Ciclistas reclamam da segurança nas ciclovias e ciclofaixas de Curitiba

por Maria Fernanda Dalitz
Ciclistas reclamam da segurança nas ciclovias e ciclofaixas de Curitiba

Entre as principais queixas dos cidadãos estão a falta de sinalização e de investimento, além de má estrutura das vias exclusivas para ciclistas

Por Julia Moreira, Maria Fernanda Dalitz, Mariana Gomes e Natália Volaco      Foto: Maria F V Dalitz

No fim de fevereiro, a morte de Kristofer Enzo Neves reacendeu a discussão sobre a segurança e estrutura das ciclovias em Curitiba. Por falta de pista exclusiva na região, o menino pedalava na canaleta do Capão da Imbuia, quando foi atropelado por um biarticulado. Os ativistas afirmam que não se sentem seguros na cidade e a falta de investimento na ciclo mobilidade possibilita acidentes como o de Enzo. 

O ciclista e editor de vídeo Felipe Gusinski  pedala do centro de São José dos Pinhais e vai até o bairro Rebouças todos os dias. Para ele, por mais que o percurso seja seguro, nem todos em Curitiba são assim. “Em outros passeios pela cidade, já encontrei diversos perigos que dificultam o pedal, raízes de árvores que fazem uma lombada na pista, buracos no pavimento e galhos de árvores que preciso abaixar bem para não bater com a cabeça”, conta. Além disso, ele  avalia que existem várias mudanças que a Prefeitura pode fazer para melhorar a vida dos ciclistas.

“A criação de um número maior de ciclofaixas certamente ampliaria a nossa segurança, assim como campanhas que estimulem o respeito mútuo entre ciclistas e motoristas”

O estudante de Engenharia da Computação Roberto Mikoszewski Neto diz que teve que mudar seu caminho por conta dos perigos das ciclovias. Ele conta que já sofreu um acidente por falta de sinalização. “Ciclovias ainda são muito poucas e, quando tem, são curtas. Ciclofaixas na maioria das vezes ficam mal localizadas, em calçadas com postes no meio ou cheios de obstáculos, e quando é na rua, não somos respeitados mesmo [com ciclofaixas]”.

O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) argumenta que o plano cicloviário é orientado ao incentivo aos deslocamentos por bicicleta e à promoção da intermodalidade e segue os parâmetros estabelecidos no Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal 9.503/97). Desse modo, a meta é que a malha voltada à ciclo mobilidade alcance cerca de 400 quilômetros de extensão até 2025. Em março, a estrutura chegou a 249,2 quilômetros. 

O sócio da Bicicletaria Cultural Fernando Rosenibaum afirma que na atual gestão da Prefeitura não há conversas sobre a ciclo mobilidade de Curitiba. “Em administrações anteriores havia mais diálogo. Conseguimos aprovar pautas como a aplicação da via calma, que fez com que diminuísse em 80% o número de ciclistas que pedalam nas canaletas”, afirma. Além disso, diz que quando foi aplicado maior investimento nas ciclovias, o número de mulheres pedalando subiu em 5% graças ao aumento na segurança.

Segundo dados do relatório do Batalhão da Polícia de Trânsito do Paraná (BPTran), em 2021 foram registrados 333 acidentes com ciclistas em Curitiba. Além disso, nos últimos 10 anos a cidade registrou 3.500 acidentes cicloviários. O plano cicloviário do IPPUC aponta 124 fatalidades entre 2010 e 2018. Dessas, 97 ocorreram em ruas e 26 em rodovias. Entre as causas, 7 mortes foram causadas por falta de infraestrutura e 15 por transitar em local impróprio ou proibido.

A Cicloiguaçu, associação dos ciclistas do bairro Pilarzinho, aponta que a falta de interconexão das ciclovias entre os bairros, de infraestrutura e de conexão com outros meios de transporte retrocedem o projeto da Prefeitura. Para melhorar a ciclo mobilidade, ela é favorável à volta das reuniões com os ciclistas da cidade. “É preciso chamar a população a conversar e participar e expor suas necessidades e atendê-las”.

xA associação também defende que a gestão do município deve adotar um projeto moderno, que inclua os ciclistas. As mudanças podem ser mais simples do que reformar todo o asfalto da cidade. Melhora a pavimentação para os pedestres e a sinalização são essenciais para um bom relacionamento do trânsito com as bicicletas.

Bicicletaria Cultural

Maria F V Dalitz

Há onze anos, a bicicletaria Cultural de Curitiba, sede da Associação do Ciclista do Alto Iguaçu, localizada no centro, na rua Rua Presidente Faria, 226, tem como objetivo apoiar o ciclista urbano com serviços e informações. “Somos reconhecidos por prêmios nacionais, regionais e internacionais”, relata Fernando Rosenibaum, um dos sócios do projeto e gestor da sede.

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O grupo trabalha com aluguel e estacionamento para bicicletas, oficinas comunitárias, serviços mecânicos, almoço social e disponibiliza água e chuveiros para a comunidade. Outro serviço oferecido são as bicicletas comunitárias. Por elas, moradores de Curitiba conseguem por um preço acessível uma revisão de uma bike e a posse dela por até 4 meses.

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A associação é um centro cultural que oferece exposições, apresentações de teatro, cursos de idiomas, instrumentos musicais e programações voltadas às crianças. É também um centro pedagógico para escolas e universidades, onde ensinam sobre cidadania, intervenção urbana e ciclo ativismo.

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Fernando relata que em 2007 um grupo de 40 ciclistas, indignados com a ausência de ciclofaixas na cidade, pintaram a primeira ciclofaixa pirata. “No dia 22 de setembro os ciclistas se juntaram na rua Augusto stresser e pintaram uma quadra de ciclofaixa. A polícia foi alertada e levaram três dos ciclistas na viatura, e o restante foi seguindo o carro de bicicleta”, conta. Após o incidente, os ativistas foram multados por crime ambiental e a prefeitura apagou a faixa.

 

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Após o incidente, houve uma reunião entre os ciclistas penalizados e os integrantes da prefeitura de Curitiba onde os acusados solicitaram abolição da multa e não a obtiveram. A Procuradoria-Geral do Município (PGM) encarou a pintura da ciclofaixa como um ato de vandalismo, de pichação. “Mostramos um estudo para a prefeitura que, com o valor cobrado, daria para pintar 300 metros de ciclofaixa na cidade”, disse Brand, um dos ciclistas penalizados. De acordo com a PMG, a prefeitura não tem nenhum mecanismo legal para diminuir a multa ou fazer a absolvição da cobrança, pois o prefeito poderia receber uma ação do Ministério Público Estadual (MPE) caso o fizesse.