Ingresso na universidade exige atenção à saúde emocional

por Mariana Gomes Santos
Ingresso na universidade exige atenção à saúde emocional

Além da depressão, jovens também relatam ansiedade e TDAH

Por Mariana Gomes | Foto: Pixabay

Tem sido comum identificar casos de depressão ou de outros transtornos emocionais entre os universitários. Especialistas dizem que isso está ligado a mudanças bruscas na rotina e cobranças com as quais os jovens não estavam acostumados até então. Numa enquete do Portal Comunicare em que 43 estudantes entrevistados dizem ter depressão, 67% afirmam ter sido diagnosticados após seu ingresso na faculdade. 

O Brasil vem liderando o ranking de depressão da América Latina, contando com 5,8% da população afetada pela doença. Além da depressão, acadêmicos entrevistados pelo Portal Comunicare também relatam sofrer com ansiedade, TDAH, transtornos alimentares e transtorno de personalidade borderline. Dados do Datafolha apontam que  jovens entre 16 e 24 anos estão entre os grupos mais afetados pela depressão, formando 56% do total. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

Pesquisa publicada na Revista Docência do Ensino Superior da Universidade de Brasília (UnB) aponta que, pelo ingresso na vida universitária ser um momento importante de transição, os altos níveis de estresse podem potencializar os transtornos psicológicos já existentes nos jovens ou até mesmo iniciar novas psicopatologias. Os pesquisadores Thaís Fragelli, mestre em Psicologia Social, e Ricardo Ramos Fragelli, doutor em Ciências Mecânicas, autores do artigo, afirmam que esse esgotamento possui importância no desenvolvimento de depressão e ansiedade. O estudo aponta que cerca de 80% dos estudantes experimentam situações estressantes diariamente durante o período universitário.

De acordo com a psicóloga pós-graduada em psicanálise Débora Bonfim, que tem entre seus pacientes uma maioria de estudantes universitários, o ingresso na universidade pode ser um gatilho para a saúde mental de seus alunos. “Por conta de todo o estresse e investimento relacionado aos estudos, a rotina corrida e essa fase muito intensa em que as pessoas se dedicam muito tempo a uma coisa, a universidade pode, sim, ser um fator agravante para o diagnóstico de depressão”, afirma. A especialista também defende que as instituições universitárias ofereçam suporte permanente aos alunos. Por outro lado, Bonfim alerta para a importância de os estudantes também buscarem atendimento externo. “Buscar um processo terapêutico para poder falar sobre tudo isso é uma maneira muito importante [de manter a saúde], e torna possível aliviar todo esse período tenso relacionado à universidade.”

Giovana Rampinelli é uma entre diversos universitários no Brasil que sofrem com depressão. Em 2017, começou o curso de Arquitetura e Urbanismo na PUCPR, migrando para a FAE em 2019. Hoje, cursa Design, também na FAE. Para ela, o ingresso na faculdade foi, além da realização de um grande objetivo, um ato de coragem. “Não sabia se ia dar certo, não sabia se era o curso que eu queria de fato. Mas eu acreditei que sim, então eu fui”, conta. “[O meu curso] não causou minha depressão, mas me deu motivos profundos o suficiente para que eu buscasse ajuda médica.”

Sabendo das dificuldades que seus alunos enfrentam ao se tratar de saúde mental, universidades de Curitiba possuem sistemas de aconselhamento psicológico para seus alunos. Na PUCPR, esse papel é do Sistema de Apoio Psicopedagógico. Os profissionais do Seap dizem trabalhar para que todas as medidas tomadas pela universidade levem em conta o bem estar dos estudantes. “Sabemos que saúde mental também é uma construção de outras rodas da vida, como cuidado com a saúde em geral”, afirma Jean Marcos Begnini, psicólogo da equipe do Seap. “Por isso, a instituição oferece diversos suportes em suas clínicas escolas para que o estudante esteja bem em todas as suas instâncias.”

Apoio em universidades

É importante que estudantes universitários que tenham sintomas de depressão ou qualquer outro transtorno mental entrem em contato com serviços de apoio psicológico da sua faculdade.

Para buscar ajuda, os alunos da PUCPR podem buscar o “Programa de Promoção da Saúde do Estudante”, onde o time do Seap oferece suporte psíquico e emocional para queixas como depressão, ansiedade, tristezas, fobia social e ideação suicida. Para entrar em contato, acesse linktr.ee/apoioaoestudantepucpr ou mande uma mensagem via WhatsApp no número (41) 99137-1014.

Outras universidades também possuem serviços de atendimento. É o caso do Serviço de Psicologia da Prae da UFPR; o Nuape da UTFPR; o Centro de Psicologia da Universidade Positivo; e o PsicoFAE, da FAE.

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