Os ataques de Bolsonaro contra a mídia e o seu impacto no jornalismo curitibano

por Helene Mendes da Rocha Loureiro
Os ataques de Bolsonaro contra a mídia e o seu impacto no jornalismo curitibano

Brasilia DF 15 01 2020 O presidente Jair Bolsonaro fala à imprensa no palácio da Alvorada foto José Cruz/Agência Brasil

Com o recorde de 580 ataques à liberdade de imprensa em 2020, Bolsonaro lidera o posto de descredibilização da mídia nacional

Helene Mendes

 

Os ataques por parte do governo não são de agora. Os casos vão de censuras indiretas até demissões de cargos no meio da imprensa. Até jornalistas curitibanos sofreram perseguições por criticarem a gestão do presidente Jair Bolsonaro.

Entre as agressões estão ofensas virtuais, físicas, censuras, intimidações, ameaças e até assédios judiciais. O Presidente é conhecido pelos seus discursos agressivos e diretos sobre a mídia, a pandemia e a política. Também tem o costume de ameaçar os repórteres que fazem perguntas que o incomodam.

‘‘Sou ser humano, desço o cacete mesmo’’, diz Bolsonaro ao ser criticado sobre os ataques a imprensa em entrevista do programa Brasil Urgente, da TV Band.

Rogerio Galindo, um dos fundadores do jornal Plural, comenta sobre seu caso de demissão à Gazeta do Povo, após opiniões divergentes com o veículo.

‘‘Trabalhei na Gazeta por 18 anos (…) nas eleições de 2018, eles decidiram que ficariam ao lado do candidato Jair Bolsonaro no segundo turno. Me opus. Não podia aceitar isso, deixei isso claro e escrevi sobre no meu blog. O resultado, fui demitido. Segundo eles, não por isso, mas obviamente foi. Não existe ditadura com impressa livre e não existe impressa calada em uma democracia, as duas coisas não andam de mão dadas’’, comenta Galindo.

Para a jornalista e sócia na Zigg Comunicação, Talita Vanso, ataques à imprensa por qualquer tipo de governo é um ato insano e contra todo ser humano que tem o direito à informação.

“Sempre que um governo não atua de forma condizente ao seu cargo, é papel da imprensa apurar e informar tais condições. Desta forma, sim, os ataques aos jornalistas sempre existiram na tentativa de encobrir tais atuações”.

A região Sul é onde se vê mais apoio no país. Com 39% de validação, a metrópole de Curitiba aponta que 42% acreditam que o governo atual é “Bom/Ótimo”, outros 21% disseram ser regular e 35% opinaram como “Ruim/Péssimo”. Os dados são da pesquisa Ibope/RPC.

 

Apesar de Curitiba ser um dos maiores centros de apoio ao governo, é normal se ver manifestações nas ruas. Em outubro de 2020, grupos ‘antifas’ se reuniram na Praça Santos Andrade, convocado nas redes sociais com a #somosdemocracia. O grupo estendeu faixas com as cores dos times da capital e mensagens contra o governo nas escadarias do prédio histórico da UFPR.

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) divulgou dados sobre as agressões em que 30,17% dos casos foram feitos pelo próprio presidente. Nisso, também estão envolvidos 145 ataques genéricos a veículos de comunicação; 26 casos de injúrias verbais; um caso de intimidação direta a jornalistas; e dois ataques à Fenaj.

O jornalista Felippe Aníbal afirma que as rusgas de governantes com a imprensa sempre existiram, mas que atualmente isso foi elevado. ‘‘A gente nunca assistiu a uma demonização da imprensa dessa forma a partir de critério tão subjetivos, como também um presidente com tamanho desapreço pela democracia e pelo papel da imprensa.’’

Aníbal completa dizendo que não se sente surpreso: ‘‘Por tudo que o presidente mostrou ao longo de sua campanha, era natural que ele levasse o tom com relação à imprensa, e que tentasse desqualificar não só o trabalho dos jornalistas, mas como também outras instituições democráticas.”

Na lista de ataques, o primeiro que aparece com maior força é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com 208 discursos de ódio, logo em seguida o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com 89, e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), com 69. Também aparecem outras pessoas relacionadas ao presidente, como os ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Ricardo Salles (Meio Ambiente).

Segundo a organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF), o comportamento agressivo de Bolsonaro com a imprensa afeta também em um outro estudo. O Brasil caiu cinco posições no ranking mundial da liberdade de imprensa, da 102ª colocação em 2018 para a 107ª em 2020, a pior do país desde que a lista foi criada, em 2002.