Em Curitiba, 27 projetos ultrapassaram prazo de execução

por Helen Cristina
Em Curitiba, 27 projetos ultrapassaram prazo de execução

Fonte: PMC - Prefeitura Municipal de Curitiba

Dados da Secretaria Municipal de Obras Públicas apontam que, de abril de 2025, 23 empreendimentos somam R$523.175.060 milhões em investimentos e menos de 50% de execução física

Por Ana Paula Virgulino e Helen Cristina da Silva

Milhões de reais investidos e anos de promessas não cumpridas. Em Curitiba, a regra parece ser a mesma: grandes obras públicas avançam a passos lentos, com cronogramas estourados e desempenho físico abaixo do esperado. Um levantamento exclusivo revela que das 56 obras em andamento contratadas pela Secretaria Municipal de Obras Públicas, 11 estão com menos de 25% de execução — ou seja, 19,64% do total patina em ritmo lento. Os contratos somam R$1,14 bilhão, mas, em média, as obras apresentam apenas 48,66% de progresso, segundo dados do Painel de Obras.

Os dados foram retirados da Secretaria Municipal de Obras Públicas. A última atualização contada para esta reportagem é de 22 de abril de 2025. Embora diversas iniciativas, especialmente no setor de infraestrutura e mobilidade, tenham sido anunciadas com grande ênfase, o cumprimento desses prazos tem sido problemático, resultando em atrasos consideráveis 

Distribuição das Obras por Secretaria

Fonte: Autoras

Hoje, a Secretaria Municipal de Obras Públicas é quem mais acumula obras, com 45 projetos, que somam um investimento de R$1.141.013.233,24. A obra da Reforma e Ampliação da Escola Municipal Joana Raksa, com custo de R$2,33 milhões, iniciada em abril de 2023 e com término previsto para dezembro de 2023, mas que segue em andamento até fevereiro de 2025, apresentando um avanço físico de apenas 15,17%. Outro caso é a Implantação de Condutos Forçados em PEAD nos Rios Pinheirinho e Vila Guaira (Ficha 2961), no valor de R$19 milhões. A obra começou em abril de 2024 e, apesar da relevância para drenagem urbana e controle de enchentes, apresenta um avanço físico de apenas 3,85%, com prazo até abril de 2025, sugerindo alto risco de não cumprimento do cronograma e comprometimento da eficácia da intervenção prevista.

A ampliação da Linha Direta Inter 2 se destaca positivamente, com 84,30% já concluídos, sendo considerada estratégica para o sistema BRT da cidade. Já o projeto de habitação social na Vila Divino, apesar de sua importância para famílias em situação de vulnerabilidade, registra apenas 44,07% de progresso, mostrando um ritmo aquém da urgência habitacional.  

Em contraste, a Secretaria do Meio Ambiente contabiliza apenas cinco intervenções com o valor de R$15.118.742,85 milhões investidos. Os dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente evidenciam diferentes estágios de execução em obras voltadas à criação e revitalização de espaços públicos de lazer e áreas verdes. Um exemplo antigo é o Parque Linear do Rio Barigui – Trecho Moradias Rio Bonito, iniciado em 2015 com orçamento de R$ 6,8 milhões, cuja execução avançou apenas 20,90%, indicando um histórico de atraso significativo e provável abandono.

Há projetos mais recentes com evolução considerável, como a implantação da Praça na Rua Rosa Saporski e do Parque na Rua Reinaldo Hecke, com investimentos de R$5,1 milhões e R$2,3 milhões, respectivamente, já superando 70% de execução antes mesmo da conclusão contratual. Já a reforma da Praça Luiz Carlos Saroli – Caio Jr segue em ritmo mais lento, com apenas 39,92% de execução, enquanto a reforma da Praça Sinibaldo Trombini apresenta excelente desempenho, alcançando 96,91% de execução poucos meses após o início. Esse panorama evidencia uma diversidade no andamento das obras ambientais, com alguns projetos exemplares em eficiência e outros exigindo atenção quanto à execução e ao cumprimento dos prazos.

A Secretaria Municipal da Educação soma quatro obras no valor de R$12.737.974,78 milhões que estão implementando diversos projetos de grande relevância para a melhoria da infraestrutura educacional em Curitiba. Dentre esses projetos, destaca-se a contratação do projeto padrão Farol do Saber Tecnológico, com um investimento de R$65.000,00, que visa ampliar o acesso a tecnologias educacionais nas escolas da rede municipal. Além disso, está em andamento a construção do CMEI CIC II, com um valor de R$3.644.894,10, cuja previsão de conclusão é em junho de 2025. Outra importante iniciativa é a reforma do barracão de madeira do CMEI Novo Horizonte, localizado no Bairro Novo, com um orçamento de R$5.378.323,12, e previsão de finalização em setembro de 2025. Por fim, a ampliação da Escola Municipal Duílio Calderari, com um investimento de R$3.649.757,56, tem como objetivo aumentar a capacidade de atendimento da unidade escolar, com previsão de conclusão para maio de 2026. Esses projetos buscam não só melhorar a qualidade do ensino, mas também proporcionar melhores condições de aprendizagem para as crianças da cidade.

A Secretaria Municipal da Defesa Social e a Secretaria Municipal do Abastecimento,  que somam apenas dois projetos no período analisado de R$5.457.554,76 milhões. O panorama evidencia uma maior concentração de projetos nos setores viário e habitacional, enquanto as áreas de educação e meio ambiente apresentam um número menor de iniciativas, o que pode refletir diferentes prioridades no planejamento e na alocação de recursos públicos.

Altos investimentos

Entre as 10 maiores obras de Curitiba por valor investido, sete estão com menos de 50% de execução. Esse cenário aponta desafios na gestão das obras e no cumprimento dos prazos estabelecidos.

Com um investimento de R$163,83 milhões, as fases 1 e 2 do projeto Bairro Novo do Caximba, iniciadas em setembro de 2022, apresentam apenas 47,9% das obras concluídas até abril de 2025. O projeto previa a finalização em setembro de 2024, mas foi prorrogado para 2025. As obras incluem infraestrutura urbana e a construção de 108 unidades habitacionais, impactando diretamente as condições de moradia da população local.

A obra de infraestrutura viária no lote 3.1, iniciada em maio de 2024, conta com um investimento de R$96,29 milhões e apresenta 20,9% de execução até abril de 2025. O projeto abrange a pavimentação e drenagem em vias importantes, como a Rua José Rebelato e a Prof. Lauro Zak. Embora a obra ainda esteja no início, o ritmo de execução é considerado abaixo do esperado, o que pode afetar o cumprimento do prazo de entrega, previsto para maio de 2026.

Com início em junho de 2024 e um investimento de R$91,97 milhões, a ampliação da Linha Inter 2 (Lote 1) tem apenas 5,52% de execução até abril de 2025. As intervenções visam melhorias no corredor de ônibus, mas problemas com licitações e ajustes no projeto comprometeram o andamento da obra, inicialmente prevista para ser concluída em dezembro de 2025.

Uma exceção no cenário das grandes obras é o lote 4.1/4.2 de Infraestrutura Viária, iniciado em outubro de 2023, com um investimento de R$74,91 milhões. A obra já atingiu 92,79% de execução até abril de 2025, destacando-se por seu ritmo constante e pela ausência de grandes intercorrências, abrangendo a reforma de terminais de ônibus.

Além disso, o contrato 2 da Linha Verde Norte, iniciado em novembro de 2019, conta com um aporte de R$70,17 milhões. Com 20,09% das obras concluídas até abril de 2025, o projeto deveria ter sido finalizado em novembro de 2021, mas segue sem prazo definido para conclusão.

Outro projetos em ritmo lento

O Programa PAC Grandes Cidades, que inclui diversas obras de infraestrutura espalhadas pela cidade, teve o valor investido de R$ 17,5 milhões, com início em junho de 2018 e prazo de conclusão estabelecido para fevereiro de 2022. Embora a execução física da obra tenha avançado para 71,5%, o projeto segue com previsão de conclusão apenas para 2025, uma enorme diferença em relação ao prazo inicial, refletindo o acúmulo de obstáculos durante a execução. 

Uma obra importante que também enfrenta atrasos é a execução da infraestrutura, que inclui pavimentação, drenagem, iluminação, redes e recuperação ambiental na V. Leão A, área pertencente ao Bolsão Formosa, além da construção de 11 unidades habitacionais (U.H.) no Moradias Arroio. Com valor contratado de R$2.870.466,46, o projeto foi iniciado em novembro de 2021 e possuía a previsão de término para outubro de 2021, com apenas 64,07% da execução concluída até o momento.

A construção da nova Rua da Cidadania CIC e as intervenções no Rio Cascatinha mostram que, embora os percentuais de execução das obras se aproximem de 80% e 99% respectivamente, os prazos de conclusão foram alterados comparados ao prazo de início, com uma previsão final estendendo para o ano 2025. Esse tipo de atraso levanta questionamentos sobre o planejamento inicial e a execução dos projetos.

A falta de planejamento adequado, a burocracia e a escassez de recursos financeiros são fatores que contribuem para os atrasos nas obras. Segundo a Secretaria Municipal de Planejamento e Administração (Seplad), a tramitação legal necessária para a execução de uma obra simples, como um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), pode levar até 640 dias, o que reflete essa situação de longos prazos.

Entre as obras que ultrapassaram 640 dias desde o início até a data de 22 de abril de 2025, estão o Parque Linear do Rio Barigui – AFD Trecho Moradias Rio Bonito (Secretaria do Meio Ambiente), com 3.485 dias de atraso e 20,90% de execução; a Supervisão de Obras do PAC Grandes Cidades (BRT Norte/Sul e Linha Verde) (Secretaria de Obras Públicas), com 2.493 dias de atraso e 55,80% de execução; a Linha Verde Norte (Lote 4.1 – Estações Solar e Atuba) (Secretaria de Obras Públicas), com 1.974 dias de atraso e 5,52% de execução; a Execução de Obras da Linha Verde Norte (Lote 4.1 – Remanescente) (Secretaria de Obras Públicas), com 2.359 dias de atraso e 67,70% de execução; e a Praça Sinibaldo Trombini – Reforma (Secretaria do Meio Ambiente), com 3.500 dias de atraso e 96,91% de execução. O Parque Linear do Rio Barigui apresenta o maior atraso, com 3.485 dias, enquanto a Linha Verde Norte (Lote 4.1 – Estações Solar e Atuba) tem o menor progresso, com apenas 5,52% de execução.

Fonte: Autoras

As cinco obras com menor percentual de conclusão em Curitiba revelam um grave problema de gestão na Secretaria Municipal de Obras Públicas, especialmente em projetos estratégicos. A situação mais crítica é a da Linha Verde Norte (Lote 4.1), iniciada em novembro de 2018, que após mais de cinco anos apresenta apenas 3,85% de execução, descumprindo radicalmente seu prazo original (abril/2024). 

Outro caso emblemático é a Ampliação da Linha Inter 2 (Lote 1), que em seis meses de obras registra apenas 5,52% de avanço, apesar do investimento de R$ 91,9 milhões. Projetos recentes também já nascem com problemas: a pavimentação asfáltica nas Regionais Cajuru e Bairro Novo (Lote 02), iniciada em outubro de 2024, apresenta apenas 1,54% de conclusão em quatro meses, enquanto dois projetos de drenagem urbana (Sub-Bacia do Rio Serraria e Rio Água Verde), essenciais para prevenir enchentes, estão com 3,58% e 7,65% de execução, respectivamente, após cinco meses de obras.

Lei da transparência em obras públicas

Em 2024, a cidade de Curitiba implementou a Lei Municipal nº 16.278/2023, estabelecendo a Política de Transparência em Obras Públicas. A medida resultou na criação do Painel de Obras, uma plataforma online que oferece à população acesso a informações detalhadas sobre as obras em andamento. Entre os dados disponíveis estão o nome da empresa responsável, os projetos técnicos e os boletins de medição, além das datas de início e término estimadas.

A vereadora Vanda de Assis (PT) apresentou uma proposta para atualizar a lei, com o intuito de aprimorar ainda mais a transparência e a participação dos cidadãos. A atualização sugerida inclui a exigência de um cronograma detalhado das obras, que deve ser disponibilizado antecipadamente aos moradores afetados e atualizado periodicamente. Além disso, propõe a criação de um painel digital interativo, que permitiria a visualização das obras por meio de um mapa georreferenciado, apresentando especificações técnicas e o status atual de cada projeto. Essa atualização visa aumentar a confiança da população nas obras públicas e garantir maior controle social, tornando o processo de execução mais claro e acessível para todos. A proposta encontra-se em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba, com a expectativa de aprimorar a gestão pública e a interação entre os cidadãos e as autoridades responsáveis.

As obras em andamento e os prazos estendidos seguem sob acompanhamento dos órgãos responsáveis e da população. Com a implantação de ferramentas como o Painel de Obras e a tramitação de propostas para ampliar a transparência, a expectativa é de que mais informações fiquem disponíveis ao público com o passar do tempo. Enquanto isso, os projetos continuam em execução, e os impactos no cotidiano das regiões envolvidas permanecem como parte do cenário urbano de Curitiba.

 

Esta reportagem foi desenvolvida na disciplina de Jornalismo Investigativo do curso de Jornalismo da PUCPR. Confira outras investigações no link: www.portalcomunicare.com.br/jornalismo-investigativo

 

 

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