Pesquisador estima 200 mil endividados com apostas em Curitiba

Estudante Jaqueline de Oliveira que teve problemas com vícios em jogos de apostas.
O mercado de apostas cresceu cerca de 89% desde o último a ano. Cerca de 12% da população paranaense já apostou algum valor.
Por: Beatriz Stempinhaki | Foto por: Beatriz Stempinhaki
Apostas esportivas, conhecidas como bets, vêm gerando impactos socias e econômicos na cidade de Curitiba. Estimativas de especialistas defendem que cerca de 200 mil moradores da capital paranaense apostaram algum valor. Apenas no ano de 2024 os jogos de azar digitais movimentaram cerca de R$ 20 milhões, segundo dados da PwC Strategy& do Brasil.
O enomista Marcos Fernades Garcia afirma que esse tipo de prática pode ser perigosa. “O fato é que todo mundo que se perdeu nesses jogos já entregou tudo que tinha”.
A estimativa de 200 mil jogadores em Curitiba em 2024 foi feita por meio da análise de dados nacionais e uso de proporção por Garcia. O ponto de partida foram os dados de uma pesquisa do Datafolha, que afirma que 15% da população brasileira já colocaram seu dinheiro em sites de aposta. O economista conclui ainda dizendo que a informação desse modo não é precisa, pois seria necessário haver um mapeamento mais detalhado desses dados em Curitiba para se ter uma informação exata.
A estudante Jaqueline de Oliveira, 22 anos, relata que teve problemas sérios em relação aos vícios em jogos de aposta. “No começo, fui no embalo dos meus colegas de trabalho. Parecia um jogo quase que inofensivo, um dinheiro fácil”.
Ela conta que fez empréstimos para conseguir pagar as dívidas e devolver o dinheiro emprestado de familiares. “Na hora que eu estava jogando, nada passava na minha cabeça. O vício te deixa à deriva de qualquer preoucupação.
Um estudo publicado pelo Banco Central afirma que a maior parte dos apostadores têm entre 20 e 30 anos de idade e apostam em torno de R$ 100 por mês. Estima-se que aproximadamente 15% do total apostado fica retido nas empresas, com o restante sendo distríbuido aos ganhadores a título de prêmio.
Além do endividamento, há também questões relacionadas à saúde mental. De acordo com a médica psiquiatra, Carolina Amaral, o jogo se torna um transtorno quando tem um padrão persistente e recorrente. “Começa a levar prejuízo finaceiro e muito sofrimento psíquico”
Carolina afirma que atendeu 6 pacientes com vícios em apostas online no ano de 2025, alguns chegam a ter pensamentos suicidas.
A atendende de telemarketing Mariana Martins, 20 anos, afirma que ficou que ficou interessada em jogos de aposta após ver propagandas nas redes sociais. “Eu sabia que estava perdendo dinheiro, mas depois que você ganha uma quantia boa é difícil parar. “Eu já cheguei a apostar um salário mínino inteiro em uma única partida.”
Mariana completa dizendo que teve o apoio da mãe para parar de jogar. “Ela viu tudo o que eu estava passando. Cheguei a ficar agressiva. Não queria parar, mesmo sabendo que perdi quase R$ 7 mil”.
Marcos afirma que, com a evolução no setor de tecnologia em Curitiba, o avanço em sites de aposta está ligado a digitalização e a inovação constante das plataformas. “Não me surpreende ter pessoas incentivando essa prática do endividamento.” Ele acrescenta que gastos em apostas facilita a redução no consumo em pequenos negócios e outros setores essenciais e sufere uma regulamentação eficaz e projetos de conscientização.
A especialista em e-commerce Laura Roux, de 35 anos, teve que estabeler uma rotina e tirar o celular do seu campo de visão para conseguir se desviciar em jogos de aposta. “Meu marido desde o começo me alertou. Ele sabia o dinheiro que estava apostando. O jogo me tirava do estresse do dia a dia.” Ela revela que procurou ajuda depois de perceber estar fora do controle. “Cada vez eu queria apostar mais, porque R$ 100 já não era mais o suficiente”.
Segundo pesquisa de opinião feita pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 64% dos apostadores reconhecem que utilizam parte da renda principal para tentar a sorte; 63% afirmam que tiveram parte de sua renda comprometida com as apostas online; e 23% deixou de comprar roupa, 19% itens de mercado, 14% produtos de higiene e beleza, 11% cuidados com saúde e medicações.
Conteúde Extra
Além do prejuizo financeiro, apostas online prejudicam saúde mental de apostadores.
Investir dinheiro em sites de apostas gera sérios problemas à saúde mental e pode levar a pessoa a um estado depressivo.
A psiquiatra Carolina Amaral revela que já houve seis casos de pacientes viciados em apostas só no ano de 2025. Ainda muito menos que depressão, ansiedade e bipolaridade. “A metade chega a ter pensamentos de suicídio e 17% tenta”. Muitos mentem para esconder a gravidade, pedir empréstimo, não contar para a família ou roubar da empresa. E as consequências são casos de divórcio, perder emprego, abondonar a faculdade ou se envolver com agiota.
Inicialmente muitos começam a jogar para ganhar dinheiro. Existem crenças de que vai ser um dinheiro fácil, que vai ter um impacto muito positivo. “Posso começar só para ter o prazer do jogo. Com essa epidemia, o que eu mais tenho visto é para ganhar dinheiro, e, lógico também é um estímulo, é coloridinho, é luzinha, é sonzinho”.
O que o mantém sendo tão atrativo é quando há uma descarga grande de dopamina e de outros hormônios neurotransmissores de prazer que ocorrem quando se está jogando.
No momento da aposta, a incerteza gera uma intensa descarga de adrenalina, ativando fortemente uma região do cérebro conhecida como sistema de recompensa, a mesma área envolvida na resposta a substâncias lícitas e ilícitas, responsável por regular os estímulos prazerosos. “Alguns estudos afirmam que o momento mais prazeroso do jogo, curiosamente, não é quando eu ganho, é quando eu não sei se eu vou ganhar”. A Partir disso se inicia um ciclo.
Depressão, traços de impulsividade, bipolaridade ou faz uso do álcool. Todas essas características estão relacionadas a um perfil que tem um aspecto psicológico que está muito propenso a desenvolver o jogo patológico.
O vício em apostas entrou recentemente para o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Ele se encaixa dentro da classificação dos transtornos de aditivos e relacionados a substâncias, como o alcoolismo. Não teria diagnóstico se não afetasse nenhuma área da vida. “Vai gerar sentimentos de culpa, arrependimento, desmoralização. A pessoa se sente muito mal por ter feito tudo isso. Geralmente esse sentimento não vem no início, vem quando ela chegou num nível muito grave”.
Para encarar este vício, dois métodos são usados, cognitivo-comportamental e entrevista motivacional. A primeira tem como foco principal enfrentar as crenças da pessoa em relação ao jogo. Por exemplo: se eu jogar e ganhar, vai mudar minha vida.
A entrevista motivacional é focada no comportamento do indivíduo, com o objetivo de incentivá-lo a mudar seus hábitos. Os grupos de jogadores anônimos, por exemplo, realizam reuniões semanais que reúnem pessoas com vício em jogos de aposta. Cada relato compartilhado promove um sentimento de pertencimento, o que estimula outros participantes a se abrirem e continuarem no processo de recuperação.