medeiros trilhou um caminho parecido. A arquiteta apaixonada por transmitir experiências e histórias por meio de seus projetos, entrou na universidade no ano 2000. Além das salas de aula, o bloco também era modelo de seus desenhos de observação, atividades de campo que realizava para aprender a desenhar a mão livre, e que a marcaram com carinho e nostalgia. “Lembro-me como se fosse ontem, ficando até tarde no corredor do segundo andar do bloco desenhando cada detalhe desse espaço. Parece que posso sentir o geladinho do piso em que ficávamos sentados, enfileirados desenhando.”

Nos anos seguintes à sua formação, Juliana procurou se especializar em cursos de extensão que complementassem seu conhecimento, como a antropologia, neurociência do comportamento e a cenografia. Assim, tornou-se referência em Arquitetura Emocional, uma abordagem que se preocupa com as emoções e sensações, gerando conexão entre a sensação humana e o espaço físico.

Com as notícias do incêndio, a arquiteta foi tomada por recordações de seu período universitário, e acredita que não foram apenas os bens físicos perdidos. A memória viva também foi prejudicada com o incidente. “As memórias, claro, ficam com a gente, elas ajudam a abrir sorrisos lembrando do que vivemos nesse espaço, do que aprendemos, do que significou para cada um de nós.”

O bloco conhecido pelas pranchetas e maquetes do curso de Arquitetura, também dividia os corredores com o curso de Design. Maurício Noronha, designer e co-fundador da Furf, um estúdio de design industrial renomado internacionalmente, iniciou sua jornada universitária em Design de Produtos, em 2007. Ele acredita que estudar na PUCPR foi a materialização de uma transição da sua vida, e relembra os quatro anos do curso, quando passou por todos os andares do bloco. “É quase como um filme, um flash de centenas de memórias de uma vez. Entrando em sala de aula, apresentando o projeto no saguão, comendo uma pizza ali na praça de alimentação, encontrando o professor no corredor e aprendendo os primeiros softwares nos computadores. Então, acho que o bloco azul é a maior parte da memória que eu tenho da PUC”.

Foi dentro do Bloco Azul que a Furf foi idealizada e apresentada pela primeira vez. A empresa, que completa 14 anos em 2025, surgiu como um projeto entre dois amigos, Maurício e Rodrigo Brenner, que empreenderam cedo e sem imaginar onde poderiam chegar. Com a criação de produtos para as mais variadas áreas, atualmente os projetos estão espalhados em mais de 35 países, desenvolvidos com inclusão, inovação e sustentabilidade. Nesse tempo, a Furf ganhou os maiores prêmios mundiais do design, como o Red Dot, IF Design Award e Cannes. 

O empreendimento fez o designer ser reconhecido pela lista da Forbes Under 30, para profissionais com menos de 30 anos que se destacam em sua área de atuação. Além de ser nomeado, junto com Rodrigo, instrutor da UNIDO, o Departamento de Desenvolvimento Industrial da ONU.

Além de arquitetura e design, outros cursos também já passaram pelo edifício. Na década de 90, o bloco azul abrigava o Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia (CCET). Foi lá que o engenheiro Ricardo Cassiano Nabhen iniciou sua jornada como docente, em fevereiro de 1991. Ricardo teve a oportunidade de se tornar filho da PUCPR, quando realizou mestrado e doutorado no bloco, e logo em seguida passou a ministrar aulas por ali mesmo. “Aquele prédio foi o cenário não apenas do início da minha jornada como docente no ensino superior, mas da consolidação de uma forte comunidade acadêmica.”

Hoje em dia, Ricardo é coordenador dos cursos de Engenharia Elétrica, Eletrônica e Biomédica, além de ser coordenador da Academia Cisco-PUCPR, e de cursos de especialização ofertados na universidade. Ainda atua como docente, e estava ministrando aula na sala John von Neumann, no Bloco Azul, no momento em que o incêndio começou. Mas com a evacuação rápida dos brigadistas, ninguém ficou ferido. “Perdemos um local que guardava não apenas equipamentos, mas o patrimônio intelectual e afetivo de gerações de profissionais que ali foram formados e que, como eu, tinham o Bloco 2 como um dos principais espaços de trabalho e convivência”, reconhece.

A partir de 2020, com a formação da Escola de Belas Artes, outros universitários passaram a colecionar momentos marcantes no Bloco Azul, a transição do bloco de Arquitetura e Design para Belas Artes acolheu os estudantes de jornalismo, publicidade e propaganda, música, teatro, artes visuais, cinema e relações públicas no edifício.

Confira a linha do tempo dos antigos alunos que passaram pelo bloco azul:

 

 

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