“Núcleo Periférico” fecha as portas após ordem de despejo no Centro

por Letícia Coelho
“Núcleo Periférico” fecha as portas após ordem de despejo no Centro

Projeto social destinado a moradores de rua fecha a sede no centro de Curitiba, mas continua parcialmente em atividade

Por Leticia Coelho | Foto: Leticia Coelho

Criado em 2013 pelo deputado estadual Renato Freitas, o Centro Cultural Núcleo Periférico sofreu ordem de despejo após três anos de sede no centro de Curitiba. O espaço oferecia majoritariamente atendimento à população de rua, dependentes químicos, pessoas marginalizadas, imigrantes e pessoas em vulnerabilidade no geral, proporcionando atividades e profissionalização.

Em outubro de 2024, o projeto recebeu uma ordem de desocupação, mesmo com os pagamentos em dia. A imobiliária responsável  impôs 30 dias para desabrigar o local. Desde então, o núcleo deixou de preparar refeições diárias e ajudar na regularização de imigrantes na capital paranaense.

Renato Freitas, criador do projeto, afirma que lojistas locais fizeram um abaixo-assinado para fechar o espaço, liderado pelo dono de uma loja de couros localizada na rua em que era o centro cultural. Apesar da acusação, o empresário não quis se manifestar quando procurado pela reportagem. O deputado ainda afirma que era de interesse político o fechamento do núcleo.

História do Centro Cultural

O núcleo periférico surgiu em meio a manifestações sociais que ocorreram em 2013 voltadas para pessoas marginalizadas, com objetivo de lutar por moradia e fim de despejos na Vila Joanita. Após uma manifestação, a COHAB (Companhia de Habitação Popular) visitou a região, o que interrompeu os despejos. Esse movimento estabeleceu oficialmente o projeto. “Levamos a mesma lógica das manifestações que ocorriam no centro para a periferia com objetivos mais concretos e populares, e assim nasceu o núcleo periférico”, relembra Freitas. 

A primeira sede foi aberta em 2019 na Vila Leonice, com atividades voltadas para jovens, como xadrez, boxe e reforço escolar. A sede foi fechada e só abriu novamente em 2022, porém no Centro de Curitiba. Nesse novo espaço, no seu auge, eram atendidas 600 pessoas por dia, com café da manhã e almoço. Além disso, cursos de corte e costura, padaria, aulas  de capoeira são algumas das atividades que eram oferecidas à população vulnerável com objetivo de profissionalização e inserção dos indivíduos na sociedade.

O trabalhador informal Peter Pereira, de 26 anos, morou na rua antes de conhecer o Núcleo Periférico. Ele ressalta a importância do núcleo na recuperação de pessoas em situação de rua. “Recuperei a auto estima. O núcleo periférico me levantou, me tirou da rua e  me ajudou a arrumar um trabalho. Eles mudaram a minha vida através desse projeto, mas sei que não só a minha mas a de muita gente. As pessoas acham que a causa morreu porque a sede fechou, mas não morreu.” 

Renato Freitas afirma que eram únicos no que faziam e nunca tiveram apoio da prefeitura. “Não fizemos ‘come e vaza’. Era diferente. A pessoa chegava às 8 horas da manhã no nosso projeto e saía às 19h. Dormiam, comiam, faziam aula de capoeira, consultavam com o jurídico, tinham acompanhamento com psicólogo e a assistente social ajudava a encaminhar pessoas para os trabalhos.” Ele define o projeto como um programa de permanência e convívio. “Mudamos a vida das pessoas.” 

A organização do Centro Cultural Núcleo Periférico, apesar de estar sem sede, continua parcialmente em funcionamento, recebendo e doando alimentos, oferecendo aulas de cinema e curso de corte e costura, que acontecem na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. No local, são confeccionadas camisetas do projeto que são vendidas pelo instagram para arrecadação de fundos, assim como o site do núcleo “apoia-se” em que são feitas doações. 

Os coordenadores do núcleo estão na procura de um novo local para a sede principal. Em Cascavel e Londrina está programada a inauguração de dois Centros Culturais Núcleo Periférico no meio do ano de 2025. Apesar de estarem sem sede principal em Curitiba, no bairro CIC começará a ser construída um novo núcleo para atender a vila local. 

Confira o mapa com as sedes do Núcleo Periférico

Veja mais sobre como ajudar o centro cultural:

Mapa Núcleo Periférico – Google My Maps

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