Empreendedores lucram com calor recorde em Curitiba

Calor intenso na capital paranaense transforma negócios sazonais em oportunidades lucrativas, enquanto especialistas destacam a necessidade de adaptação a temperaturas extremas cada vez mais frequentes
O calor extremo que fez Curitiba registrar 35,4°C em janeiro de 2024, a segunda maior temperatura em 93 anos, está movimentando negócios que antes dependiam de estações mais quentes para prosperar. Empreendedores locais comemoram o crescimento expressivo na demanda e já trabalham estratégias para se adaptar a um cenário que pode se tornar permanente.
A cidade conhecida por seu clima ameno e invernos rigorosos vive uma transformação climática acelerada. Dos seis dias mais quentes desde 1931, quatro ocorreram apenas nos últimos cinco anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Esse fenômeno, alinhado com as tendências globais de aquecimento, está alterando padrões de consumo e redefinindo as regras para diversos setores da economia local.
No Panorâmico Parque Aquático, em Pinhais, as altas temperaturas impulsionaram o faturamento em mais de 50% no primeiro semestre de 2025, comparado ao mesmo período de 2024. “Antes dependíamos de eventos sazonais para atrair público nos meses frios, com resultados incertos. Agora, as pessoas buscam o parque até em dias úteis. O calor transformou nosso modelo de negócios e hoje operamos 365 dias ao ano, com uma equipe que triplica no verão”, afirma Eriston Schypula, diretor-proprietário do empreendimento.
A empresa familiar surgiu em 1994 como um clube de campo e, em 2002, passou por uma reestruturação, tornando-se referência turística como o maior parque aquático do sul do Brasil. Com capacidade para 6 mil pessoas, o local agora recebe cerca de 4 mil visitantes, mesmo fora da temporada tradicional. “Fazemos investimentos constantes em infraestrutura, tecnologia e sistemas de gestão. Nossa temporada de alta demanda saltou de três para nove meses no ano “, destaca o Schypula.
No Passeio Público, ponto tradicional do Centro de Curitiba, o comércio informal também sente a diferença. O sorveteiro Ismair Ricardo da Costa afirma que, em 15 anos de profissão, nunca vendeu tanto quanto agora. “Antes, vendia bem só no verão. Agora, mesmo no outono e inverno, as pessoas continuam comprando sorvete e saindo de casa para passear”, comenta.
O aumento na demanda tem sido tão significativo que, mesmo trabalhando apenas aos sábados e domingos, o empreendedor fatura R$ 400 a mais por fim de semana do que dois anos atrás. “Dá para ganhar a vida agora, mesmo trabalhando só dois dias na semana. O sorvete tá fazendo parte da rotina de lazer dos curitibanos em qualquer época do ano”, afirma o vendedor.
Com Curitiba batendo recordes consecutivos de temperatura, a adaptação se tornou questão estratégica para os negócios. Segundo o economista Richer Matos, gerente de Riscos e Compliance da Fomento Paraná, o novo cenário exige planejamento financeiro e inovação.
“O empreendedor que antes ignorava variáveis climáticas agora precisa incorporá-las à sua lógica de mercado, seja diversificando produtos ou criando reservas para os meses de baixa”, afirma o economista.
Ele ressalta que, embora não haja impacto claro no PIB pois alguns setores ganham enquanto outros perdem, o calor intenso se tornou um risco real para empresas que dependiam exclusivamente das baixas temperaturas de Curitiba. “Antes, essa não era uma preocupação central. Agora, entender a sazonalidade da receita e estruturar um planejamento sólido pode ser a chave para a estabilidade no longo prazo”, avalia Matos.
Empreendedores que souberam se adaptar já colhem os frutos. Para os que ainda confiam no antigo clima curitibano, o desafio é se reinventar antes que o mercado e as altas temperaturas tornem essa escolha inevitável.

Ismair Ricardo da Costa