Cultura da PUCPR resiste ao incêndio de 15 de abril

por Evelyn Garcia
Cultura da PUCPR resiste ao incêndio de 15 de abril

Mesmo sem um grande palco fixo, a cultura da PUCPR encontrou novas formas de existir, resistir e transformar o cotidiano universitário.

Por: Evelyn Garcia Fagundes | Foto: Divulgação PUCPR CULTURA

O incêndio do Teatro TUCA no Bloco Azul em abril poderia ter silenciado temporariamente a produção cultural da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, mas a reação foi contrária. Grupos artísticos, estudantes e a instituição como um todo mobilizaram-se para mostrar que, mesmo sem um grande palco, a arte e a cultura seguissem vivas no campus. 

A cultura na PUCPR não apenas resiste, ela se reinventa, reafirmando seu papel essencial na formação integral dos alunos, no fortalecimento comunitário e na valorização da diversidade expressiva. A agenda cultural foi retomada com força em maio. Além do grande evento “Quinta na Concha”, destacam-se a exposição “Entre a Vila e Cidade: A Curitiba do Samba” e as oficinas do Cria Ateliê, que promovem experiências sensoriais e históricas sobre territórios caiçaras.

 A banda Galhos Secos, formada por ex-alunos, participou da edição especial do projeto Quinta na Concha e destacou a importância de manter viva a cultura universitária. “ Foram quatro anos vivendo a cultura da PUCPR e ver que ela resiste, mesmo sem o TUCA, nos deixa feliz”, comentam. “Mesmo formados, o Bloco Azul segue em nossos corações e foi muito especial voltar ao campus para apresentar” , declara André Takatuzi um dos integrantes do grupo.

Mais do que estrutura, o Bloco Azul era reconhecido como o coração da Escola de Belas Artes. O teatro, com capacidade para 580 pessoas, não apenas abrigava apresentações, mas simbolizava a dedicação da universidade à arte como parte de sua missão. Não à toa, que diversas instituições culturais da cidade, emitiram notas de solidariedade destacando a importância do TUCA para a cena artística local. “Que a força da cultura e da arte siga inspirando a reconstrução”, publicou a conta oficial no Instagram do Teatro Guaíra na ocasião do incêndio.

O TUCA nasceu da visão do Irmão Clemente Ivo Juliatto e do diretor teatral Laércio Ruffa. Criado para suprir a carência de um espaço adequado para eventos artísticos e acadêmicos, o teatro rapidamente se tornou referência em estrutura e simbolismo.

A estreia oficial, em 1996, teve o grupo Tanahora encenando “Otelo”, de Shakespeare. Desde então, o palco recebeu espetáculos clássicos, experimentais e populares, sempre com a proposta de aproximar arte e formação cidadã. Nomes como Lineu Portela, Laércio Ruffa e Chico Nogueira deixaram suas marcas na direção do teatro e do grupo Tanahora.

Com a interdição do espaço, os grupos culturais precisaram se adaptar. O Tanahora, ativo desde 1980, não teve novo edital em 2024 e segue sem retomada formal em 2025 após o encerramento do contrato do último diretor. Ainda assim, ex-integrantes mantêm viva a memória do grupo.

“Entrei no Tanahora em 2023 e participei das peças ‘Sobre isto, isso e aquilo’, adaptação do Millôr, e ‘Muito barulho por nada’, de Shakespeare” , relembra Lara de Oliveira, estudante de jornalismo. “O Chico Nogueira foi o melhor diretor que já tive e aprendi mais com ele do que em sete anos de teatro, ele e o Rodney lutaram pela arte e por nós, atores” , destaca a atriz.

Lara também compartilha os aprendizados que adquiriu com a participação artística e ressalta a falta que essa vivência faz. “O grupo me ensinou a ser mais flexível,  empática e resiliente e ver que o Tanahora não existe mais é, para mim, um retrocesso enorme para a cultura da PUCPR”, lamenta a estudante.

Foto: Divulgação PUC Cultura

Foto: Divulgação PUCPR CULTURA

 

Sara Oliver, estudante de Nutrição na universidade também reforça os ganhos pessoais e profissionais proporcionados pelo teatro. “ É visível como a gente cresce participando de um grupo cultural, a comunicação melhora, a segurança em falar em público aumenta. Isso impacta qualquer área profissional, porque toda carreira exige comunicação”, afirma Oliver. “O palco me deu uma força que eu nem sabia que existia”, finaliza.

Após solicitação feita ao gerente de Cultura da PUCPR, Douglas Moreira, a universidade esclareceu que o grupo Tanahora segue existindo. ”Não teve edital em 2025, pois o projeto está passando por reestruturação após o encerramento do contrato do último diretor e terá suas atividades retomadas em 2026, com um formato mais dinâmico”.

Outro espaço de valorização da expressão artística é o Café Acústico, promovido semanalmente pelo setor de Identidade da PUCPR. O evento ocorre às terças-feiras, às 12h e às 17h30, na pracinha da Identidade, próximo à Biblioteca Central do Câmpus Curitiba. Aberto a todos os estudantes, o Café oferece um ambiente descontraído para apresentações musicais, encontros e conexões entre alunos de diferentes cursos.

Foto: Divulgação Identidade PUCPR

 

Rick Machado, estudante de Cinema que já se apresentou no evento e agora integra o Coral da universidade, destaca o privilégio de participar desta iniciativa. “Essas atividades me inspiram e me fazem ter um dia melhor, me sinto bem e mais conectado com a faculdade e os alunos, tendo sim uma interação melhor entre todos nós”.

O Coral Champagnat, sob a regência de Rosemeri Paese, mantém apresentações e atividades dentro e fora da universidade. Com história desde 1972, o grupo se apresenta em eventos institucionais e encontros culturais, com um repertório que mescla erudito, popular e canções temáticas.

A Orquestra Experimental da PUCPR, criada em 2012, também se adapta aos novos espaços com criatividade. Voltada ao repertório popular, a Orquestra já encenou concertos temáticos como “Rock in PUC” e “Trilhas Inesquecíveis do Cinema”. Há também a Orquestra PUCPR, de formação profissional, com história desde 1999, e o Quarteto de Cordas, criado em 1993, que seguem atuando com formações versáteis conforme a demanda cultural da universidade.

Ações como o projeto Caminho das Artes e o Núcleo Educativo também ganham protagonismo nesse novo cenário, promovendo o contato com o acervo artístico do campus e estimulando a educação pela arte. Mesmo sem um palco fixo, as expressões artísticas continuam a ocupar cada canto da universidade.

Após um mês de maio marcado pela retomada cultural, as atividades artísticas continuaram em junho no campus da PUCPR. Destaques da programação incluíram rodas de samba, visitas mediadas com curadores e coletivos, e uma oficina de gravura inspirada na obra de Lygia Pape, promovida pelo Cria Ateliê e o Núcleo Educativo da PUCPR Cultura. Além da abertura da exposição Coroados: A Congada da Lapa, na Biblioteca Central,desenvolvida em um projeto da PUCPR Cultura e os cursos de Bacharelado e Licenciatura em História.

Essas iniciativas reafirmaram que a cultura não parou, apenas se reinventou. Mesmo com o encerramento do calendário acadêmico em 28 de junho, a expectativa é de que a próxima edição da Acolhida Cultural, marcada para o início do próximo semestre, retome com força total as atividades interativas e os eventos que tradicionalmente marcam a chegada dos calouros à PUCPR. 

Ainda não há um cronograma definido para a reconstrução do TUCA, mas a universidade afirma que deseja sim restabelecer o espaço. E, mais do que isso, deseja manter vivo o espírito que sempre guiou a presença da arte em seus corredores. 

Foto: Divulgação PUCPR CULTURA

Autor