Passageiros denunciam situação precária do transporte público de São José dos Pinhais

por Ricardo de Siqueira
Passageiros denunciam situação precária do transporte público de São José dos Pinhais

Usuários sofrem com estrutura do Terminal Central da cidade, que atende cerca de 25 mil passageiros por dia; Governo pretende construir  novo terminal

Por: Emilly Kauana Alves, Milena Bilino e Ricardo de Siqueira 

A falta de infraestrutura e a situação precária do terminal central de São José dos Pinhais vêm trazendo transtornos para os usuários e passageiros, que também questionam o modelo de integração das linhas urbanas da cidade com as linhas metropolitanas, principalmente as que levam à Curitiba. O Governo do Estado anunciou que as obras de um novo terminal já começaram, com prazo de entrega para junho de 2024. Este novo substituirá outro terminal já existente. 

Nos últimos anos, a insatisfação dos passageiros com o terminal vem crescendo por conta da má estrutura que o local fornece aos usuários. Banheiros sujos, animais soltos que ameaçam atacar passageiros e áreas inutilizadas são algumas das queixas mais recorrentes. Caso o passageiro não possua o Cartão VEM (principal cartão transporte da cidade) e queira fazer uso do banheiro, necessitará procurar algum fiscal ou, até mesmo, um motorista para liberar a entrada, dificultando a acessibilidade aos usuários. 

A passageira Maria Eduarda Celestino relata a dificuldade que possui ao ter que utilizar o banheiro do local, principalmente quando vem acompanhada da filha pequena. Ela reclama da situação do fraldário, que não é favorável ao uso: 

“Parece um banheiro de escola. Além de não ter sabonete, as portas não possuem trancas. Precisa segurar com os pés ou com as mãos. Sem contar os jovens que utilizam o local para fazerem o uso de entorpecentes.”

A professora também diz que, apesar de o usuário só poder ter acesso ao banheiro com o Cartão VEM, não acha essa medida muito eficiente e segura, já que qualquer pessoa pode acabar encontrando ou utilizando o cartão de um passageiro e utilizar o espaço para o consumo de entorpecentes.  

Por outro lado, para um funcionário que trabalha no local e não quis ser identificado, a estrutura é regular. Porém, ele afirma que há  falta de cuidado na área, onde relata que, além do uso de drogas e outras substâncias, importunações e atos impróprios são recorrentes, principalmente à noite.

Além do risco que atinge os usuários do transporte público, os motoristas também acabam sofrendo com as consequências da estrutura do terminal. No dia 4 de agosto, ocorreu um acidente no local envolvendo dois veículos. Ao todo, sete pessoas ficaram feridas, sendo um motorista e seis passageiros. Os ônibus faziam parte da Auto Aviação Sanjotur, a principal empresa de transporte público da cidade.

Passageiros também reclamam da integração com Curitiba e Região

Os problemas na estrutura do terminal influenciam também na integração com a capital paranaense e outras cidades da região, pois a área de embarque e desembarque dos ônibus intermunicipais é separada por catracas, dificultando o acesso dos passageiros. Os usuários das linhas urbanas e rurais da cidade desembarcam no lado “livre” do terminal e, para acessar o lado com integração, precisam pagar uma valor adicional de R$ 0,30, chamado de “complementação de tarifa”. A integração será válida até 60 minutos, desde que o passageiro tenha o Cartão VEM.

No caso de pessoas que não possuem o VEM, a tarifa cobrada é de R$ 6, que, somada ao preço da passagem para uma linha metropolitana (mesma taxa das linhas municipais sem o cartão), totaliza R$ 12. O terminal possui alguns guardas próximos ao local das catracas de integração, pois alguns espaços próximos que são abertos facilitam a entrada de pessoas sem pagar a tarifa. 

Para a passageira Ana Luiza Matoso, falta empatia com quem utiliza o transporte público todos os dias. Ela também aponta para a necessidade de modernização do terminal:

“É uma situação bem complicada. Enquanto outros terminais se modernizam, parece que o daqui só regride. Além de eu pagar caro na tarifa, gasto o dobro do tempo que eu gastava anteriormente para chegar à faculdade”

A estudante de psicologia também relata a falta de acessibilidade que o local possui. Ela cita que, muitas vezes, os funcionários são mal educados e não querem dar suporte a quem tem necessidades especiais, já que o mesmo não possui muitas rampas de acesso para essas pessoas.

Novo terminal está em construção

Em janeiro deste ano, o Governo Estadual assinou a ordem de serviço para a construção de um novo terminal metropolitano, que substituirá o atual terminal, localizado na Avenida Rui Barbosa. Segundo dados da prefeitura, o terminal atende mais de 25 mil usuários por dia com uma área  total de 3.178 m², sendo 1.782 m² de área coberta. Dados preliminares do Censo Demográfico 2022 mostram que a cidade ganhou 64 mil novos habitantes em 12 anos (veja aqui), aumentando significativamente a demanda da população.

A promessa é que o espaço do novo terminal seja três vezes maior, com cerca de 18.389,57 m² de área total e 5.979,12 m² de área construída. O projeto ainda prevê estacionamento, área de atividade, parque infantil, academia ao ar livre, 16 lojas e 26 plataformas de operação.

São previstos cerca de R$ 21,3 milhões de investimento, por meio da Amep (Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná). A execução da obra ficou com a Cima Engenharia e Empreendimentos Ltda., empresa vencedora da licitação aberta em 2022 (Concorrência 02/2022). As obras já se iniciaram, e o acompanhamento pode ser feito através do site da Amep (veja aqui).

A substituição do Terminal Afonso Pena por este novo promete expandir o atendimento à demanda dos usuários. Porém, quanto ao Terminal Central, ainda não há um projeto de reforma para solucionar os problemas enfrentados pela população.

O novo Terminal Afonso Pena continua a ser localizado na Avenida Rui Barbosa, a 1 Km de distância do terminal atual, conforme indica o mapa abaixo.

Outro lado

A SEMUTT (Secretaria de Urbanismo, Transporte e Trânsito) e a Prefeitura de São José dos Pinhais foram contatadas, mas, até a data de publicação da reportagem, não deram retorno.