Curitibanos pagam até 41% a mais em mercados de bairro

Andréia Cristina, consumidora dos dois tipos de mercado, sempre analisa e compara os preços antes de comprar os produtos.
Levantamento exclusivo do Comunicare mostra o quanto os preços de alimentos básicos variam entre mercados de bairro e de grandes redes em Curitiba e região
Por: Beatriz Cecilia, Jeniffer Cristine, Kauany Barbieri | Fotos: Jeniffer Carvalho
Em Curitiba e Região Metropolitana, o preço do mesmo pacote de arroz pode variar até 41% dependendo do local da compra. Enquanto no supermercado Condor, em Campo Largo, o produto foi encontrado por R$ 21,90, em um mercado de bairro no Cajuru o valor chegou a R$ 30,90. A diferença, registrada em levantamento exclusivo da reportagem, revela como a escolha do estabelecimento pode pesar no bolso do consumidor.
A apuração foi realizada entre os dias 19 e 23 de abril em mercados de diferentes regiões da capital paranaense, nos bairros: Cajuru, Sítio Cercado e Campo Largo. Em cada uma das áreas, foram comparados os preços adotados por um mercado de bairro e por uma grande rede varejista. Os dados coletados consideraram produtos da cesta básica de marcas semelhantes e quantidades idênticas. A metodologia adotada buscou refletir a realidade de consumo dos moradores curitibanos e as estratégias que eles adotam diante das variações de preços.
As grandes redes de supermercado, por terem maior poder de compra e amplo volume de distribuição, conseguem oferecer preços mais acessíveis aos seus consumidores. Conforme o levantamento, a diferença de preços pode ser significativa: o feijão, item essencial da cesta básica, foi encontrado por R$ 6,89 em uma grande rede, enquanto em um mercado de bairro o valor chegou a R$ 9,50, aproximadamente 38% mais caro.
Outros produtos também evidenciam essas variações de preços. O leite, por exemplo, teve variação de até R$ 2,40 entre os comércios visitados. A carne registrou uma discrepância de até R$ 17,00 de variação no valor no mesmo corte. Esses contrastes acontecem por causa do maior poder de negociação das grandes redes, que compram em maior volume e podem distribuir de forma mais eficiente, repassando essas vantagens para os consumidores.
Essas diferenças aparecem em um cenário econômico apertado. Segundo dados do Dieese, os preços da cesta básica em Curitiba subiram 3,61% entre fevereiro e março de 2025, e 6,15% em relação ao mesmo período de 2024. O tomate, por exemplo, registrou aumento de 52,13% em um mês. Com essas altas, muitos consumidores têm priorizado a busca por preços menores e as variações entre mercados de bairro e grandes redes têm sido motivo de atenção entre eles.
É o caso de Lurdes Silveira, 68 anos, aposentada e moradora do bairro Itaqui, em Campo Largo, que costuma visitar até três mercados diferentes em busca de economia. “Faço listinha, anoto os preços, olho os folhetos. Quando dá, vou em mais de um mercado. Mas, às vezes, compro no bairro mesmo sendo mais caro, porque é o que tenho perto.” Ela afirma que a confiança e a proximidade pesam na escolha, mas os preços altos a preocupam. “Parece que o dinheiro evapora. No fim do mês, estes dois, três reais a mais em cada item fazem muita diferença.”
O economista Filinto Eisenbach Neto, professor da PUCPR, diz que a diferença de preços dos mercados de Curitiba e região está diretamente ligada ao perfil socioeconômico das regiões atendidas. “Cada ponto de vendas tem uma área de influência. As empresas verificam o poder de compra dos consumidores dessa área e ajustam os preços de acordo com esse perfil”. Essa prática, reflete a desigualdade de acesso ao consumo e tende a beneficiar grandes redes, que têm mais escala e conseguem reduzir custos “O grande varejo tem escala na compra e assim seus custos são menores. No entanto, o varejo pequeno pode defender-se com atendimento e diferenciação”.
A inflação e fatores externos, como a variação do dólar e condições climáticas, também pesam mais sobre os pequenos comércios. “As grandes organizações têm poder de absorver parte da inflação e não repassá-la toda aos preços, já os pequenos varejistas não têm esse poder de ação”, afirma Filinto. Além disso, os pequenos mercados enfrentam maiores dificuldades para negociar com fornecedores, o que limita sua capacidade de manter preços competitivos.
João Carlos Castaldo, morador do bairro São Braz, conta que a diferença entre os mercados vai além dos preços. Ele destaca que os supermercados oferecem mais variedade em produtos embalados e, frutas e hortaliças com mais frescor. “Às vezes, os produtos vêm conservados e com mais opções de marcas”, observa. Já os comércios locais, embora mais próximos, nem sempre conseguem competir em qualidade e preço. “Algumas vezes eu vi que o preço estava muito acima, aí deixei pra comprar quando fosse ao mercado grande”, relata.

Produtos da cesta básica, que ficam encarecidos em mercados de bairro.