Capitã Marvel representa evolução do protagonismo feminino no cinema

Primeiro filme da Marvel Studios sobre uma super-heroína é a sexta maior estreia mundial da história
Por Marina Prata
Capitã Marvel é um dos primeiros filmes com protagonista feminina no cinema de super-heróis, e tornou-se a produção cinematográfica mais lucrativa feita por mulheres, arrecadando US$ 445 milhões na estreia de acordo com o site Box Office Mojo. O destaque feminino obtido dentro e fora das telas nesse caso é tido como resultado de uma construção colaborativa, que envolve a diversificação na produção e a evolução cultural e social do olhar sobre a mulher.
A produtora de cinema Diana Moro acredita que resumir o protagonismo feminino à época atual é equivocado. “Tivemos grandes protagonistas na história, só que no padrão de uma determinada época e cultura”, defende. O destaque das mulheres hoje resulta, segundo ela, da construção iniciada por personagens mais antigas. “Hoje só temos a Rey em Star Wars porque nos filmes de 1977 havia a princesa Leia”. A produtora ainda cita E o vento levou e O mágico de Oz como exemplos de protagonismo em 1939.
A diferença das protagonistas atuais está mais ligada a quem olha por trás da câmera. “Antigamente os diretores eram quase todos homens, então era comum a imagem da mulher ser feita para agradá-los, o que é chamado de male gaze”, explica a crítica de cinema feminino Emanuela Siqueira. “Hoje, com mulheres fazendo mais filmes mostramos outros olhares, criando female gaze”. Ela pondera que diretores como Ridley Scott, responsável pelas protagonistas de Alien, o oitavo passageiro (1979) e Thelma & Louise (1991) também apresentam esse olhar.
Diana atribui a evolução das personagens às próprias atrizes, que começaram a questionar roteiros. “Quando elas adquiriam notoriedade passavam a exigir personagens melhores, como Audrey Hepburn em Bonequinha de luxo e Jane Fonda em Como eliminar seu chefe, ambos de 1980”.
Ainda por conquistar
Apesar da preocupação com a representatividade da mulher em Hollywood estar cada vez mais em voga, pesquisas atuais mostram que a desigualdade de gênero ainda perdura.
“Há mais personagens masculinos, pois existem mais diretores homens”, explica Diana. Segundo a pesquisa Hollywood Diversity Report (Relatório da Diversidade em Hollywood) de 2018, menos de um em cada 10 cargos de direção são de mulheres. “Produção foi a nossa brecha para ter voz mais ativa no processo cinematográfico”, relata a produtora.
A visibilidade em premiações é peça-chave para combater a desigualdade, mas mesmo com o recorde de 15 mulheres vencedoras no Oscar deste ano, Diana relembra: “em 90 anos de festival, temos só um prêmio de direção e poucos de roteiro. Ainda falta reconhecimento”. A razão para isso, segundo a produtora, está na organização. “Enquanto as mulheres estão produzindo, os homens é que estão conjecturando”.
Representatividade pra quê?
Diana ressalta que a referência de boas personagens femininas é importante para mulheres e meninas se identificarem e se espelharem: “se elas podem, eu também posso”.
A cenógrafa Guenia Lemos, mãe de Siena, oito anos, e Zuri, seis anos, considera que personagens empoderadas fazem diferença para que as filhas questionem os padrões. “É importante as mulheres crescerem pensando que não precisam escolher determinado caminho. Isso têm que ser debatido com jovens para quebrarmos o molde social”, defende.
O filme favorito de Siena é Descendentes, pela personagem principal: “ela é guerreira e cuida da própria vida”. A garota menciona Merida de Valente e Fiona de Shrek como princesas preferidas. Já Zuri gosta da Tiana de A princesa e o sapo: “ela navegou por um rio cheio de jacarés e foi corajosa”. Cinderela pop é a razão pela qual a mais nova quer ser DJ quando crescer.