Prática de docentes do Bloco Azul mantém tradição em novos espaços

Aproximadamente 127 professores adaptaram suas metodologias para preservar o ensino dos alunos afetados pelo incêndio
Por Ana Vitória Leal, Gabriela Amorim e Leticia Coelho | Foto: Gabriela Amorim e Leticia Coelho
O incêndio que atingiu o Bloco Azul da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em 15 de abril deste ano, afetou diretamente mais de 1000 estudantes da Escola de Belas Artes. Laboratórios, salas de aula e espaços culturais foram comprometidos. Apesar das perdas materiais, a situação revelou a força e a união de uma comunidade acadêmica que compartilha uma tradição pedagógica construída há mais de 60 anos. Essa tradição se baseia na colaboração entre professores e alunos, e foi essencial para enfrentar o momento de crise.
A reorganização das atividades exigiu grande esforço dos docentes, que precisaram adaptar suas práticas diante da falta de materiais específicos. Cada professor recorreu à própria experiência e abordagem autoral desenvolvida ao longo do tempo. Mesmo com limitações físicas, a continuidade do ensino foi mantida. A singularidade das práticas pedagógicas mostrou-se mais importante do que a estrutura física e foi ela que garantiu a permanência de uma formação criativa, mesmo em um cenário de transição.
O coordenador e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo Humberto Medeiros comparou o incêndio a um reinício forçado. “Foi como se tivéssemos abortado um semestre e começado do zero. Porém, em menos de 10 dias, estava todo mundo realocado.” Ele destacou que a tradição de ensino do curso vai além da infraestrutura física e está estabelecida na prática pedagógica dos docentes. Essa tradição se baseia na capacidade de adaptação e na busca por soluções criativas mesmo diante de limitações.
Dentro do prédio haviam 43 salas de aula, além de laboratórios, espaços de apoio e várias maquetes fundamentais para o aprendizado dos alunos. Após o incêndio, 10 dessas maquetes foram recuperadas e estão expostas na maquetaria. Os alunos foram remanejados para os blocos Amarelo, Laranja e Cinza, dentro do campus. A universidade forneceu computadores para as novas salas. Disciplinas como “Desenho e Projeto em Computador” foram afetadas pela falta de laboratórios de informática, mas o problema foi resolvido rapidamente com os novos aparelhos.
Humberto também ressalta que o Bloco Azul fez parte da trajetória de todas as turmas de Arquitetura, exceto a primeira. Essa turma teve aulas no Bloco Amarelo antes da construção do espaço, acompanhando, assim, o crescimento dele. Além de abrigar o curso de Arquitetura, o prédio também atendia outros nove cursos da Escola de Belas Artes e funcionava como um ponto central das atividades acadêmicas e criativas da unidade.
Juliana Fernandes, também professora de Arquitetura, conta que o curso foi o mais afetado pelo fogo, devido a maioria das aulas serem realizadas no terceiro andar do bloco, que foi completamente destruído. “Faltam pranchetas grandes para as aulas, mas estamos nos adaptando no bloco cinza”, diz. Ela observa que, mesmo nos novos espaços, os estudantes mantêm o ritmo nas atividades, o que reflete a valorização da autonomia no processo de aprendizagem.
Turmas maiores foram divididas em duas salas de modo improvisado, com mesas que não são as ideais para desenho. Ateliers de Arquitetura foram destruídos e, por enquanto, não há substituição ao redor, mas materiais, como as pranchetas, já foram disponibilizados para algumas salas. Acervos e coleções de amostras foram perdidas. Para algumas disciplinas, professores relatam que usam materiais próprios, até a chegada de novos espaço para armazená-los.
O professor de Design Paulo Zanoil destaca que o curso, por sua tradição, é de execução de projetos e resolução de problemas. Apesar da perda material do incêndio, o espírito de união e a dedicação dos professores não deixaram a didática mudar. “A perda material não afetou a forma de ensino, porque o curso e a universidade são feitos por pessoas”, afirma.
O bloco era reconhecido como um lugar de convivência e criação de projetos colaborativos, exposições e a troca entre alunos de diferentes áreas que reforçavam uma cultura acadêmica integrada. O planejamento de reconstrução está em discussão e a reforma começará em breve.
Confira as fotos das maquetes recuperadas após o incêndio