Motoristas de aplicativo em Curitiba lidam com rotina marcada pela insegurança

por Ana Vitória da Silva Leal
Motoristas de aplicativo em Curitiba lidam com rotina marcada pela insegurança

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Trabalhadores da área recorrem a medidas por fora do aplicativo para garantir segurança, como o grupo “Amigos do Guerra” que reúne mais de 15 mil motoristas em Curitiba

Por: Ana Vitória Leal, Gabriela Amorim e Letícia Coelho | Imagem: Gabriela Amorim e Letícia Coelho

Motoristas de aplicativo em Curitiba enfrentam diariamente desafios significativos relacionados à segurança no trabalho. Além dos riscos inerentes ao trânsito, como acidentes, esses profissionais lidam diariamente com ameaças e intimidações. A Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) estima que existam cerca de 17 mil motoristas cadastrados oficialmente na cidade.

O motorista Eduardo Vinícius, que trabalha como Uber há um ano, relata que já se sentiu ameaçado ao cancelar a corrida de um passageiro que se recusou a pagar e reagiu com violência, além de ter tirado fotos do carro ao sair. “O aplicativo oferece um treinamento básico, mas muito superficial, sobre como lidar com situações de risco. Eu gostaria de apoio na segurança, com câmeras profissionais, e que a prefeitura incentive um app regional, para que não ficássemos reféns das altas taxas que a Uber cobra”, afirma. Além disso, motoristas não têm acesso à foto dos usuários e baseiam-se apenas na nota e no local de embarque para avaliar possíveis riscos.

O treinamento oferecido pela plataforma, além de ser vago, não é obrigatório. Consiste em uma orientação básica sobre boas práticas no trânsito e mostra as opções de segurança existentes dentro do aplicativo, com o intuito de conscientizar o motorista, mas sem trazer soluções relevantes. Alexandre Pedreira, motorista de aplicativo há 4 anos, conta que não sabia da existência desse treinamento. “Eu apenas sei que tem como acionar o suporte da uber dentro do aplicativo”, diz.

Muitos motoristas preferem corridas no particular, fora da plataforma – mesmo correndo riscos de segurança – para evitar as altas taxas cobradas pela Uber, que podem chegar a 40% do valor da corrida. Curitiba é a terceira pior entre 10 capitais em relação à renda média de motoristas de aplicativo, de acordo com dados do aplicativo StopLub. O salário médio de um motorista de aplicativo, por mês, é de R$1.888,24, com 56 horas por semana. – muito bom até aqui.

A segurança dos motoristas de aplicativo em Curitiba tem se tornado uma preocupação constante diante do aumento de casos de violência durante as corridas. Segundo Leonardo Lopes, agente da Polícia Judiciária da Polícia Civil há 12 anos, os crimes mais comuns enfrentados por esses profissionais são assaltos à mão armada, agressões físicas, ameaças por parte de passageiros e, no caso das motoristas mulheres, assédio e intimidação. “Esses crimes ocorrem em toda a cidade, mas bairros como CIC, Sítio Cercado, Centro e Tatuquara apresentam uma maior incidência”, afirma Lopes.

Diante disso, muitos motoristas recorrem a sistemas de segurança alternativos como grupos e associações com outros trabalhadores da área. O maior movimento em Curitiba e região é o “Amigos do Guerra”, que compõe mais de 15 mil motoristas, e tem como objetivo proteger esses trabalhadores e criar uma rede de apoio. Eles se comunicam através de aplicativos com localização e ligação. São identificados nas ruas através do adesivo no carro com a escrita “Amigos do Guerra”.

Lopes destaca que a escalada da violência revela falhas estruturais na segurança pública e na proteção dos motoristas. “Esses crimes mostram a fragilidade de quem usa as plataformas, sem garantias reais de proteção”. Segundo o agente, as investigações são dificultadas pelo uso de dados falsos por criminosos, o que atrasa a identificação dos suspeitos, especialmente em casos de roubo de veículos. As plataformas podem ser responsabilizadas pela falta de mecanismos eficazes de segurança.

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