Grupos antivacinas crescem no Brasil e preocupam agentes de saúde

Sarampo e poliomielite, doenças erradicadas, voltam a acometer a população
Por Barbara Schiontek e Paula Araujo
Grupos antivacinas se fortaleceram nos últimos anos, utilizando as redes sociais para espalhar o medo e descontentamento contra esses meios de prevenção de doenças. Tais grupos preocupam os agentes da área da saúde e parte da população, já que algumas enfermidades erradicadas no Brasil voltaram a aparecer.
A artista plástica Juliana (nome fictício) participa de um grupo antivacina no Facebook, e optou por não vacinar o filho. A artista diz que durante anos tentou curar a asma do filho, sem sucesso ela se voltou para a medicina ortomolecular, uma prática terapêutica que foca em reduzir de forma natural os radicais livres no corpo, alegando que seu filho foi curado em poucas semanas.
Juliana então começou a estudar os efeitos colaterais das vacinas, chegando à conclusão de que a asma do filho, provavelmente, era causada pelas inúmeras vacinas e remédios que o menino tomava. Em sua busca, Juliana se espantou ao ver que especialistas começaram a se voltar contra as vacinas. Somado ao fato de que a artista percebeu que mesmo com as vacinas, algumas pessoas adoeceram ou faleceram, ela optou por banir tal método da vida.
A artista diz se preocupar com os metais pesados, glutamato e outras substâncias nocivas para o ser humano que incorporam o ingredientes das vacinas. “As pessoas deveriam se informar mais, porém nunca com médicos convencionais, eles desconhecem o real perigo das vacinas”, diz Juliana.
Em contrapartida, há pessoas que defendem a aplicação de todas as vacinas. A auxiliar administrativa Sabryna Andrade é uma dessas pessoas. Ela é mãe da Valentina, de dois anos, e diz vacinar a filha conforme indicado na carteirinha de vacinação, seguindo assim, a tabela de todos os medicamentos previstos ao longo dos anos.
Para a mãe, a vacina é uma forma de evitar doenças graves e fortalecer a imunidade, por esse mesmo motivo, ela crê que seja arriscado não vacinar, pois as crianças ficariam mais expostas, podendo causar a transmissão de algumas doenças. “Ela só não toma a vacina da gripe, porque tem alergia a ovo e esse é um dos componentes”, explica Sabryna.
Já o professor Altair Gabardo apresenta outras opiniões sobre o assunto. Ele se considera praticamente naturalista e, por ter estudado outros métodos, ligados à fitoterapia, acredita que a imunização se dá no cuidado com a alimentação, com o corpo e a espiritualidade. “Não sou totalmente contra a vacina, mas um povo saudável não vai precisar dela. Exceto em casos máximos, como epidemias, onde ela se torna praticamente obrigatória”.
Gabardo conta que possui um filho que atualmente está com 21 anos. De acordo com ele, apesar de ter outras crenças com relação à prática de vacinação, o filho recebeu aquelas que eram prioritárias. “Hoje ele optou por não receber mais as vacinas, nem as da gripe. Creio que se fossemos para algum outro país realizar alguma missão, por exemplo, iríamos nos precaver”.
O professor pensa que o risco da não vacinação varia de indivíduo para indivíduo. Ele cita como exemplo um local onde a situação é precária. Neste caso, a vacinação iria ajudar em alguns fatores, mas não seria a solução de todos os problemas, já que para ele a maior medida a ser tomada deve ser a educação para uma vida saudável. “Eu não priorizo a vacina, mas não faço nenhuma campanha contra a mesma”, esclarece.
Outro ponto em que acredita é o de que, algumas vezes, as campanhas se tornam um chamariz para a política, sendo mais ilustrativas do que necessárias. Portanto, acredita que a medicina preventiva e a educação para uma vida mais saudável são os principais fatores que ajudariam a população.
Médico condena a prática da não vacinação
O médico pneumologista pediatra Carlos Massignan é conciso ao ser questionado sobre pais que optam por não vacinar os filhos, alegando que é responsabilidade deles cuidar do bem estar de sua família e prevenir possíveis doenças. “Pais que não vacinam devem ser denunciados ao Conselho Tutelar, já que isso é considerado mau trato com a criança”, afirma o médico.
Há leis que preveem que as crianças possuem o direito de vacinação. O parágrafo 1º do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. E também, pelo artigo 249 do ECA, o descumprimento do calendário de imunização, que é parte dos “deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda”, sujeita o infrator a “multa de três a 20 salários mínimos”, sendo o dobro no caso de reincidência.
Ao ser questionado sobre a importância das vacinas, Massignan compara a situação ao seguro de um carro: “É caro e ninguém quer fazer, mas se acontecer um acidente você sempre se incomodara menos do que se não tivesse o seguro”. O médico afirma que ter um filho é uma enorme responsabilidade, se tornando dever dos pais cuidar e prevenir problemas futuros.
Novos casos de sarampo alertam a população
O chefe da divisão de vigilância das doenças transmissíveis de Curitiba, Renato Lopes, explica que uma das funções da vacina é o controle para evitar, e algumas vezes eliminar diversas doenças, como a poliomielite, tétano e sarampo. Lopes ainda diz que a popularidade da vacina está em baixa, já que doenças erradicadas voltam a aparecer. É o caso da sarampo, que após 18 anos sem manifestação, retornou em determinadas regiões no norte, preocupando a todos.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde de Brasília exibe números preocupantes sobre casos confirmados de sarampo, com o estado do Amazonas em primeiro lugar com 519 casos e, em segundo lugar, o estado de Roraima com 272 casos. No Brasil, já são 822 casos confirmados da doença.
Lopes conta que há fatores que causam tal cenário. O crescimento de grupos antivacina é um deles, assim como a divulgação de fake news sobre o tema e o pensamento de que como não há mais manifestação da doença por vários anos, ela não irá se manifestar novamente. Lopes afirma que o governo está utilizando a mídia para combater as notícias falsas. “Em vários locais há epidemias de algumas doenças porque as pessoas decidiram parar de receber as vacinas”, afirma o chefe da divisão.
Com relação aos pais que fazem parte de campanhas contra o método, Lopes critica dizendo que eles foram vacinados quando crianças e agora estão tirando os direitos dos seus filhos de possuírem o mesmo cuidado. “A vacina não é uma decisão isolada, ela é um bem coletivo. No momento em que me vacino estou protegendo a mim e aqueles que estão ao meu redor. É uma responsabilidade social”, finaliza Lopes.