Em ano repleto de eventos, figuras locais contam como é viver de rock em Curitiba

por Fatos
Em ano repleto de eventos, figuras locais contam como é viver de rock em Curitiba

Artistas, especialistas e incentivadores do Rock na capital paranaense expõem suas visões a respeito da cena e do mercado musical para quem vive de Rock na cidade, alegando vários obstáculos para os músicos locais, mesmo com a ampla cultura do gênero que a cidade possui

Por Lucas Couto

Desde a inauguração da Pedreira Paulo Leminski, em 1992, Curitiba faz parte do circuito de grandes shows de rock no Brasil. Em 2019, após a vinda de Paul Mccartney, a cidade ainda receberá outros nomes, como Bon Jovi, Scorpions e Slash.

Rádios locais, como a Mundo Livre FM e a 91 Rock, estão sempre presentes nos grandes eventos, seja promovendo festivais importantes (como o Coolritiba, no qual a Mundo Livre foi promotora) ou através de promoções exclusivas em shows como Elton John e Foo Fighters. A Mundo Livre é definida por seu coordenador Edson Jansen como ‘’mente aberta, conteúdos de qualidade e bandeiras sociais’’, e a 91 Rock possui como um diferencial ser uma webradio desde 2005. Ambas citam um objetivo em comum: o incentivo da cena musical curitibana.

Bares dedicados ao gênero também são muitos na região: o mais recentemente inaugurado é o Tork N’ Roll, maior bar de Rock da América Latina, com uma estrutura de 2800 m2 inspirada nos bares americanos, que conta com diversos serviços. Segundo o assessor executivo do local, Marcos Traad, a Casa pretende incentivar talentos locais a terem atividade em seu palco.

Entre esses talentos está Otávio Madureira (ou ‘Madu’), líder e produtor da Machete Bomb, banda conhecida por fundir Rock com gêneros distintos (o Rap e o Samba), e pelo uso de um cavaquinho com pedais (tocado por Madu) no lugar das guitarras. ‘’Não tem segredo, é só botar no ‘amp’, mas o pagodeiro e o sambista não gostam de rock, e vice-versa’’, diz o músico sobre o motivo da ideia não ter sido usada antes. Ele, porém, critica o preconceito musical: ‘‘os melhores músicos do Brasil estão no pagode. O guitarrista do Belo, por exemplo, bota qualquer metaleiro no bolso’’.

Segundo Madu, vários fatores prejudicam a cena do rock curitibano: ‘‘antes tinha Boi Mamão, Resist Control, Pinheads ,mas hoje a cena parou de acreditar nela mesma, os caras se confortaram em tocar cover porque não veem a cidade como um mercado, já o rap sempre cria algo próprio, e dominou o mercado assim’’.

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Para Madu, Curitiba demora para apoiar os artistas locais: ‘’você tem que ralar muito lá fora para ganhar uma chance por aqui’’, diz ele, que também critica a falta de união entre os próprios artistas: ‘’para o curitibano, pior que perder na mega-sena é o vizinho ganhar’’, diz ele, que já abordou o assunto em sua música ‘’Balde de Caranguejo’’.

‘’Trabalhar com música é tão chato quanto trabalhar com qualquer coisa. Eu adoro, mas enquanto um médico que se empenha muito tem o futuro garantido,um músico que se empenha mais ainda pode nunca dar certo’’, alega Madu.

Para o crítico musical Jorge Falcon, a cena precisa de uma produção mais ampla, e de um movimento como a Tropicália e o Manguebeat. Ele vê a richa entre autoral e cover como uma ‘bobagem’: ‘’a sociedade está muito bipolar, a música deveria fugir de preconceitos desnecessários. Muitos que têm uma banda autoral também participam de um cover, é difícil viver de música autoral’’.

Para Marcelus, vocalista do Motorocker, o maior desafio é resistir ao teste do tempo: ‘’com 20 anos todo mundo é músico, com 35 poucos são, e com 40 quase ninguém mais é. Não é uma vida para qualquer um, tem que matar mais de um leão por dia, mas o gosto das conquistas é maravilhoso’’, diz o roqueiro, citando um trecho de sua música ‘’Pegada Seca’’. Mesmo com as dificuldades da vida musical, o Motorocker está em atividade desde 1992.