Idosos que prestam expediente diário fazem parte do cenário de Curitiba

Spiridião Alves, engraxate há 50 anos, segue fazendo aquilo que gosta
Comunicare ouve histórias de quem está trabalhando na informalidade após a aposentadoria para complementar a renda. População sexagenária corresponde a cerca de 17% da população de Curitiba
Por Giovana Kais | Foto: Giovana Kais
No Brasil, 60% dos aposentados seguem trabalhando, segundo o Serasa. O dado não leva em conta aqueles que trabalham na informalidade, o que pode representar uma porcentagem ainda maior. Em Curitiba, idosos aposentados que prestam jornada diária de trabalho compõem a vida na capital.
Quem caminha pela Rua XV de Novembro, região de grande movimento no centro da capital paranaense, pode confirmar isso. O comerciante Luiz Carlos de 79 anos, aposentado desde 2011 diz que voltou ao mercado porque precisou. “Trabalho por necessidade e para completar o orçamento. Tudo aumenta, menos o salário”.
O aposentado é um exemplo do resultado de uma pesquisa apurada pelo Serasa, que informa que 4 a cada 10 aposentados seguem trabalhando por enfrentar algum tipo de dificuldade financeira. Ainda nesse sentido, a pesquisa aponta também que 29% dos entrevistados sentem-se felizes, 27% independentes e 22% aliviados por continuarem trabalhando.
No Paraná, em março deste ano, o número de aposentados é de 106.671 pessoas, de acordo com a Previdência do estado. Curitiba tem o crescimento mais acelerado da população sexagenária em relação à média do Brasil (de 14,69%), que correspondia a 16,93% da população curitibana em 2021, de acordo com a Prefeitura.
O engraxate Spiridião Alves, de 75 anos, atua há 50 anos e está aposentado há 7. “Além de eu gostar, ainda trabalho por necessidade.” Para ele, o trabalho não é de todo ruim. “A gente cria amizade, sabe? Ainda tem clientes que vem aqui visitar a gente e a gente fica contente.” Com um ponto de vista parecido, em uma banca de Jornais próxima à Rua XV, Marcos Manoel, de 65 anos, com aproximadamente 40 anos atrás de um balcão de uma banca, afirma que continua no mercado por disposição. “Trabalhei tanto com isso que não me vejo fazendo outra coisa. Impacta positivamente na minha qualidade de vida”.

Marcos Manoel, aposentado que segue trabalhando em sua banca
Em comum, os entrevistados para essa reportagem, além da vida profissional ativa após a aposentadoria, desempenham funções quase invisíveis no cotidiano. Além disso, relatam que a aposentadoria não é suficiente. Seja para arcar com os gastos da casa ou para comprar uma guloseima para os netos. As histórias vão de encontro com dados fornecidos pelo Governo: dos pagamentos realizados pelo INSS, 70% são equivalentes ao valor de até um salário mínimo.
O economista Lucas Dezordi avalia o sistema previdenciário brasileiro como complexo. De acordo com ele, o valor da aposentadoria não é suficiente para cobrir as despesas, porque “tem um problema muito sério na economia brasileira de padrão e qualidade de vida”.Isso porque não há eficiência da produtividade – tudo aquilo que é produzido e dividido pelo número de trabalhadores.
O especialista destaca ainda a eficiência como responsável por possibilitar salários mais altos, gerando maior poder de compra. Dezordi caracteriza o trabalho informal como complicado, a partir do momento em que deixa de garantir as necessidades básicas (INSS, décimo-terceiro e FGTS) oferecidas àqueles que trabalham com carteira assinada.
Ele diz também que a taxa de desemprego está abaixo do nível de pleno emprego. Exemplo disso é o Paraná, apresentando uma taxa de 3,3% em relação à população economicamente ativa. Apesar do cenário positivo, algumas empresas ainda enfrentam dificuldades para contratar novos funcionários, tornando a contratação de idosos vantajosa e possibilitando uma mudança no mercado de trabalho. “Eles podem contribuir bastante no que diz respeito às demandas das empresas. É uma tendência natural o mercado de trabalho estar aberto para pessoas 50+ e de mudar essa pirâmide etária, com menos jovens na base.”
Conteúdo extra:
Programa paranaense oferece suporte a idosos
De acordo com a Prefeitura de Curitiba, sabe-se que a cidade é considerada amiga dos idosos. A partir do que foi dito pelos trabalhadores entrevistados sobre a influência do valor da aposentadoria para que continuem trabalhando, é relevante ressaltar a existência do programa Paraná Amigo da Pessoa Idosa. Trata-se de um programa paranaense desenvolvido para incentivar a autonomia e a participação dos idosos na comunidade.
O programa estipula a criação de bolsas para dar suporte a idosos em situação de vulnerabilidade ou, até mesmo, para familiares cuidadores. Em 2021, na capital paranaense, a população idosa (60+) representava cerca de 16,93% dos curitibanos. Nesse sentido, a secretária estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Leandre Dal Ponte, fala a respeito do crescimento da população sexagenária na cidade. Ela destaca que, segundo IBGE, até 2030 o número de idosos ultrapassará a quantidade de crianças e jovens menores de idade. “Com esse programa, estamos nos adiantando para oferecer condições de vida melhores para os nossos idosos”.
Confira também o que os entrevistados têm a dizer a respeito da vida como trabalhadores, ainda que aposentados.