Guerra comercial sino-americana impacta o agronegócio de Curitiba e região

Tensão comercial entre Estados Unidos e China gera novas oportunidades para o agronegócio brasileiro. Paraná se destaca entre os principais estados exportadores. Foi o terceiro estado que mais exportou em 2024
Por Emilly Vieira, Letícia Nogueira e Marina Marciniak | Foto: Emilly Vieira
A nova guerra comercial entre Estados Unidos e China pode abrir espaço para novas oportunidades no agronegócio brasileiro. Especialmente no Paraná, que foi o segundo maior produtor agrícola do país em 2024, com 12,7% da produção nacional de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O conflito teve início após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar, no início de abril de 2025, a aplicação de uma tarifa mínima de 10% sobre produtos importados.
O denominado “Dia da libertação” foi o que desencadeou a guerra comercial sino-americana, quando os produtos chineses foram taxados em 54% por Trump. A resposta de Xi Jinping, presidente da China, foi retaliar com imposto de 34% sobre os produtos estadunidenses importados. Durante o conflito, as tarifas impostas por Trump e Xi Jinping chegaram a 145% e 125%, respectivamente. No dia 12 de maio, os países entraram em acordo temporário de 90 dias, no qual as taxas foram reduzidas para 30% sobre produtos chineses e 10% sobre produtos americanos.
Em 2024, a China foi responsável por aproximadamente 80% das exportações agrícolas dos EUA, segundo dados do governo americano. Porém, com as tarifas, o país asiático deve recorrer a outros fornecedores, um deles o Brasil.
O Paraná tem grande participação no agronegócio brasileiro. O estado exportou US$16,76 bilhões em produtos agrícolas em 2022. Foi o 3° estado que mais abasteceu o mercado externo de acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento.
Dentre as cidades paranaenses com os maiores valores de exportação encontram-se Curitiba, com US$2,559 bilhões e São José dos Pinhais, com US$1,599 bilhão. Os dois principais mercados de destino das exportações são China, com 21,28% e Estados Unidos, com 7,99%.
O número de exportações tanto para o mercado estadunidense quanto para o chinês, pode sofrer um aumento. Segundo Francisco José Gouveia de Castro, economista do departamento de estudos econômicos e ambientais do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), o Paraná pode se beneficiar a curto prazo diante do cenário de realinhamento comercial.
Representantes do setor privado já conseguem perceber mudanças no comércio. Segundo Mateus Buffalo, consultor de negócios da Agrinvest Commodities — corretora que atua na exportação de soja, milho e derivados —, já se observa uma movimentação nas negociações desde o final de 2024. “Já vivemos uma realidade onde essa demanda trouxe um movimento diferente para as nossas negociações”, afirma. Ele destaca que a valorização do dólar e do prêmio internacional no início de 2025 fez com que o Brasil se tornasse uma origem mais competitiva. “Foi muito positivo para o produtor, pois tivemos uma valorização do dólar e do prêmio. Isso aumentou a demanda.”, conclui.
Para garantir que a demanda continue em alta é necessário que a safra tenha boa qualidade, o que tem ligação direta com fatores climáticos e ciclos agrícolas. “As safras brasileiras conseguiriam atender parcialmente à demanda do mercado chinês, mas depende da qualidade, pois o setor de commodities está sujeito às condições climáticas e sazonalidades”, diz o economista.
Além do quadro climático, questões de logística, sanidade e fornecimento de insumos para produção também são pontos que devem ser levados em consideração quando se trata do agronegócio. Na visão de Gouveia, o aproveitamento desse momento favorável para as exportações depende fundamentalmente de fatores econômicos e comerciais, além da necessidade de firmar acordos internacionais de forma a reduzir barreiras comerciais.
Entretanto, com a China responsável por mais de 21% das exportações Paranaenses, ampliar essa relação comercial pode trazer riscos à economia devido a volatilidade geopolítica. “A China possui políticas de subsídios locais nos setores industriais e agropecuários. Isso pode refletir negativamente nas cadeias locais de produtos paranaenses”, ressalta Francisco. Embora o cenário represente uma oportunidade para o agronegócio, é necessário planejamento estratégico para garantir ganhos sustentáveis a longo prazo.