Do outro lado do mundo para o Brasil: Kpop conquista os curitibanos

por Equipe Festival de Teatro
Do outro lado do mundo para o Brasil: Kpop conquista os curitibanos

Grupo Feminino de Kpop

Por Gabriel Domingos e Matheus Ledoux

O Museu Oscar Niemeyer (MON) tornou-se um pedaço da Coreia do Sul em Curitiba, lá os grupos de Korean Pop, da abreviação Kpop, reúnem-se todos os domingos para dançar, treinar e compartilhar da cultura coreana.  Muitos estudantes que participam dos treinamentos acabam  formando grupos de dança com outros amigos e inclusive disputam competições que podem gerar prêmios.

O estudante de letras João Dias conheceu e se interessou pela prática das coreografias de Kpop a partir de uma visita ao Museu do Olho. “Eu já tinha um pequeno conhecimento, mas era mais voltado às danças contemporâneas, então eu vim aqui no MON e assisti a uma apresentação que me fez gostar da dança”.

Após a entrada no grupo de dança ShowDown, Dias tornou-se professor das coreografias de Kpop. Foi no começo desse ano que o estudante recebeu uma oferta do amigo Jimmy Verona para participar de uma acadêmia de dança. Dias revela que o trabalho como professor de dança traz uma grande recompensa para o aprendizado. “Nós gostamos muito de dançar, se eu ganhasse apenas 10 reais, o que pagaria a passagem do ônibus, ainda assim eu continuaria indo dar aula”.

Para o professor o único problema são as pessoas que não levam a atividade completamente a sério. Segundo ele há grupos que treinam no próprio MON que podem proporcionar algo mais voltado ao lazer. Ele ainda revela que no grupo ShowDown tinha algumas pessoas que não estavam 100% comprometidas com as atividades propostas.

Dias explica que o sucesso  dessa arte que surgiu nos anos 90, na Coreia do Sul e passou para o Brasil, especialmente em Curitiba, se deve a grande pluralidade de estilos que o Kpop abrange, favorecendo a aproximação do público, principalmente dos mais jovens que se reconhecessem nos artistas. Ele também explica que a escolha do MON como o local de prática se deve ao fato dos reflexos e dos vidros, o que facilita no ensinamento das técnicas.

Uma plataforma muito importante para a ascensão do Kpop é o YouTube, muitos dos jovens fãs da música oriental acompanham seus artistas preferidos via canais da plataforma do Google. Em 2012, um artista do pop coreano já havia surpreendido o mundo, Psy emplacou o primeiro vídeo a ultrapassar 1 bilhão de visualizações no YouTube com a música Gangnam Style.

Camila Pereira conheceu o Kpop através da plataforma do Google e por lá aprendeu a curtir as músicas. Além da identificação com o som e as melodias, Camila diz que o gosto pela dança a fez investir no Kpop, para isso participou da audição do Atlas Dance Group, seu grupo atual. Na audição Camila realizou uma performance de dança e acabou sendo selecionada após passar na avaliação da comissão que julga as coreografias.  Ela conta que foi avaliada por uma comissão composta apenas por meninas.

No Atlas Dance as coreografias são divididas entre o grupo de meninos e o grupo de meninas, Camila conta que os treinamentos são conjuntos e que esse ano pela primeira vez eles estão planejando e ensaiando uma coreografia conjunta. Camila reclama de um pequeno preconceito contra a música coreana, de acordo com ela, algumas pessoas têm por hábito desvalorizar as melodias sem nem mesmo ouvi-las simplesmente pelo fato de não possuírem o hábito de ouvir Kpop.

Fã dos grupos de Kpop, Camila já viveu grandes aventuras para acompanhar os shows de seus grupos favoritos. Em uma delas a dançarina construiu um trabalho fotográfico com a temática da música oriental, organizou a produção dessas fotos para pôsteres e com as vendas que vieram posteriormente conseguiu financiar a viagem para São Paulo onde acompanhou um show. Agora um sonho distante para ela é conhecer a Coreia do Sul, segundo ela, a cultura do país e a estrutura de suas cidades são grandes atrativos.

Para Camila a dedicação vai além das horas de ensaio e treinos de dança, universitária, ela divide o tempo entre os estudos e o Kpop. Segundo ela, a semana é toda reservada para a produção dos trabalhos acadêmicos enquanto nos finais de semana o tempo é dividido entre a dança e a busca pelas notas na faculdade. Ela conta que por vezes vai ao MON com o material de estudo e nos intervalos do ensaio aproveita para praticar os exercícios da universidade.

Outro participante do Atlas Dance Group é Fabio Niki, ele é um dos responsáveis pela seleção e produção de coreografias e conta que são necessários alguns dias de ensaio para acertar tudo. “São pelo menos quatro ensaios para passar a coreografia e adquirir entrosamento com o pessoal, e mais dois para arrumar os erros e posicionamentos, tudo isso levando de um a dois meses de encontros”. Outro desafio a ser superado é a timidez e a falta de prática no início, para Fabio a habilidade é construída com muito treinamento.

Outra motivação para os grupos é a participação em eventos de dança que oferecem premiações, Fabio conta que alguns dos eventos oferecem até 3 mil reais para o primeiro colocado nas competições. O grupo de Fabio e Camila tem conquistado o espaço no cenário nacional com a participação e conquistas em eventos, os dois contam que alguns dos colegas já têm demonstrado habilidade e conquistado premiações nos concursos.

Um dos grupos presentes todos os domingos no MON, o Mângata, começou no ano passado a partir de um trabalho de educação física. Paula Ceschin diz que a intenção da disciplina de educação física no ensino médio era trabalhar a expressão corporal, por meio da dança e do Kpop ela e seu grupo conseguiram fazer um bom trabalho e mantem-se na atividade até hoje, como forma de lazer.

Paula e as amigas do grupo Mângata organizam-se neste ano de 2018 para custear uma viajem até a Coreia do Sul, a terra do Kpop. Lá o interesse das garotas é aprimorar os conhecimentos sobre o estilo musical, que virou febre no Brasil, e também visitar os familiares que moram por lá.

Com as equipes e grupos de dança formados, um dos muitos benefícios para os adolescentes que participam é o estreitamento dos laços de amizade. Apresentada ao Kpop pela amiga, a estudante Juliana Jenssen faz parte de um dos grupos de dança há mais de dois anos.

Segundo Juliana, para a entrada no grupo é necessário uma audição teste para que sejam selecionados os novos membros. Juliana também diz que é necessária uma audição quando são realizadas coreografias com maior número de pessoas, dessa maneira mais pessoas são chamadas para ajudar na realização do trabalho.

No domingo, 17 de junho, Felipe Magalhães fã do Kpop há mais de 5 anos, retornou para os ensaios no MON. Ele conta que no começo os treinamentos eram mais vazios, com pouca participação do público, foi  após o estouro de popularidade do estilo que o Museu do Olho começou a ter grande frequência de pessoas que se tornaram fãs da música. Magalhães diz que permaneceu um tempo ausente, pois costuma caminhar contra as tendências, então quando todos passaram a explorar a área tradicional, ele foi buscar o diferente.

Magalhães também faz parte da comunidade que fez novas amizades a partir dos grupos de Kpop. Em 2011 quando descobriu o estilo musical coreano, ele também foi apresentado ao grupo Rebirth, do qual ainda faz parte, por um amigo. A partir daí ele foi estreitando relações com os participantes do grupo, o que o motivou a começar as atividades de dança. Ele e o grupo participam também dos eventos e concursos de dança, os locais são variados, porém Magalhães destaca que São Paulo tem grandes encontros da cultura Kpop.

Magalhães também foge das tradições ligadas em conhecer a Coreia do Sul, para ele trata-se de uma oportunidade, caso ela aconteça seria de grande valor, porém não se trata de nenhuma obsessão. De acordo com ele, a mudança no pensamento também se deve a maior experiência que adquiriu com a idade. “Antes eu pensava muito em ir para a Coreia, algo como uma obsessão, mas agora eu priorizo conhecer novas pessoas e culturas nos lugares para onde eu vou”.

Quem também transformou em rotina passar as tardes de domingo no MON, curtindo a música oriental, foi a estudante de fotografia Jhenyffer Mansur. Ela conta que dançar não é o seu forte, mas reúne-se com os colegas para aproveitar os momentos de amizade, e exercitar as habilidades na fotografia. “O pessoal aqui quer que eu comece a dançar, mas eu não tenho muito interesse nisso não (risos). Mas eu gosto de vir aqui, pois é um espaço onde buscamos confraternizar e aproveitar as amizades”.

Jhenyffer acompanha de perto a luta dos colegas para conseguir recursos para participar de eventos e competições. “Não tem ninguém rico aqui no grupo, todos eles lutam para conseguir dinheiro, eles vendem biscoitos, fazem trabalhos, e vão arrecadando por um longe tempo até ter condições de irem para as viagens”.

O YouTube influenciou também Gabriele Kaston, do grupo Pandora, a começar nos grupos de dança do Kpop. Segundo ela, a irmã começou antes a ouvir as músicas do estilo e também a frequentar os encontros no MON. Posteriormente as duas passaram a fazer parte do grupo Pandora, e após a saída de algumas integrantes mais antigas, hoje elas são as duas líderes do grupo.

Gabriele também ressalta o esforço que todos os grupos destinam as atividades, para ela é interessante ver como todos se preparam com muita dedicação para apresentar a melhor coreografia possível em eventos. Dentro do grupo Pandora, Gabriele conta que a preparação de uma apresentação chega há durar três meses entre a escolha da música, a observação do trabalho original, a discussão com as meninas do grupo para adaptar a coreografia e os ensaios.

A empresária Cintia Zampieri esteve no MON, domingo, 17 de junho, para prestigiar a exposição Ásia, e acompanhar a filha no encontro dos kpopers, participantes do grupo de Kpop. Ela conta que a filha foi uma grande influência para que começasse a gostar do ritmo musical. “Eu sou mais fã de Madonna e outras músicas americanas, mas sem dúvida passei a gostar desde que minha menina se tornou uma fã”. Cintia também conta que apoia as idas da filha nos encontros, para ela é uma oportunidade para a prática de exercícios e também para construir novas amizades.

Um dos mais famosos grupos de Kpop do mundo, o Blackpink, teve o lançamento de uma música do novo álbum no YouTube, no último final de semana, em menos de três dias o clipe já possui mais de 60 milhões de visualizações.