Cine Passeio traz de volta a Curitiba a cultura dos cinemas de rua

por Fatos
Cine Passeio traz de volta a Curitiba a cultura dos cinemas de rua

O complexo, que ocupa um antigo prédio do Exército Brasileiro, promete devolver aos curitibanos o cinema popular

Por Aline Simon

O cinema de rua ganhou um novo espaço em Curitiba com a inauguração do Cine Passeio, na região central da cidade mantida pela Prefeitura e pela Fundação Cultural de Curitiba. O novo complexo cultural conta com duas salas de cinema e estrutura que abrange locais para oficinas. A inauguração faz parte das comemorações do aniversário de 326 anos da cidade e a primeira sessão foi exibida na quinta-feira (28), contando com a presença dos atores Alexandre Nero e Maria Flor.

O prédio traz o conceito dos cinemas de rua e referência dois antigos cinemas de Curitiba em duas salas nomeadas como Cine Luz e Cine Ritz, equipadas com modernos sistemas de projeção e sonorização.

O complexo conta com uma sala multiuso, o Estúdio Valêncio Xavier, Sala de vídeo on demand, para utilização de conteúdos digitais, espaços para cursos, unidade do coworking público municipal Worktiba e, no terraço, uma área para exibições a céu aberto, além de um espaço coberto para eventos e uma cafeteria.

Segundo a gerente do Cine Passeio, Juliane Pedrozo, a cultura pode ser vista de uma maneira muito ampla. “O que acontece em espaços como o Cine Passeio é que eles têm vocação para o audiovisual. Então, existe uma curadoria para isso, mais atenta ao conteúdo que está sendo exibido”. Para ela, o objetivo do local é que as pessoas possam reviver a experiência de sair de casa e ir a um cinema de rua.

De acordo com Juliane, o investimento da Prefeitura no Cine Passeio foi de cerca de R$ 9,5 milhões, com recursos captados pela prefeitura por meio de comercialização de cotas de potencial construtivo. Com área de 2.597 m², o Cine Passeio ocupa uma edificação histórica, classificada como Unidade de Interesse Especial de Preservação (UIEP).

Entrada da sala Cine Luz

Já está em cartaz uma programação de lançamentos e filmes inéditos, nacionais e estrangeiros. As sessões terão horários variados e os ingressos serão comprados sempre na bilheteria a R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia-entrada).

O preço do ingresso, que em alguns cinemas pode custar cerca de R$ 30,00, é uma das grandes vantagens para os curitibanos. Apesar de não ter em cartaz alguns dos grandes sucessos de público e bilheteria, a programação promete valorizar a cultura do cinema de rua.

Segundo o jornalista e crítico de cinema Marden Machado, com o Cine Passeio pensou-se em reviver um tipo de cinema extinto na cidade, em uma área de fácil acesso e que pudesse não só valorizar essa região, mas também “permitir um resgate de uma maneira de ver, entender e discutir o cinema”.

Para Machado, não é por acaso que o espaço não é utilizado apenas para salas de cinema, mas também de diversos espaços para cursos, palestras e oficinas. “Todas as dependências do Cine Passeio visam este objetivo: uma valorização e envolvimento completos com o cinema. Qualquer tentativa de reproduzir espaços culturais, qualquer espaço novo voltado à cultura, será muito bem-vindo aqui”.

Para a jornalista e especialista em cinema Letícia Paretti, o Cine Passeio não é só importante para a cena cultural de Curitiba, mas também do Brasil. Segundo sua pesquisa, dados de 2016 da Agência Nacional de Cinema (Ancine) mostram que entre 2010 e 2016 os cinemas de rua tiveram uma diminuição de -8,6%. Em 2016, em todo o país, apenas 11,1% dos cinemas estavam localizados nas ruas.

Para Letícia, o Cine Passeio servirá para “dar um empurrãozinho para que outras cidades e estados vejam como funcionou aqui em Curitiba, e talvez essa cultura do cinema de rua retorne com um pouco mais de força”.

Entrada da sala Cine Ritz

O cinema de rua é, historicamente, um local de convivência. Em sua pesquisa, Letícia afirma que as pessoas que os frequentavam atestavam que a atmosfera era diferente, mais social. Era o local onde as pessoas flertavam, conheciam seus cônjuges. Ela ainda ressalta a importância dos cinemas de rua na formação de cineastas locais.

O Cine Passeio reúne, portanto, os requisitos necessários para trazer aos curitibanos a cena necessária para que o cinema de rua volte a se popularizar. Curitiba tem mantido essa cultura com cinemas como a Cinemateca e o Cine Guarani, e o Cine Passeio vem para democratizar esse conceito.

 

Arte de rua é regulamentada por decreto da Prefeitura de Curitiba

Artistas de rua sofrem impacto com nova decisão pública sobre as performances de rua

Curitibanos desfrutam da arte de rua na Rua Riachuelo, região central da cidade de Curitiba

As ruas de Curitiba são um palco para as mais diversas formas artísticas – de cinema a exposições de trabalhos manuais e performances de dança, malabares e tantas outras. Um decreto da Prefeitura, porém, publicado em dezembro de 2018, regulamenta as apresentações de artistas de rua na cidade.

A Prefeitura de Curitiba publicou, por fim, após uma série de protestos, o decreto nº 215/2019, que regulamenta as manifestações culturais dos artistas de rua e substitui o decreto nº 1.422, de 18/12/2018, que foi revogado.

De acordo com a jornalista, mestre em cinema e especialista em gestão cultural, Celina Paz Alvetti, existem ações políticas que poderiam ter uma gestão mais participativa, mas são verticais – ou seja, incentivam determinados setores e empresas em detrimento de outras. “Sabe-se que a arte de rua é importante, mas as políticas relacionadas a isso não estão sendo entendidas de modo sensível por parte dos gestores”, conclui.

Os pontos que não foram atendidos, como alterações nas limitações dos níveis de ruído e a exclusão da capoeira do rol de linguagens compreendidas como arte de rua, permanecem no decreto porque estão previstos em lei. Qualquer mudança nesses parâmetros depende, então, de alteração da legislação por meio de processo junto à Câmara Municipal de Curitiba.

“Quando você quer burocratizar isso, você limita esse tipo de movimento cultural [arte de rua], que é espontâneo”, diz o artista de rua André Magalhães, que trabalha com teatro nas ruas da cidade.

O decreto previa que os artistas trabalhassem em regime de revezamento e fossem cadastrados na Prefeitura para poder atuar, incluindo as atividades de teatro, dança, música, capoeira e arte performática. Ainda era estabelecido que cada lugar da cidade tivesse, no máximo, dois artistas trabalhando por dia, com horários definidos. Além disso, o artista não poderia trabalhar mais do que quatro horas por dia. Um grupo de trabalho permanecerá em atividade para que se inicie um processo de discussão sobre as leis municipais relacionadas à atividade dos artistas de rua e que precisam ser alteradas.