Infância enfrenta dificuldades sociais e cognitivas durante a pandemia

por Isadora Borsoi Martelli
Infância enfrenta dificuldades sociais e cognitivas durante a pandemia

Falta de socialização e excesso do uso de eletrônicos são alguns dos fatores que preocupam especialistas e pais.

Por Allanis Bahr Menuci, Isadora Martelli e Maria Eduarda Cassins.

Giovanna Godoy tem sete anos e, por conta da sua idade, tem tido dificuldades para fazer novos amigos. No entanto, a menina está numa fase em que o convívio é fundamental para estabelecer uma vida social, e a pandemia acaba se tornando um obstáculo. Além disso, a quarentena colocou impasses no desenvolvimento social e cognitivo das crianças. O pai, empreendedor Bruno Godoy, diz que percebeu a filha ficando muito mais tempo conectada aos eletrônicos e reclamando constantemente do quanto sente falta da escola e das amizades.

A situação de Giovanna e de outras crianças tem sido uma preocupação constante de psicólogos, pedagogas e pais desde o início da pandemia. De acordo com o Conselho Regional de Psicologia (CRP), o principal desafio da infância neste período são os conflitos internos das crianças pela falta de comunicação. Para o conselho, é necessário e fundamental trabalhar as emoções na infância.
Segundo as orientações publicadas no site do CRP, os pais e responsáveis têm um papel primordial em ajudar as crianças nesta fase de desenvolvimento. O Conselho também sugeriu algumas ações para tranquilizar os menores e reduzir o estresse causado pela pandemia, tais como explicar o que é o coronavírus e mostrar o motivo da mudança de rotina. Por fim, o órgão reforça a importância do diálogo familiar e de manter o contato da criança, através da internet, com amigos e familiares.

De acordo com a psicóloga Amanda Lima, o papel dos pais e/ou responsáveis é fundamental no enfrentamento dessa fase de desenvolvimento infantil, principalmente com o isolamento social. Atitudes como acolhimento, escuta e apoio emocional são cruciais para a família superar essa fase. “Essas atitudes podem contribuir para ajudar as crianças a compreenderem que há momentos difíceis que envolvem sofrimento, mas que não estão sozinhas e que os adultos estão tomando providências possíveis.” Amanda ainda ressalta que o ambiente harmônico contribui muito para o desenvolvimento infantil. Ela explica que por mais que a criança possua a capacidade para desenvolver suas potencialidades, o afeto e a boa relação com os familiares fazem parte desse processo de crescimento dessa fase da vida.

Outro fator relevante no desenvolvimento infantil é a escola. O tema é muito comentado por especialistas pelo fato de estar ocorrendo, em sua maioria, de forma remota. O tempo excessivo em aparelhos eletrônicos, as tarefas exaustivas e a falta de sociabilidade do ambiente escolar preocupam principalmente os pais. No caso de Bruno, pai da Giovanna, foi citado a aflição com a falta do ambiente escolar para o desenvolvimento da filha.

Segundo a pedagoga Rosângela Galas, o desenvolvimento escolar de crianças das séries iniciais foi um dos mais afetados no período da pandemia. Isso porque o processo de alfabetização e letramento ficou mais lento devido às dificuldades encontradas na adaptação no modelo híbrido de ensino. “Vejo que os alunos ficam perdidos no ‘tempo casa’ e acabam esquecendo o que foi ensinado por não praticarem todo o dia. Então, há uma lacuna no rendimento escolar e creio que vai ficar mais difícil alfabetizar, porque vai ser mais demorado para a criança assimilar todo o processo de aprendizagem de leitura e escrita’’.

Um dos termos mais utilizados para se referir aos efeitos da pandemia no desenvolvimento infantil é o “Estresse Tóxico”, que significa a passagem por situações atípicas de forma constante e repetida. Em uma pesquisa feita pela FioCruz, o Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, comentou sobre o impacto da Covid-19 nas crianças e jovens. “Os efeitos indiretos da COVID-19 na criança e no adolescente podem ser maiores que o número de mortes causadas pelo vírus de forma direta”.

Além disso, um estudo realizado em Shaanxi, na China, com 320 crianças e adolescentes mostrou que 36% dos participantes notaram um aumento na dependência parental durante a pandemia. Outros fatores como desatenção, preocupação elevada, problemas de sono, falta de apetite e pesadelos também foram notados. Segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo, em parceria com Harvard e com o Núcleo de Ciência pela Infância (NCPI), estabelecer rotinas e solicitar a participação em atividades domésticas, bem como interagir com as crianças, são ações que podem ajudar a reduzir os níveis de estresse.

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