No inverno, ONGs se preparam para auxiliar pessoas em situação de rua

por Julia Barossi
No inverno, ONGs se preparam para auxiliar pessoas em situação de rua

Com o frio se aproximando, projetos e ONGs se mobilizam para ajudar pessoas que moram na rua

Por Julia Barossi, Isabella Elias e Bruna Pelegrini | Foto: Julia Barossi

No último inverno, em 2021, a prefeitura de Curitiba alegou que todas as noites sobravam leitos da Fundação de Ação Social. Com a estação fria se aproximando, voluntários de projetos sociais se organizam para que pessoas em situação de rua não passem por tantas necessidades. 

 

Nos últimos anos, os invernos têm sido cada vez mais rigorosos, batendo recordes de temperaturas baixas e chegando até mesmo a ter episódios de neve na região sul do Brasil e países que fazem fronteira. Além disso, a estação mais fria tem iniciado antes do esperado, segundo indica a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), tendo início em meados de março e abril. 

 

No final de 2021, o número de pessoas em situação de rua em Curitiba era de 9.653, segundo dados do Cadastro Único para programas sociais. Esse número se agravou nos últimos anos pela pandemia.

 

Com muita fome e sede, Josué (nome fictício, a pedido do entrevistado), refugiado da Venezuela, contou sobre suas dificuldades. “Estou aqui na rua, com os meus pertences [sacos de lixo com algumas roupas e coberta]. É muito difícil, sabe? Vim da Venezuela procurar uma condição melhor, mas também é muito complicado”, diz, enquanto come um pão de queijo. “Tenho poucas coisas comigo, e esse lugar [FAS] não tem quase nenhuma segurança… se eu perder minhas roupas, eu fico com o quê?”

 

Segundo a assistente social Márcia Nagata, as instituições de acolhimento estabelecem regras de funcionamento e de convivência. “A convivência forçada pelos espaços coletivos e a proximidade das camas são pretextos para a recusa”. 

 

As assistências dadas por instituições governamentais ou sociais retardam o fim dessas situações. Ainda segundo Márcia, os lugares que oferecem apoio não têm recursos necessários o suficiente. “É necessário a atuação intersetorial dos diferentes órgãos governamentais em conjunto com a sociedade civil para modificar o atual cenário da pessoa.”

 

As ONGs em Curitiba auxiliam as pessoas em situação de rua, dando apoio com alimentos e roupas, a partir de doações. A voluntária da ONG Rango de Rua Gabriela Alves comenta a partir da sua experiência nas ruas que muitas pessoas reclamam do atendimento de descaso que recebem nos abrigos da FAS. “Elas acabam preferindo ir para as ruas.”

 

Em busca de amenizar o frio, doações de cobertores e roupas quentes são distribuídas semanalmente por diversas instituições voltadas para esse público. Porém, as temperaturas baixas não são as únicas dificuldades enfrentadas nessa época. “No geral temos mais voluntários quando o clima está agradável, e menos voluntários nos invernos fortes de Curitiba”, comenta Gabriela. A falta de recursos também atrapalha a continuidade do projeto.

 

No último ano, os termômetros da capital paranaense chegaram a marcar -6,5ºC, a mais baixa desde 2013. Em 2022, devido ao fenômeno ‘La niña’, o outono foi de pouca chuva e frio mais intenso do que acontece normalmente. A previsão para o inverno curitibano não será muito diferente, com ar frio e seco, pouca chuva, muito nevoeiro e alguns veranicos. Os dias mais gelados serão durante a segunda quinzena de maio e junho.