Popularidade do MMA feminino cresce com ajuda de atletas brasileiras

por Marina Prata
Popularidade do MMA feminino cresce com ajuda de atletas brasileiras

Uma das precursoras do esporte para mulheres, Jéssica Andrade, venceu a luta principal de evento mundial em maio

Por Marina Prata

Em 11 de maio, o Ultimate Fighting Championship (UFC) 237, realizado no Rio de Janeiro, teve como evento principal uma luta feminina, à frente de nomes consagrados da modalidade masculina como Anderson Silva e José Aldo. A atleta brasileira e paranaense Jéssica “Bate-Estaca” Andrade venceu a norte-americana Rose Namajunas e conquistou o cinturão na categoria Peso-Palha. O UFC promove lutas femininas de Mixed Martial Arts (MMA) ou artes marciais mistas desde 2013, e a presença das mulheres nesse esporte tem se tornado cada vez mais expressiva.

O técnico de Jéssica, Gilliard “Paraná” Fagundes, acompanha a lutadora desde o ínicio da carreira, e a considera uma figura importante para a difusão do esporte entre mulheres. “Ela ter ganhado o cinturão ajudou a voltar os olhos do mundo para o MMA feminino, e isso deixou a Jéssica marcada na história”, opina.

Fagundes lidera um dos maiores times de lutadoras mulheres do mundo, entre as quais estão Jéssica e Priscila “Pedrita” Cachoeira, com outros nomes ainda por estrearem em grandes eventos. Quanto à igualdade salarial para atletas mulheres e homens, o técnico explica que o pagamento depende das negociações individuais com o evento. Porém, algumas categorias ainda são melhor remuneradas no masculino, principalmente em pesos maiores.

Maria Ribeiro, 26 anos, é lutadora profissional de MMA há quatro anos e sonha em chegar ao UFC. A atleta conta que começou a praticar Jiu-Jitsu para defesa pessoal, e decidiu se profissionalizar apesar da desaprovação da família. “Eles achavam que eu era muito magra para praticar. Eu cresci com a mentalidade de que a mulher tem que constituir família, cozinhar e cuidar do marido”, explica. No entanto, após as conquistas da atleta, que já competiu campeonatos mundiais, Maria obteve apoio dos familiares para a profissão. “Eu fui do contra. Todo mundo desaprovava e eu fiz, hoje todos são a favor e eu sou apaixonada pelo esporte”, relata.

A lutadora Thaiane Souza, 25 anos, atua profissionalmente no MMA desde 2013. Ela relata que o preconceito no esporte é constante, embora já tenha diminuído. “Sempre tem aquela piadinha como ‘nossa, você é tão delicada’. Muitas pessoas ficam surpresas com a minha profissão por eu ser pequena, como se precisasse ser um monstro para ser lutadora”, conta. Thaiane avalia que, atualmente, homens e mulheres se deparam com a mesma dificuldade para conquistar espaço, pois o MMA feminino está bem visto e há muitas aletas habilidosas. “As mulheres têm que treinar sem ter vergonha. Muitas usam a cultura do corpo nas redes sociais e são mais modelos que atletas, mas o MMA não é artifício de beleza, é um esporte”, defende a lutadora.

A procura das mulheres pelo MMA cresceu não só pelo esporte, mas como um exercício dinâmico que sai do trivial. Cristiano Marcello, técnico e fundador de uma academia em Curitiba, comenta ainda que muitas recorrem à arte marcial também como forma de defesa pessoal. “Aqui na academia o treino é o mesmo para homens e mulheres, com ressalva apenas de peso”, conta. Marcello avalia que o cenário do MMA para mulheres já é muito melhor e, embora não tenha chegado ao nível do masculino, se encaminha para isso. “O feminino tem muito gás, só precisa de tempo”, opina. Ele destaca nomes brasileiros do cenário mundial como Jéssica Andrade e Amanda Nunes como importantes para tornar o país uma “vitrine mundial de MMA feminino”.

Caio Portella, representante da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA), avalia que a participação das mulheres no esporte vem crescendo a cada ano, pois há lutas femininas em praticamente todos os eventos regulados pela Comissão. Segundo Portella, o sucesso de atletas brasileiras nos grandes eventos internacionais como UFC e Invicta contribui significativamente para esse crescimento.