Falta incentivo para jovens eleitores pensarem politicamente

Eleitores de 16 e 17 anos aumentam no Paraná, mas sentem necessidade de educação política nas escolas
Por Annelise Mariano, Gabriela Alves e Pietra Gabiatti | Foto: Pietra Gabiatti
Mais de 100 mil jovens de 16 e 17 anos fizeram o título de eleitor no Paraná em 2022 segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). Entretanto, estudantes sentem falta de uma orientação apro priada para um voto consciente nas escolas.
Apesar das reclamações dos alunos ouvidos pela reportagem, algumas escolas do Paraná realizaram fortes campanhas para o incentivo à emissão do título de eleitor. Um exemplo é a ação realizada pela Escola Judiciária Eleitoral do Paraná (EJE-PR) “Chegou a hora #EuVoto!” em 11 de abril no Colégio Estadual do Paraná. O evento orientou estudantes a tirar o próprio título nos computadores da escola. Foi divulgado que 114 alunos tiraram o título.
A professora Luciana Teixeira leciona a matéria de Filosofia e realiza em suas turmas um projeto que incentiva os alunos a terem consciência na hora de escolher em quem votar. Na atividade, ela reúne as principais propostas de cada candidato, mas omite nome e partido de cada um deles. O objetivo é que os alunos façam as escolhas baseadas no que cada um considera a melhor proposta.
Luciana diz que o que tenta mostrar para os alunos é que há necessidade de se argumentar, mas com base naquilo que a ciência comprova e no que o pensamento não contradiz. “Não é um mero achismo, não é algo que seja subjetivo que esteja em questão”, conta a professora.
O incentivo ao pensamento político é iniciativa dos professores, principalmente das disciplinas de filosofia e sociologia, que em 2019, tiveram seus cargos ameaçados pelo governo brasileiro, que sugeriu retirar verbas dos cursos.
A docente e também doutora em Educação, ainda explica sobre o temor de outros professores ao se estabelecer o debate político das candidaturas. “Alguns professores se absolvem desse aspecto, por conta da polêmica, da diversidade ou pluralidade de ideias e por não saber lidar com isso.”
O estudante Yuri Gusttavo Maciel, 17 anos, foi um dos adolescentes afetados positivamente pelas campanhas. Tirou o título de eleitor recentemente e comentou que sempre pensou na importância de exercer a cidadania. “Eu vejo que, na minha faixa etária, algumas pessoas têm um pensamento muito egocêntrico de que ‘eu não vou votar porque não vai mudar nada’, mas eu sempre pensei diferente.”
Yuri estuda na rede estadual e sente falta de incentivo da educação política no currículo de seu colégio. “Na escola, eu acho que deveríamos ter essa liberdade e o pensamento de que precisamos exercer nossa cidadania, mas infelizmente não temos muita brecha para falar sobre isso. Apenas quatro professores meus abrem para falar sobre política. É uma particularidade do professor e não iniciativa da instituição.”
Giovanna Ganem, estudante de 17 anos da rede pública, está se preparando para votar por conta própria. Ela conta que não recebeu auxílio da escola. “Estou no terceiro ano do ensino médio e, por mais que tenha eleição esse ano, não teve palestra ou professores nos incentivando a escolher um candidato conscientemente. É vergonhoso que o governo fez tanta campanha para tirar o título, mas não ensinam a usar a urna.”
Ambos os estudantes relatam não saber como utilizar as urnas eletrônicas. Giovanna diz que provavelmente procurará um tutorial na internet, e Yuri uma orientação do pai. “Não faço a menor ideia de como usar a urna. Não sei nem qual botão apertar, a gente fica muito perdido”, comenta Yuri.
Para se preparar para utilizar a urna, o governo disponibiliza um simulador de votação das quatro últimas eleições. Basta entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), clicar na seção Eleições, procurar por Urna Eletrônica e selecionar o ano em que deseja fazer a simulação.