Peça “A Palavra Escrita no Muro” traz crítica à era das rede sociais

por Isadora Picasky Deip
Peça “A Palavra Escrita no Muro” traz crítica à era das rede sociais

Falta de comunicação entre as pessoas é o foco principal do drama

Por Brunna Gabardo e Isadora Deip

A Companhia Em Jornada Sem Direção apresentou, no último sábado (6), a peça “A Palavra Escrita no Muro”, seu primeiro espetáculo, no Basement Cultural (centro cultural). A apresentação, com direção de Maria Carolina Dressler, foi um processo colaborativo entre atores e dramaturgos e contou com a contribuição do escritor Flavio Cafiero na construção do espetáculo e com  elenco composto por: Andreia Paiva, Daniel Ramos e Michelli Paim. A peça foi formulada a partir de diversos improvisos e tecida com envolvimento em todas as etapas da dramaturgia.

O enredo retrata a interrupção do cotidiano de moradores de um condomínio após serem surpreendidos com uma palavra pichada no muro do prédio. Mesmo apagando, a palavra sempre voltava a aparecer, e com isso, o condomínio fica famoso e atrai a atenção de um cineasta, que resolve registrar tudo em um documentário.

Ao longo do espetáculo, os condôminos são entrevistados pelo cineasta e questionados sobre como se sentem em relação a palavra escrita no muro e como ela alterou o dia a dia do prédio, e logo, é perceptível a mudança no comportamento dos moradores pela influência das câmeras.

Todo o mistério acerca de qual o verdadeiro significado da palavra confere a peça um caráter subjetivo. O principal objetivo é tratar da questão da incomunicabilidade no mundo atual, no qual, com o advento da internet, recebemos um excesso de informações banais  diariamente e não absorvemos nem metade do que nos é transmitido.

A companhia também procura abordar reflexões sobre o momento atual que estamos vivenciando e como as atitudes do homem afetam a sociedade. O ator Daniel Ramos aponta a violência que é retratada em uma das cenas, na qual seu personagem, em um ataque de fúria, espanca sua acompanhante, representada em cena por uma boneca. “Ele fica com raiva com o fato de ela não responder da maneira que ele quer e então a joga no chão”, evidenciando uma série de acontecimentos que ocorrem constantemente no nosso país.

Para a atriz Andreia Paiva, cada um tem uma palavra escrita no muro. “A gente se depara com o imenso vazio, que se fala, mas se fala do quê?” Isso mostra o impasse vivenciado pelos moradores, que convivem diariamente, mas não há conversa nem sintonia entres eles.

Ela declara estar adorando a experiência de participar do Festival de Teatro de Curitiba:

“A gente vê que a cidade respira o festival, respira arte. Com certeza o festival daqui é um dos melhores que já vivenciei, com um intercâmbio cultural muito grande”. A atriz menciona a interação de diversas artes e culturas, e que no momento atual, é essencial para o teatro acontecer. Também comenta a respeito do momento difícil pela qual a arte está passando em São Paulo: “Estamos sofrendo muitos cortes na cultura. Muitos artistas ficando sem espaço e muitas comunidades sem lugares para interagir.”

A companhia também realizou a mesma peça no domingo (07), com recurso de audiodescrição para deficientes visuais, trabalhando a narrativa sonora para os consumidores de meios de comunicação visual.