Empreendedorismo materno cresce no Brasil

Mulheres têm encontrado solução para unir o útil ao agradável: trabalhar e passar mais tempo com os filhos
Por Maria Cecília Zarpelon
Cada vez mais mulheres brasileiras vêm se reinventando no mercado de trabalho. É o que aponta a terceira edição do estudo Empreendedoras e seus negócios, da Rede Mulher Empreendedora, de 2018, que retrata que 75% das brasileiras abriram seus negócios após terem filhos. No mesmo ano, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) constatou pela pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que cerca de 50% das novas empresas no Brasil foram criadas por mulheres.
O cenário promissor do empreendedorismo materno no país, entretanto, é difícil de ser sustentado, segundo a empreendedora e assessora de negócios Gláucia Coutinho. A consultora relata que, pelo o que acompanha em sua empresa, 100% das mães sentem a necessidade de motivação para iniciar um negócio próprio. “Elas se sentem isoladas com a criança o dia todo em casa e começam a se auto-duvidar. Por isso precisam de alguém dando força”, afirma.
Katima Morais da Silva é mãe de três crianças e mantém uma panificadora dentro de casa. A “Home Bakery” tem uma produção caseira durante dois dias na semana para que Katima consiga conciliar a maternidade com o trabalho. Para a cozinheira, a maior vantagem do negócio é poder estar perto dos filhos e participar da criação diária. “Amo cozinhar. Não vejo desvantagens quando o negócio é bem feito, a tendência é só crescer”.
Para a fundadora do Empreendedorismo Rosa, empresa de consultoria, assessoria e mentoria para mulheres, e mãe de quatro filhos, Lênia Luz, as mulheres vão em busca de um negócio próprio por dois motivos: aumentar a qualidade de vida e passar mais tempo com o filho. Segundo a orientadora, os pontos positivos de empreender são a autonomia, a administração do tempo e a presença no dia a dia da criança. Apesar disso, Lênia alerta que é preciso de preparo e planejamento para começar um negócio pessoal. “O empreendimento é um filho que tem que ser desenvolvido, e isso exige tempo”, observa.
Além das empresas que auxiliam no desenvolvimento do empreendedorismo feminino e materno no Brasil, o Sebrae oferece cursos e consultorias para essas mulheres. O projeto “Sebrae Delas”, que teve início em março deste ano, incentiva a capacitação e rentabilidade dos empreendimentos femininos. Segundo a analista e gestora de projetos de empreendedorismo feminino e educação empreendedora do Sebrae, Jaqueline Lima, em geral, as mulheres têm muita dificuldade de empreender porque as instituições não acreditam na capacidade de gestão e gerenciamento feminina. “O projeto evidencia a relevância da mulher enquanto empreendedora e desenvolvedora da economia. O caminho está sendo trilhado com um foco específico na mulher e isso é muito legal”, comenta. O programa tem duração de dois anos e será expandido em todo o país.
Empresas ainda hesitam em contratar mulheres
Pesquisas apontam que gravidez é obstáculo para crescimento de mulheres no mercado de trabalho
Segundo a pesquisa “Mulheres e o mundo corporativo” da consultoria Robert Half, de 2016, 27% das mulheres têm dificuldade de retornar aos antigos empregos quando voltam da licença maternidade. Esse cenário se destaca ainda mais pelo estudo “Mulheres perdem trabalho após terem filhos” da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2016, que aponta uma queda instantânea no emprego das mães no final da licença maternidade.
O mercado de trabalho é um espaço pouco acolhedor para a profissional que escolhe ser mãe, segundo a fundadora do grupo M.Ã.E (Maternidade aliada ao empreendedorismo), Carmem Madrilis. “É triste ver que quando a sociedade deveria acolher a mulher que decidiu ser mãe, ela é obrigada a abrir mão do seu trabalho”. Carmem acredita que a licença maternidade é o fator que mais assusta o empregador atualmente. “Na hora que a mulher engravida, a credibilidade e a confiança entre a empresa e o colaborador começam a diminuir”, afirma.
Para a consultora da área de Recursos Humanos (RH) do Grupo Cetefe Roberta Libardi, as pequenas corporações não contratam gestantes porque com a mulher de licença, os projetos em que ela estava podem ser paralisados. “As gestantes não atrapalham o desenvolvimento da empresa, se houver planejamento e se a pessoa for uma boa profissional”.
Por outro lado, para Anna Lethicia, que voltou ao seu emprego na empresa Trackmob depois da licença, a experiência de retorno tem sido muito positiva. “Todos entendem o momento que estou passando e me ajudam na reintegração com a equipe”, relata.
Por conta da necessidade, muitas mulheres buscam o empreendedorismo como possibilidade de carreira. É o caso de Maria Cristina Bernardo, mãe de três crianças e fundadora do blog Mães Empreendedoras. Maria conta que decidiu empreender depois de ter sido demitida durante suas duas gestações. “A maternidade não é vista de forma correta, as mulheres perdem oportunidades de trabalho por se tornarem mães”, explica. A criadora de conteúdo acredita que a falta de acolhimento acaba afastando a mulher do mercado de trabalho e fazendo com que ela perca oportunidades.