Crítica: “Cloud – nuvem de vingança” dá início ao Olhar de Cinema

Em uma fria noite do inverno curitibano, a Ópera de Arame virou palco para a abertura do Festival Internacional de Cinema de Curitiba. O responsável por dar início ao evento foi o filme Cloud do cineasta japonês, Kiyoshi Kurosawa.
Por Beatriz Moschetta Santos | Fotos: Divulgação Cloud
Na noite da última quarta-feira, dia 11 de junho, foi dada a largada para mais uma edição do Olhar de Cinema. A Ópera de Arame se transformou em uma sala de cinema para transmitir o filme de abertura, que diferente dos anos anteriores foram filmes nacionais, esse ano a organização optou por uma estreia vindo diretamente do Japão para o sul do Brasil.
Com os ingressos esgotados e o ambiente lotado, Cloud conseguiu arrancar boas risadas dos espectadores — apesar de ser considerado um drama/thriller psicológico. A maneira como o diretor e roteirista Kiyoshi Kurosawa demonstra a realidade da sociedade contemporânea é diferente do que estamos acostumados em grandes filmes onde tudo parece magicamente acabar bem.
Cloud foi baseado em fatos reais e conta a história de Ryōsuke Yoshii (interpretado por Masaki Suda), um homem jovem que se vê no grande dilema contemporâneo, conquistar dinheiro de maneiras fáceis. Ele, que tem um trabalho não tão satisfatório em uma fábrica de roupas, encontra uma maneira muito mais rápida de enriquecer, vender produtos de procedência duvidosa na internet com preços muito mais altos que os de mercado.
Isso não demora muito tempo para ser descoberto e os clientes insatisfeitos por terem caído em um golpe, vão em busca de quem está por trás do pseudônimo “Ratel”. Yoshii então deve pagar um valor que não é monetário.
O filme mostra esta realidade de forma até escandalosa, é visível como o propósito de vida do protagonista se dita apenas por quantos dígitos aparecem em suas contas bancárias. Até mesmo a amizade e o romance de Yoshii parecem ter seus interesses relacionados com o dinheiro.
O nome do filme ser “Cloud” também não é por acaso, o diretor soube muito bem retratar como a cobiça por sempre ganhar mais e mais dinheiro pode acabar embaçando o olhar de uma pessoa para a sua realidade.
O diretor Kiyoshi Kurosawa não pôde estar presente no evento, porém enviou um vídeo falando sobre sua produção e elogiando o trabalho do ator principal, Masaki Suda que realmente faz um ótimo trabalho retratando o olhar de quem está o tempo todo cobiçando algo a mais.
O desenvolvimento da obra, no geral, é tranquilo e vai trazendo aos poucos uma grande reviravolta. Fazendo até pensarmos em quem de fato confiar, já que aparentemente todos estão ali com o propósito de se vingar pelo dinheiro perdido.
Um dos personagens se esconde atrás de uma máscara, que pode representar de maneira simbólica os jovens que se escondem atrás de um perfil falso nas redes para causar discursos de ódio e intrigas. Representando bem sobre a mensagem que Cloud quer deixar, como os conflitos digitais, cobiça por dinheiro fácil e interesses podem ser cruéis, acabar saindo de trás da neblina e machucar muitas pessoas.
A obra se consagra de um humor trágico para retratar uma realidade social muito presente nos dias de hoje, os reflexos do vazio moral na era da hiperconexão. Cloud foi o representante do Japão na disputa pelo Oscar 2025, com participação nos principais festivais internacionais de cinema. No entanto, não conquistou uma vaga entre os indicados. A estatueta acabou ficando com o Brasil, vencedor da categoria internacional com “Ainda Estou Aqui”.
Após a estreia nacional de Cloud no Olhar de Cinema, o filme chega aos cinemas brasileiros no dia 17 de julho.